Índios doentes fazem a própria limpeza de Casa de Saúde no Amazonas

Pacientes e acompanhantes dos doentes afirmam que situação precária da Casai/Manaus piorou depois da redução do quadro de funcionários.

Elaíze Farias

Pacientes indígenas e acompanhantes que estão alojados na Casa de Saúde Indígena (Casai) em Manaus afirmam que as condições do local, que já estavam ruins, pioraram nas últimas semanas.  Mantido pelo governo federal por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), a Casai é o local onde ficam alojados os indígenas doentes deslocados de suas aldeias.

Eles denunciaram ao portal acritica.com que a redução do quadro de enfermeiros e técnicos em enfermagem está comprometendo o cronograma de aplicação de medicamentos.

Jonas Mura, 25, pai de um paciente indígena, contou que remédios que precisam ser ministrados às 20h, por exemplo, são dados apenas duas horas depois.

A redução do quadro de funcionários atingiu até mesmo o serviço de limpeza.  Na semana passada, um grupo de indígenas organizou um mutirão para retirar capim e lixo que já estaria atingindo o prédio da Casai.

“Nós mesmo é que estamos fazendo a faxina há três meses.  Estava um matagal só e tivemos que nos reunir para realizar a limpeza, porque não tem gente na Casai para fazer isso”, disse Rosinete Cocama, 38, acompanhante de dois doentes indígenas.

Alimento

Conforme os indígenas, a precariedade atinge também o fornecimento de refeição.  Nos últimos dias, almoço e jantar consistem apenas em sopa com cará-roxo (espécie de inhame) e macarrão.

O paciente César Maioruna, que foi submetido a um transplante de fígado há seis anos, denuncia também pressão por parte da coordenadora do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei), Adarcyline Rodrigues.

“Quando a gente tenta fazer reunião ou organizar uma denúncia nos jornais ela diz que vai dar nossos nomes para a Polícia Federal para que todos fiquem com medo ”, conta César.

Rosinete Cocama diz que a situação da Casai e da saúde indígena ainda é uma certeza.  Ela conta que os indígenas tinham esperança que a transferência da gestão da Fundação Nacional de Saúde (Funarte) para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).

“Até agora a gente ainda não sabe para que criaram a Sesai.  Em que melhorou a saúde indígena?  Em nada”, disse.

A queixa dos indígenas se estende também à forma do tratamento que recebem dos profissionais de saúde, que seria “hostil e grosseira”, segundo Jonas Mura.

“Eles não sabem lidar com indígena.  Não sabem que o tratamento é diferente, que a cultura e os costumes é diferente.  Quando a gente vai pedir informação, sempre estão estressados”, afirma.

A Casai é o local de alojado dos doentes indígenas que são deslocados de suas aldeias para tratamento nos hospitais públicos de Manaus.  Atualmente, há 290 alojados, entre pacientes e acompanhantes.

Voluntário

Adarcyline Rodrigues disse ao portal acrítica.com que a redução de oito para cinco funcionários de saúde na Casai de Manaus atende a um diagnóstico de atenção à saúde primária do Ministério da Saúde.

Segundo ela, a quantidade é suficiente e “cobre tranquilamente” o atendimento aos pacientes, já que a maioria das pessoas é composta por acompanhantes.  Ela negou que a redução tenha comprometido o atendimento dos doentes.

Adarcyline disse também os enfermeiros e outros 13 técnicos em enfermagem são pessoas que já possuem experiência na área de saúde indígena.

Sobre a precariedade da refeição, ela informou que, ao contrário do que afirmam os indígenas, o serviço dobrou, porque agora há – além do café, almoço e jantar – dois lanches e uma ceia.

“O que pode ocorrer é o fornecedor atrasar a entrega de alguns produtos, mas isto é alheio à nossa vontade e a gente chama atenção”, disse.

Quanto à limpeza da área externa, ela informou que tratou-se de “um trabalho voluntário dos indígenas”, após uma servidora, que é indígena, propor a atividade em troca de “lanche, cachorro-quente, bolo e refrigerante” pago por ela.  “Ela viu um determinado matinho na área externa e perguntou quem queria limpar”, disse.

Adarcyline afirmou que quatro funcionários de uma empresa terceirizada trabalham na limpeza da Casai.  O contrato, contudo, será substituído.

A coordenadora do Dsei também disse que não aceita acusação de que estaria pressionando os pacientes indígenas.  “Jamais vou colocar mordaça e fazendo pressão.  Essa acusação é irreal e improcedente.  Mas quando alguns fogem, tomam bebida alcoólica, temos que tomar providências para resguardar integridade física dos pacientes.  Temos que recorrer às instancias as seguranças das pessoas”, disse.

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=399633

 

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