Ameaçados de morte, professores e estudantes de Rondônia recebem apoio de Thiago de Mello

Altino Machado

Professores e estudantes da Universidade Federal de Rondônia (Unir), em greve há 70 dias, receberam na manhã deste sábado (19), em Porto Velho, o apoio do poeta Thiago de Mello, 85, na luta pelo afastamento do reitor Januário Amaral, que está sendo alvo de uma sindicância do Ministério da Educação em decorrência de denúncias de irregularidades administrativas.

De passagem pela capital de Rondônia, onde participa da nona edição do Festcineamazônia, um festival de cinema e vídeo, Thiago de Mello foi recebido por professores e estudantes no prédio da reitoria, no centro da cidade, que está ocupado há mais de 40 dias.

– Mais do que trazer minha palavra solidária, que é um dever meu, uma coerência com minha própria vida e minha poesia de luta, libertária, a minha vinda aqui constitui aprendizagem minha com a luta de vocês.  Eu me enriqueço.  Num momento em momento em que o Brasil padece de uma enfermidade, o “assimesmismo” – ‘fica assim mesmo’, ‘não, é assim mesmo’- vocês lutam para dizer que não pode ser assim mesmo e é preciso trabalhar na mudança do que é preciso mudar – afirmou.

Thiago de Mello disse aos estudantes que eles precisam ter a certeza de que a causa deles “está certa e que a motivação política e ideológica é a da ética”.

– O que está sendo ferido nesta universidade é o próprio espírito da universidade: o espírito ético da universidade.  Vocês estão dando essa lição ao Brasil, como os companheiros lá do Sul também, resistindo e apanhando da polícia.

Thiago de Mello recomendou que os estudantes sigam o exemplo do antropólogo e educador Darcy Ribeiro, amigo dele, com quem conviveu no exílio durante a ditadura militar.

– Dias antes de morrer, esse grande brasileiro, que sabia e se orgulhava da palavra patriota, que quer dizer amor ao povo e não à pátria, que é algo abstrato, tomou minha mão e disse: ‘Thiago, não desanima.  Faz tua parte que um dia o Brasil vai dar certo’.

O poeta amazonense contou aos estudantes que uma de suas prisões pela ditadura militar se deu após ter participado de manifestação em protesto contra o assassinato do estudante paraense Edson Luís de Lima Souto, vítima da Polícia militar durante um confronto no restaurante Calabouço, no centro do Rio de Janeiro.

Ameaças

Vários incidentes marcaram o movimento desde que a greve foi iniciada.  O professor de história Valdir Aparecido de Sousa foi preso, assim como dois alunos que distribuíam panfletos contra o reitor Januário Amaral.

Uma estudante, quando saia de casa, chegou a ser ameaçada de morte por homens encapuzados dentro de um carro.

Na quarta-feira (16), um bilhete foi deixado em vários locais da universidade e se tornou no último ato de intimidação contra professores e alunos da Unir.

Impresso em folhas no formato A4, os bilhetes foram cortados e afixados em vários locais.  Três professores receberam a mensagem:

“Não adianta contar vitória antes do tempo.  Muita água ainda pode rolar… Segue alguns nomes que podem descer na enchente do rio”.

O bilhete lista nomes de professores da Unir em Porto Velho (19), Rolim de Moura (5), Ji-Paraná (1), Ariquemes (1), além dos nomes de 13 estudantes.

http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=399064

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