SP – Um baobá para Zumbi

Terra da Gente – Josiane Giacomini Alves

Não é de hoje que um pé de baobá (Adansonia digitata L), plantado no quilombo urbano Casa de Cultura Tainã, na Vila Padre Manoel da Nóbrega, em Campinas (SP), aguarda a chance de reverberar o seu significado através da Rede Mocambos (www.mocambos.net), endereço que reúne 27 comunidades quilombolas do Brasil (12 pontos de cultura e 15 quilombos), presentes em 18 Estados (e que junto com o Ministério das Comunicações pretende implantar mais 105 telecentros). Chegou a hora. No próximo dia 13 de novembro, em comemoração antecipada do Dia da Consciência Negra (20), três mudas serão plantadas em área da Fundação Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, em Alagoas.

Na opinião de Antonio Carlos Santos Silva, o TC, coordenador do espaço Tainã e criador da Rede Mocambos, o plantio desses exemplares será um marco para a resistência negra do País. Uma muda será plantada em homenagem a Zumbi, outra para a sua companheira, Dandara, e uma terceira, em nome do poeta, político, artista plástico, jornalista, ator e diretor teatral, Abdias do Nascimento, morto este ano, um “articulador do movimento negro no Brasil e defensor da causa”, diz TC.

O projeto da Rota dos Baobás, que interligará todas as comunidades e pretende formar uma linha geográfica através desta espécie exótica, acaba de receber o Prêmio Tuxáua Cultura Viva, selecionado em 2º lugar em edital de telecultura. A partir daí, diz TC, será possível articular melhor a rede, saber onde estão e quem são as pessoas que fazem parte de cada comunidade. “Um mapa da própria rede”, diz. “A luta da Rede Mocambos é por aí. Uma sociedade que seja para todo mundo”.

Neste sábado, na Casa de Cultura Tainá, várias comunidades, de lugares como Maranhão, São Paulo (Itapeva, Brotas e Itatiba) e Rio Grande do Sul (Morro Alto e Porto Alegre), estarão reunidas para discutir as questões tecnológicas da rede (chamada de Pajelança Quilombólica Digital, que procura apoio do governo para garantir a inclusão digital das comunidades), além de fazer a Tenda dos Saberes.

Neste último caso, a intenção é mostrar que os saberes quilombolas podem ser incorporados ao cotidiano, de forma não só a manter uma tradição de há séculos, como provar que são mais adaptáveis às necessidades deles. Um exemplo, diz TC, são os tijolos de adobe (que usam apenas terra e água), técnica que será mostrada por quilombolas de Alcântara, no Maranhão, mestres nessa arte.

Além disso, será apresentado o uso de bambus nas construções. TC explica que a Tainã recebeu treinamento do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) desde junho, para fazer o tratamento certo dessa matéria-prima. Tanto que estão construindo um quiosque, a tal Tenda dos Saberes, para provar a viabilidade desta técnica em lugar das casas feitas por empreiteiras de programas como o Minha Casa, Minha Vida.

“Vamos reunir os saberes que temos para desenvolver casas”, diz TC, até para que o governo perceber que “ao invés de empreiteiras, as pessoas se apropriem dessas técnicas, enriquecendo os saberes delas”. E compara. Do jeito que as coisas são impostas, nega-se esse saber. É como “arrancar os dentes para não ter cárie”.

O trabalho da construção do quiosque de bambu e adobe poderá ser conferido neste sábado, das 8 às 18 horas, por quem quiser conhecer as técnicas. Pouco depois, será formada uma roda, onde se apresentarão a Orquestra Tambores de Aço, o Grupo Bongar (do Recife), e o Jongo Dito Ribeiro. Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público. A Casa de Cultura Tainá fica na Rua Inhambu, 645 – Vila Padre Manoel da Nóbrega – Telefone: 3228-2993.

http://eptv.globo.com/terradagente/NOT,0,0,375985,Um+baoba+para+Zumbi.aspx

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