Entre os dias 9 a 11 de outubro de 2011, foi realizada a III Assembleia do povo Xukuru-Kariri, das aldeias Fazenda Canto, Mata da Cafurna, Coité e Cafurna de Baixo. A assembleia ocorreu na aldeia Fazenda Canto, com o tema “A LUTA PELA TERRA E O BEM VIVER DO POVO XUKURU-KARIRI”, debatido em cima da portaria declaratória n° 4.033, de 15 de dezembro de 2010, que reconhece a ocupação tradicional do Povo Xukuru-Kariri.
O evento contou com a participação da coordenadora do departamento de mulheres indígenas da APOINME, Ceiça Pitaguary, Marcos Xukuru de Ororubá, Dona Zenilda, coordenador da microrregião de Pernambuco Zé de Santa, Saulo Feitosa, secretário adjunto do CIMI, que levou em pauta o tema BEM VIVER. Também esteve presente seu Antonio Celestino, pai de Maninha Xukuru, que propôs às mulheres de se criar a marcha das Maninhas. Confira o documento final:
CARTA DA III ASSEMBLEIA DO POVO XUKURU-KARIRI
Nós, representantes das aldeias Fazenda Canto, Mata da Cafurna, Coité e Cafurna de Baixo, reunidos em nossa III ASSEMBLEIA, realizada no período de 09 a 11 de outubro de 2011, na Aldeia Fazenda Canto, com o tema A LUTA PELA TERRA E O BEM VIVER DO POVO XUKURU-KARIRI: CONSTRUINDO O PROCESSO DE OCUPAÇÃO DO NOSSO TERRITÓRIO TRADICIONAL, tendo em conta a portaria declaratória nº 4.033 de 15 dezembro de 2010, que reconhece a ocupação tradicional do nosso território, refletimos sobre a melhor forma de praticarmos o usufruto coletivo de nossas terras. Para tanto, tomamos como referência os valores do bem viver de nosso povo.
Nos trabalhos em grupo foi destacada a importância dos rituais e tradições, o respeito com a MÃE NATUREZA e com os anciãos, a nossa organização sociocultural, a memória dos antepassados e a valorização de nossos saberes ancestrais. Ao longo das discussões, entendemos que a construção do bem viver implica no envolvimento de todas as instâncias organizativas do nosso povo como: a Comissão Permanente de Articulação, Mobilização e Viagens Pró-Demarcação e Homologação do Território Tradicional Xukuru–Kariri, educação escolar indígena, saúde, organização de mulheres, jovens, crianças, anciãos, lideranças e as demais pessoas das nossas comunidades, pensando e organizando um projeto de sociedade harmoniosa, participativa, solidária, justa e comprometida com a memória de luta dos nossos antepassados.
Para que isso possa se concretizar é preciso que o processo de regularização fundiária seja agilizado, por isso exigimos do governo federal a imediata indenização das benfeitorias de boa fé dos ocupantes não indígenas bem como o justo reassentamento dos pequenos ocupantes em condições dignas de habitação com infraestrutura adequada que possa lhe assegurar um padrão de vida igual ou superior ao que hoje dispõem.
Em nossa longa experiência de luta descobrimos a importância do apoio dos nossos aliados, por essa razão estiveram conosco nessa assembleia os parentes Xukuru do Ororubá de Pernambuco, Karapotó de Alagoas, Pitaguary do Ceará, Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espirito Santo, Conselho Indigenista Missionário, Universidade Federal de Alagoas, Faculdade Católica São Tomás de Aquino, Museu Téo Brandão, Centro de Pesquisa e Documentação Maninha Xukuru-Kariri, Movimento de Libertação dos Sem Terras, Fundação Nacional do Índio, e o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Alagoas Judson Cabral.
Saímos dessa assembleia ainda mais fortalecidos pelas experiências de vida partilhadas entre os presentes e inspirados pela memória de nossos guerreiros e guerreiras que já não se encontram mais em nosso meio, a exemplo do grande Pajé Miguel Selestino, Alfredo Celestino, Manoel Ricardo e Maninha Xukuru-Kariri. Permaneceremos em luta até a conquista definitiva de nossa terra.
Fazenda Canto, 11 de outubro de 2011.
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