Por Marcio Zonta, de Marabá
Ao som do ritmo paraense do carimbó e do reggae maranhense, cerca de 200 jovens iniciaram na manhã do dia 1 de outubro o Primeiro Encontro de Jovens Atingidos pela Mineração. O evento debateu sobre as interferências dos projetos de mineração na vida dos jovens dos dois Estados.
Com duração de dois dias, o evento recebeu no Centro de Formação Cabanagem, na calorosa Marabá (PA), jovens vindos de várias regiões do Pará e Maranhão, que sofrem com diversas interferências das atividades de mineração já estabelecidas, além do processo de duplicação dos trilhos, conduzidos pela Vale.
Filmes, textos e debates suscitaram nos jovens reunidos a reflexão sobre os principais problemas que os afetam diante dos chamados grandes projetos da região amazônica.
Assim, num levantamento em plenária realizada no encontro, apontaram que a juventude se encontra desmobilizada e ameaçada: “Nosso ponto de vista não é considerado pela elite política”, reclama Marcelo Barbosa da Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil.
A falta de oportunidade de emprego, lazer e atividades culturais na região também foram abordados: “Esses projetos trazem violência, aumento da prostituição e exploração sexual de crianças e adolescentes. Na cidade onde eu moro os jovens se sentem descriminados por falta de incentivo sócio-educacional, cultural e de oportunidade de trabalho” diz a jovem Maria Aparecida, de Bom Jesus das Selvas (MA).
Já os poucos jovens que conseguiram se inserir no mercado de trabalho proporcionado, sobretudo, pelos empreendimentos da Vale, disseram ser proibidos de participarem de atividades do movimento popular e se sentem constrangidos por serem obrigados a trabalhar mesmo sabendo que estão contribuindo para a degradação.
O Cenário
Para o Sociólogo e Agrônomo Raimundo Gomes Oliveira, presidente do Centro de Educação, Pesquisa e Assessoria Sindical e Popular (Cepasp) essa luta é dos jovens: “Vocês são os mais lesados, enquanto trabalhadores inseridos nesses projetos, moradores das comunidades. Vocês sofrem as consequências do déficit educacional e são vítimas principais da violência gerada pelo inchaço populacional dessas cidades”.
Segundo aponta o Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ), a cidade mais violenta do Brasil para jovens entre 18 e 29 anos é Marabá. Marabá precisaria hoje de R$ 165,44 milhões de investimentos para educação pública, segundo estimativas de estudos da empresa Diagonal Urbana.
No entanto, no Pará já funciona o programa da Vale, Estação Conhecimento, em Parauapebas, Tucumã e Marabá. Em Barbacena e Curionópolis esses projetos estão próximas de conclusão. No Maranhão, a Estação Conhecimento Vale funciona em Arari para atender os jovens, com capacidade para 1000 alunos. Sem contar o TeleSol Vale, um programa de alfabetização da mineradora, que atua em Açailândia, e Alto Alegre do Pindaré, ambas cidades do Maranhão.
“Esses cursos técnicos são amortizantes para luta da juventude. Nós não queremos só curso técnico, voltado só à atividade de mineração, que nos faça uma máquina obediente ao trabalho, mas investimentos em cursos que façam os jovens serem críticos ao seu meio circundante”, afirma o jovem Pablo Néri do assentamento Palmares, de Parauapebas.
Oliveira concorda com o jovem, “não podemos formar uma civilização da mineração, que torne as pessoas acríticas aos projetos de mineração e aos problemas gerados”, diz. A pobreza que assola as comunidades propicia um cenário favorável aos programas implantados pela Vale: “Parece algo que a mineradora faz em prol da comunidade, camuflando seus interesses reais”, alerta o sociólogo.
Em Bom Jesus das Selvas, por exemplo, conforme o último censo (2010) realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 50% da população vive com menos de R$ 70 reais por mês. “Para nós é muito difícil, qualquer dinheiro que a Vale invista aqui em Bom Jesus das Selvas é como se fosse ouro diante da pobreza de nossa população”.
A ideia que surgiu após o I Encontro de Jovens Atingidos pela Mineração é a criação de um grupo permanente de estudos sobre os impactos, ações periódicas de agitação e propaganda para alertar a população dos efeitos dos projetos de mineração, além de uma comissão de comunicação social, que faça permear pelas redes sociais informações omitidas pela grande imprensa sobre as mazelas causadas pelos grandes projetos da região amazônica.
O evento foi pensado e realizado pela Pastoral da Juventude, Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Rede Justiça nos Trilhos, Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), Movimento Debate e Ação e Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil (FEAB).
http://www.justicanostrilhos.org/nota/825