Flavia Bernardes
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Anchieta concedeu Licença Prévia, válida até setembro de 2013, para a implantação do loteamento Novo Bairro, pela Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), da Vale. O loteamento deveria abrigar as famílias dos bairros Monteiro e Chapada do A que deveriam deixar as suas casas para a construção da siderúrgica.
Entretanto, segundo o líder comunitário da Chapada do A, Josias Pereira, as 73 famílias descendentes de índios que vivem na Chapada do A não irão deixar suas casas. Eles se recusaram a deixar a região e têm o apoio do Conselho Estadual de Cultura e do Conselho Estadual de Direitos Humanos.
Segundo a condicionante imposta pela comunidade para a construção da siderúrgica na região, as famílias serão mantidas onde estão, porém, isso não impede que o complexo siderúrgico cresça em seu entorno, o que mantém a comunidade em constante estado de tensão.
Neste contexto, apenas as famílias do bairro Monteiro deverão manter a negociação com a Vale e se mudar para o novo loteamento. Já os moradores da Chapada do A estão decididos a não deixar suas terras , segundo o presidente da Associação de Moradores da Chapada do A, Josias Pereira.
Ele explicou que, após conseguirem resistir, os moradores lutam para não ficar ilhados e buscam o reconhecimento do território tradicionalmente indígena, em Anchieta, pela Fundação Nacional do Índio (Funai). Segundo as famílias, o pedido de reconhecimento é antigo, mas foi apressado após tomarem conhecimento sobre a intenção da Vale de construir uma siderúrgica na região.
Segundo a vice-presidente da Associação de Moradores da Chapada do A, Richeli Maia, a região é povoada por descendentes de indígenas que sofreram forte pressão na fase do licenciamento da Companhia Siderúrgica de Ubu (CSU), da Vale, que já possui 20% das terras do município.
Para Josias, foi uma surpresa a concessão da LP para a construção do loteamento, visto o estado de tensão que há na região. “Sabíamos que o Iema ainda não tinha concedido nada, então foi uma surpresa. Mas aqui é assim, a prefeitura dá as licenças, vende o município todo, se necessário”.
O Conselho Estadual de Cultura chegou a pedir a suspensão imediata das ações da empresa visando à aquisição de imóveis na comunidade Chapada do A, em respeito à manifestação da quase totalidade das famílias proprietárias de imóveis ali residentes, através de abaixo-assinado e plebiscito.
Algumas famílias estão na região há mais de meio século e se recusam a deixar suas terras, cobrando o compromisso da empresa com a tradição e a cultura da região.
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