O procurador Felício Pontes, do Ministério Público Federal em Belém, é a pedra no sapato dos defensores da hidrelétrica de Belo Monte, em Altamira, a mais importante obra do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Defensor de indígenas, quilombolas, ribeirinhos e populações amazônicas tradicionais, Pontes assina cinco das 11 ações civis públicas movidas contra a usina. Ele tem dito que 40% das condicionantes impostas pelo Ibama não foram cumpridas – continuam faltando postos de saúde, escolas e saneamento. O intenso fluxo migratório à região – seriam 97 mil pessoas seduzidas pela obra -, somado à explosão dos preços de imóveis e terras, e a escassez de infraestrutura, pode criar um caldo com potencial explosivo. “O caos que pode se instalar em Altamira é maior do que ocorreu em Rondônia, porque a região já é conflituosa”, diz, lembrando a confusão de março no canteiro de Jirau, no rio Madeira, e os vários assassinatos de lideranças rurais na região de Altamira. “Sem resolver esses conflitos fundiários, onde isso vai parar?”, alerta. O índice de violência em Altamira cresceu 28% de 2010 a hoje.
O impacto de uma obra com a musculatura de Belo Monte está criando novos desafios aos empreendedores. Na região que será mais impactada pelo projeto, a Volta Grande do Xingu, fazendeiros e agricultores têm obtido renda produzindo cacau combinado a árvores da floresta. Quando Belo Monte chegar, terão que sair. Segundo Pontes, o preço da indenização pelas terras não é o preço de mercado e a nova face do conflito é atual. Um estudo indica que as propriedades da área têm, em média, 53% de cobertura florestal original, mas os empreendedores não vão pagar pela madeira. “Quem não desmatou e cumpriu a legislação está sendo punido.”
Para Pontes, Belo Monte “é uma canoa furada” e o desenvolvimento da Amazônia passa por pesquisa em biotecnologia. Procurada pelo Valor para responder às críticas do procurador, a Norte Energia não quis se manifestar. A seguir, trechos da entrevista: (mais…)
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