Digníssima ministra ausente

Por Egon Heck

Indígenas aproveitam presença de representantes da Secretaria Especial de Direitos Humanos em Dourados, Mato Grosso do Sul, para enviar documentos à ministra Maria do Rosário. Nos textos, reivindicações de audiências públicas para tratar da questão indígena no estado. Na pauta, questões como demarcação de territórios tradicionais, violência contra comunidades indígenas e criminalização de lideranças.

Outro tema abordado em um dos documentos faz referência ao ataque sofrido por estudantes do povo Terena no último dia 3. Os alunos voltavam para casa quando tiveram o veículo que os tranportavam atacado, depredado e incendiado. Os indígenas repudiam o ataque e esperam que o governo tome providências para punir os culpados.

“Gostaríamos de entregar esse documento e falar com a ministra. Mas como ela não pode estar entregando à senhora esse documento.” Era grande a movimentação na escola indígena Tengatui, aldeia Jaguapiru, terra Indígena Dourados.  Uma multidão de indígenas estava recebendo seus documentos civis, nos quais consta também o nome do povo. Conforme a imprensa local, foram entregues mais de sete mil documentos. É parte do mutirão de cidadania para ao qual a ministra da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Maria do Rosário, viria. Trata-se de uma atividade ampla na qual estiveram envolvidos vários órgãos públicos.

Foram entregues os documentos para a secretária da ministra, Beatriz, que se comprometeu em entregar as reivindicações à Maria do Rosário. Um dos documentos pedia uma audiência com a ministra em Brasília, e o empenho de Maria do Rosário em agendar também audiência com outros ministros. A proposta é de uma delegação dos indígenas do Mato Grosso do Sul seguirem para a capital federal em breve.

“Em nome dos Terena também gostaríamos de entregar, um documento falando do grave atentado que sofreram nossos alunos”, disse Edson, representante dos Terena. Ao mesmo tempo, ele questionou: “gostaríamos de saber qual é o pensamento da presidente Dilma a respeito dos povos indígenas, pois nesses seis meses de seu governo não ouvimos ela pronunciar a palavra índio nenhuma vez”.

Acampamento Ta’anga Yvy

Em volta de uma acolhedora sombra de um enorme e solitário Kurupa’y (angico do campo) se espalham 27 barracos, de poucos metros quadrados cada um. É ali que a resistência acampou. Chatelin, Ambrosio e seus companheiros de luta e esperança fincaram ali os direitos sobre seu território. Voltaram ao seu tekohá no início deste mês. Receberam a solidariedade de uma comissão do Conselho da Aty Guasu e representante da Comissão Nacional de Política Indigenista.

Quando os indígenas chegaram há duas semanas os fazendeiros se ouriçaram, fecharam o local com seus potentes tratores e luxuosas camionetes, tentando intimidá-los. Logo em seguida procuraram o caminho da cooptação, oferecendo às lideranças significativas somas em dinheiro para que demovessem seus parentes a deixarem o lugar. O nhanderu Getúlio relata as três ofertas em dinheiro que recebeu e diz que a todas as ofertas as lideranças disseram que não lhes interessava o dinheiro, pois estavam lutando pela sua terra, onde viveram seus antepassados e onde viverão seus filhos.

Lideranças do acampamento levaram sua luta e solicitaram apoio e solidariedade de todos os parentes Kaiowá Guarani e Terena reunidos no 3º. Encontro de Acadêmicos Indígenas, vereadores e lideranças Kaiowá Guarani, Terena e Kadiwéu. O encontro foi promovido pelo programa Rede de Saberes, integrado por várias universidades do Mato Grosso do Sul.

No dia 19, a comissão que ficou para falar com a ministra Maria do Rosário e entregar-lhe documentos, foi antes ao acampamento da retomada do tekohá Ta’nga Yvy. Viram os mapas históricos que mostram que o local onde está o acampamento fazia parte da reserva indígena Dourados.

Ação genocida contra os Terena

Edson, representante do povo Terena, dirigiu-se à secretária da ministra de forma muito direta dizendo: “Estamos entregando à senhora um documento relatando a grave agressão aos nossos direitos com o atentado contra um ônibus com nossos estudantes. Queremos que os responsáveis sejam punidos. Também ficamos muito preocupados com o silêncio da presidente, pois não ouvimos ela dizer a palavra índio nenhuma vez nesses seis meses de mandato”.

No documento entregue, os representantes indígenas do povo Terena, juntamente com lideranças, professores e vereadores do povo Kaiowá e Guarani, reunidos no III Encontro de Acadêmicos Índios e Política Partidária, repudiam com indignação o ataque, que definem como genocida, contra os estudantes Terena, ocorrido no último dia 3.

 

http://www.cimi.org.br/?system=news&action=read&id=5640&eid=352

 

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