RJ – Comissão de Combate à Intolerância Religiosa pede a suspensão da demolição de templo para obras da TransOeste

RIO – A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR) entrou com um pedido na Justiça, no início da madrugada desta sexta-feira, para a suspensão da demolição do templo religioso Ilê Axé de Ogum e Iemanjá, que fica na Vila Harmonia, no Recreio dos Bandeirantes. No local, serão feitas obras para a construção do corredor expresso TransOeste, serviço que terá ônibus articulados e ligará Campo Grande e Santa Cruz a Barra da Tijuca. A instituição argumenta que a prefeitura não pode dar continuidade à demolição por ainda caber recurso.

Representantes e seguidores do templo estão neste momento no local fazendo uma reza e um protesto pacífico para que o imóvel, que já teve uma das paredes demolidas na quinta-feira, ontem, não venha abaixo. Segundo Mãe Dolores de Oya, secretária da Diretoria Nacional do Centro de Tradições Afro-Brasileiras (Cetrab), as máquinas da prefeitura já estão na entrada da comunidade prontas para fazer novas demolições:

– Vamos fazer nosso protesto, cozinhar nossa canjica, tocar nossos atabaques pedindo para que o templo seja preservado. A demolição, por enquanto, é arbitrária. Não sabemos se a argumentação tem base. O projeto que nós conseguimos da TransOeste não aponta nada nesta área. Se existe verbalmente, não está colocado no papel.

Nesta quinta-feira, funcionários da subprefeitura da Barra da Tijuca passaram o dia na Favela Vila Harmonia numa operação para demolir 20 residências. As famílias que moram no local resistiam a sair, e os próprios funcionários retiraram os pertences de moradores e colocaram em caminhões.

A remoção das casas deveria ter ocorrido em dezembro, mas foi suspensa por liminar obtida pela Defensoria Pública do estado no plantão do Judiciário. Na quarta-feira, a Procuradoria Geral do município conseguiu cassar a decisão em agravo a 2ª Câmara Civil do Tribunal de Justiça. Um dos motivos alegados pela prefeitura é que as casas não podem ser regularizadas por se encontrarem em área projetada para a ampliação da Avenida das Américas.

Segundo o advogado Mário Fonseca, representante da CCIR, o desembargador deu decisão monocrática sobre o caso, o que permite que haja agravo interno, quando outros dois desembargadores devem tomar conhecimento do recurso. Fonseca afirmou ainda que a intenção é pedir que nada seja demolido enquanto o agravo não terminar. Na manhã desta sexta-feira, a Defensoria Pública também deve solicitar à Justiça que as desapropriações na área sejam suspensas até a análise do agravo.

O sacerdote do candomblé Sérgio D´Ogum pede ainda respeito à fiel que está no terreiro em período de preceito, considerado um tempo sagrado no qual se faz abstenções voluntárias. Ele lembra ainda que os valores oferecidos pela prefeitura por cada imóvel da região giram em torno de R$ 10 e R$11 mil, enquanto o metro quadrado é estimado em R$ 3.200.

Também em nota, o interlocutor da Comissão, babalawo Ivanir dos Santos, disse que a preocupação é fazer com que haja igualdade entre as religiões:

“Com igrejas, houve acordos. Com centros de religiões de matrizes africanas, o tratamento, segundo o que os sacerdotes dizem, tem sido diferente. O que não pode acontecer. Sendo assim, queremos chamar atenção do prefeito para que todos sejam tratados da mesma forma”.

A prefeitura informou que até agora não recebeu nenhuma notificação que impeça a continuidade das demolições na região.

Em dezembro do ano passado, representantes de várias crenças fizeram um protesto contra a obra, que deverá demolir 50 templos, segundo a CCIR. Cerca de 20 pessoas, entre católicos, judeus, protestantes, hare-krishnas, umbandistas e espíritas se encontraram no terreiro Ilê Axé de Ogum e Yemanjá.

http://extra.globo.com/noticias/rio/comissao-de-combate-intolerancia-religiosa-pede-suspensao-da-demolicao-de-templo-para-obras-da-transoeste-1148419.html

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