Intermezzo: um trecho de Clarice Lispector, quase 50 anos mais tarde

“Eu era talvez a primeira pessoa a pisar naquele castelo no ar. Há cinco milhões de anos talvez o último troglodita tivesse olhado deste mesmo ponto, onde outrora devia ter existido uma montanha. E que depois, erosada, se tornara uma área vazia onde depois de novo se tinham erguido as cidades que por sua vez se tinham erosado. Hoje o chão é amplamente povoado por diversas raças.

De pé à janela, às vezes meus olhos descansavam no lago azul que talvez não passasse de um pedaço de céu. Mas cansava-me logo, pois o azul era feito de muita intensidade de luz. Meus olhos ofuscados iam então repousar no deserto nu e ardente, que pelo menos não tinha a dureza de uma cor. Daí a três milênios o petróleo secreto jorraria daquelas areias: o presente abria gigantescas perspectivas para um novo presente.

Por enquanto, hoje, eu vivia no silêncio daquilo que daí a três milênios, depois de erosado e de novo erguido, seria de novo escadas, guindastes, homens e construções. Eu estava vivendo a pré-história de um futuro”.

(Clarice Lispector. A Paixão segundo G.H.. 18ª ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979. p.110-1).

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Governo Mineiro comete crime ambiental

O Governo de Minas Gerais, através da Fundação Rural Mineira (Ruralminas), empreendedora da Barragem do Peão, localizada no município de São João do Paraíso, extremo norte de Minas Gerais, cometeu um grave crime ambiental e social. Em dezembro de 2010, a Ruralminas iniciou o processo de enchimento da represa sem obter a Licença de Operação (LO), sem ter cumprido todas as condicionantes definidas para a liberação da Licença de Instalação (LI) e parte dos acordos negociados com as famílias atingidas.

A Barragem do Peão atingiu diretamente 26 famílias de camponeses. Destas, 14 estão reassentadas. As terras do reassentamento não têm as mínimas condições para a agricultura e as famílias vivem de cestas básicas há três anos.

Problemas fundiários, indenizações não pagas, crianças sem escola, famílias sem acesso à saúde e assistência social são visíveis, numa clara afronta aos direitos dos atingidos. As famílias vivem sem a mínima condição de dignidade, sem recursos para comprar alimentos e pagar as contas de luz, grande parte já cortada. Problemas de ordem ambiental, como a ausência de equipe de resgate de fauna, são identificados neste projeto. A condição de miséria das famílias reassentadas é uma das mais gritantes contradições do “modelo de desenvolvimento” ali implantado. A quem serve esse modelo?
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STJ mantém condenação de mandante do assassinato de Dorothy Stang

Fonte: Agência Brasil – EBC
Link: http://www.agenciabrasil.gov.br/

A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, por 4 votos a 1, manter a condenação do mandante do assassinato da missionária Dorothy Stang.  A defesa do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, conhecido como Bida, tentava anular o julgamento na Justiça paraense que o condenou a 30 anos de prisão.

Bida foi julgado três vezes pela 2ª Vara do Tribunal do Júri de Belém (PA).  Na primeira vez, em 2007, recebeu pena de 30 anos, o que, por lei, lhe garantia automaticamente novo julgamento.  No segundo, em 2008, foi absolvido.  O Ministério Público recorreu e, em 2009, o júri do segundo julgamento foi anulado.  O terceiro julgamento ocorreu 2010 e Bida voltou a ser condenado a 30 anos de prisão.

A defesa de Bida entrou com recurso no Tribunal de Justiça do Pará (TJPA) para anular a decisão, mas o pedido não foi acolhido, o que gerou o recurso ao STJ.

Edição: Rivadavia Severo – http://www.amazonia.org.br/noticias/noticia.cfm?id=378152

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Direito dos Quilombolas é apreciado pela primeira vez na Justiça Federal do RN

O fazendeiro e agropecuarista Elias Azevedo, proprietário da Fazenda Maringá, (640ha), situada no Município de Poço Branco, Rio Grande do Norte, ingressou em 18/07/2008 com ação declaratória de nulidade (com pedido de liminar) do processo administrativo em tramitação no INCRA/RN, que trata da titulação do Território Quilombola de Acauã, direito previsto na Constituição Federal de 1988 (art. 68, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, ADCT). O processo está em andamento na 4ª Vara Federal, tendo recebido o número 0007538-95.2008.4.05.8400.

Os principais argumentos do autor foram:

  • O INCRA vem agindo numa tentativa deliberada de fazer a titulação de áreas não ocupadas por remanescentes de quilombo a qualquer custo;
  • O servidor do INCRA, na qualidade de antropólogo e, interessado em distribuir a todo custo os títulos de propriedade, coloca em dúvidas a origem da comunidade e, afirma categoricamente, que não há qualquer prova documental da existência de um quilombo em Acauã, vez que tudo partiu apenas história oral dos moradores da Acauã, que serão diretamente beneficiados com as terras; (mais…)

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Mais sobre a ação da Polícia ontem, em São Paulo

Enviado por Mônica Lima

Nosso companheiro Vinícius, assistente social, servidor público no município de SP, mestrando em Serviço Social na PUC-SP, militante do PCB e do movimento de saúde foi cruelmente espancado por cerca de 8 policiais hoje, 17/02/2011 em protesto contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, organizado por vários movimentos sociais. Está internado no Hospital do Servidor Público Municipal e fará cirurgia amanhã. As fotos elucidam o abuso feito pela polícia militar.

Solicitamos às organizações e movimentos sociais que encaminhem moções de repúdio às atitudes dos policiais militares e solidariedade ao nosso companheiro, para que tal fato seja investigado e que a polícia militar seja responsabilizada. (mais…)

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Protesto contra alta do ônibus em SP acaba em confronto com a polícia

Tropa de Choque usou bombas de efeito moral após manifestantes derrubarem barreiras em frente à Prefeitura; pelo menos 3 vereadores, 5 estudantes e 2 policiais ficaram feridos

Eduardo Roberto e Paulo Saldaña

SÃO PAULO – Cerca de 400 manifestantes que estavam concentrados em frente à sede da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, no começo da noite desta quinta-feira, 17, entraram em choque com a Guarda Civil Metropolitana (GCM) e Polícia Militar (PM). O ato, organizado pelo Movimento Passe Livre (MPL), foi em protesto contra o aumento da passagem de ônibus. (mais…)

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MPF tenta impedir exploração de petróleo na região do Parque Nacional Marinho de Abrolhos


Presidente do TRF1 liberou exploração em um raio de 50 km

O Ministério Público Federal quer levar à Corte Especial do Tribunal Regional Federal da 1ª Região decisão que autorizou a exploração e produção de petróleo num raio de 50 km do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, na Bahia. Com o argumento de evitar grave lesão à ordem e economia públicas, o presidente do TRF1 acatou pedido da Petrobras e da Agência Nacional de Petróleo e suspendeu os efeitos de medida cautelar que protegia a região.

“Não é razoável que interesses econômicos de empresas públicas ou particulares se confundam com a ordem ou economia públicas, principalmente em face da importância ambiental do santuário de Abrolhos para o Atlântico Sul”, explica o procurador regional da República Marcelo Antônio Serra Azul no agravo regimental que pede a revisão da decisão.

Ele ressalta ainda que a decisão do TRF1 pode causar graves impactos ao meio ambiente, gerando prejuízos à biodiversidade e à comunidade mundial. A região de Abrolhos é considerada área de proteção e conservação ambiental, onde as baleias jubartes, espécie em extinção, se reproduzem e onde estão diversos espécimes de fauna e flora marinhas que só existem naquela região.
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Ipea alerta para desconhecimento da biodiversidade brasileira com risco às espécies

Técnicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) constataram, por meio da análise de estudos de variabilidade genética, que há, no Brasil, desconhecimento sobre as espécies e o meio ambiente em todas as regiões, o que afeta as possibilidades de preservação de animais e plantas, inclusive os mais ameaçados.

Os dados foram divulgados ontem (17) e fazem parte do Comunicado Ipea, Série Eixos do Desenvolvimento Brasileiro, intitulado Sustentabilidade Ambiental no Brasil: Biodiversidade, Economia e Bem-Estar Humano.

O Ipea reconhece que “o conhecimento e a conservação dos biomas brasileiros têm avançado bastante nos últimos anos”, conforme constatado no capítulo que traz o levantamento dos biomas brasileiros, onde há referência ao início recente do monitoramento por satélite do desmatamento no Cerrado e na Caatinga.

Em outro trecho da publicação, os técnicos, no entanto, constatam que há um profundo desconhecimento sobre genes e espécies, o que inviabiliza a proteção. “O fato é que aproximadamente 75% das espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção não são objeto de quaisquer medidas de manejo”.
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Cientistas preparam uma reação aos argumentos ruralistas para a flexibilização do Código Florestal

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) preparam uma reação aos argumentos ruralistas para a aprovação das mudanças no Código Florestal propostas pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP).

As entidades divulgaram na última semana um resumo executivo de um estudo que deve provar cientificamente que as flexibilizações previstas no relatório de Rebelo comprometem o futuro das florestas do país. O texto foi reproduzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

Entre outros pontos, os cientistas discordam da redução da Área de Preservação Permanente (APPs) na margem de rios, da possibilidade de regularizar plantios em topos de morros e da recomposição de áreas de reserva legal com espécies exóticas.

No estudo, que deve ser divulgado na íntegra nas próximas semanas, os cientistas argumentarão que a área utilizada pela agropecuária no país pode ter a produtividade maximizada sem necessidade de novos desmatamentos, com investimentos em pesquisa e tecnologias. E que é preciso compensar as perdas ambientais provocadas pelo histórico de produção insustentável.
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Escuro no fim do túnel: ainda as hidrelétricas, artigo de Gilberto Vieira

Na lapidar afirmação “Nós queremos ser parceiros dos povos, porém eles têm de entender que tudo evolui, precisamos aproveitar o potencial que será útil para toda sociedade”, Nildo Nunes, representante da Juruena Energia, resume o nível das relações entre as empresas e os povos indígenas. Esta afirmação teria sido feita, e creio que sim, na reunião realizada em Juína, ocasião em que as empresas Juruena e Maggi Energia buscavam outra negociação com os indígenas. Assim se dá a suposta relação harmônica, da mesma forma que sojeiros querem plantar, harmonicamente, sua soja harmonicamente transgênica nas terras indígenas, usando suas harmônicas chuvas de agrotóxicos e poluindo, harmonicamente, pessoas, rios, solo e atmosfera. Tudo muito harmônico.

Na perspectiva das empresas que interessam explorar os rios para a geração de energia, no palco das negociações estão as tais compensações pela construção de pelo menos oito Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), no rio Juruena. É bom saber, que pequena, neste caso, não reflete nada em relação ao tamanho e só vendo a devastação nos canteiros de obras destas PCHs é que se vê que de pequeno nada têm.

Após acordos já firmados com os povos Rikbaktsa, Myky, Nambikwara e Enawene Nawe, em que se destinaria pelo menos R$ 1 milhão para cada povo, este novo acordo indica mais R$ 125 mil, a serem pagos em parcelas até julho.
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