Internet, meios de comunicação e redes sociais: alguns pontos e uma entrevista

Nem sempre as matérias postadas neste Blog correspondem inteiramente ao que pensamos. Quem acompanhou os posts sobre o Alemão percebeu claramente que os conflitos de idéias e posições estavam repesentados na diversidade de autores, na maioria “esquecidos”, em suas análises, de que, além do Estado e dos traficantes, havia um terceiro elemento, de todos o mais importante: a comunidade que lá vive.

Aproveito a entrevista abaixo para dar esse esclarecimento, ao mesmo tempo em que me permito comentar que, na sua crítica procedente, para muitos usuários, ao que chama de “solidão interativa”, Wolton ignora dois  pontos, relativos ao “lado bom” e à importância da internet: a democratização da informação, divulgando as notícias que ou “não interessam” ou são manipuladas pelos meios de comunicação a serviço do capital; e (2) a articulação em redes outras, de construção da contrahegemonia. No mais, contrapor a isso os jornais como “legitimidade” é um lamentável equívoco, aqui ou em qualquer parte do mundo, com honrosíssimas exceções. TP.

Facebook só disfarça falta de relações humanas, diz sociólogo
Agora que o Facebook virou filme e as redes sociais parecem ter liberado o homem para toda forma possível de comunicação, vem um intelectual francês dizer que vivemos sob a ameaça da “solidão interativa”. Dominique Wolton, 63, que esteve no Brasil há duas semanas, bate ainda mais pesado. Para ele, a internet não serve para a constituição da democracia: “Só funciona para formar comunidades” –em que todos partilham interesses comuns–, “e não sociedades” –onde é preciso conviver com as diferenças.

Sociólogo da comunicação e diretor do Centro Nacional de Pesquisa Científica (Paris), ele defende na entrevista abaixo que, depois do ambiente, a “comunicação será a grande questão do século 21”. Em tempo: “A Rede Social”, de David Fincher, estreia nos cinemas brasileiros no início de dezembro.

Folha – Como vê a internet?

Dominique Wolton – Faço parte de uma minoria que não é fascinada por ela. Claro, é formidável para a comunicação entre pessoas e grupos que se interessam pela mesma coisa e, do ponto de vista pessoal, é melhor do que o rádio, a TV ou o jornal.

Mas, do ponto de vista da coesão social, é uma forma de comunicação muito frágil. A grandeza da imprensa, do rádio e da TV é justamente a de fazer a ligação entre meios sociais que são fundamentalmente diferentes. Nesse sentido, a internet não é uma mídia, mas um sistema de comunicação comunitário.

Mas e as redes sociais?

Elas retomam uma questão social muita antiga, que é a de procurar pessoas, amigos, amor. São um progresso técnico, sem dúvida, mas a comunicação humana não é algo tão simples.

Porque em algum momento será preciso que as pessoas se encontrem fisicamente –e aí reside toda a grandeza e dificuldade da comunicação para o ser humano.

Então a solidão é um risco nessas redes?

Sem dúvida: a “solidão interativa”. Podemos passar horas, dias na internet e sermos incapazes de ter uma verdadeira relação humana com quer que seja.

Isso tem a ver com o conceito que criou –o de “sociedade individualista de massa”?

Sim, porque na comunicação ocidental procuramos duas coisas inteiramente contraditórias: a liberdade individual –modelo herdado do século 18– e a igualdade por meio da inserção na sociedade de massa –que é o modelo do socialismo.

Usamos a internet porque ela é a liberdade individual. Na internet, todo mundo tem o direito de dar sua opinião, mas emitir uma opinião não significa comunicar-se. Porque,  se a expressão é uma fase da comunicação, a outra é o retorno por parte de um receptor e a negociação que implica –e isso toma tempo!

Há um fascínio pela rapidez da internet e por sua falta de controle. Mas essa falta de controle é demagógica, porque a democracia não é a ausência de leis, mas a existência de leis utilizadas por todos.

A internet foi decisiva para a eleição de Barack Obama?

Acho que se projetou um sonho que não correspondeu à realidade. Obama sempre foi ligado às questões sociais e sabia de sua importância. O que fez foi usar a internet para multiplicar a eficácia dessas relações. Usou a internet de modo bastante clássico.

O Google está nos tornando estúpidos?

Ele está se tornando a primeira indústria do conhecimento, concentrando de forma gigantesca a informação e o saber -o que é um perigo.

Se um grupo de mídia quisesse concentrar toda a distribuição de informação, alguém diria: “Atenção, monopólio!”. Mas não se faz isso em relação à internet, tamanho é o fascínio pela técnica na sociedade atual.

O papel está condenado?

Ao contrário! Porque internet é rapidez, livros e jornais são lentidão e legitimidade –informação organizada. A abundância de informações não suprime a questão prévia de que educação é formação.

Folha de São Paulo, 09/11/2010.

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