Prêmio Odair Firmino. Comunidade tradicional resiste aoagronegócio e leva primeiro lugar

Um jantar comunitário encerrou uma semana de comemorações, emoções e vitórias na comunidade tradicional de Ponte do Mateus, situada no município de São Desidério, sudoeste da Bahia. No domingo (28) depois da missa, as 60 famílias integrantes do Projeto Veredas Vivas trabalharam o dia todo para produzir o melhor jantar do ano. É que a comunidade precisava comemorar coletivamente e com a melhor comida o primeiro lugar no I Prêmio Odair Firmino de Solidariedade, promovido pela Cáritas Brasileira, cujo tema foi “As questões climáticas e a vida no planeta”. A reportagem é do portal da Cáritas Brasileira, 29-11-2010.

O segundo lugar saiu para a experiência comunitária “Convivendo com o Semiárido” da microrregião da Serra do Teixeira, na Paraíba. Cerca de 1.200 famílias, em 33 comunidades, mantêm, mediante um Fundo Rotativo de Solidariedade, uma dinâmica de abastecimento de água potável por meio de cisternas que recolhem água das chuvas e asseguram o que eles chamam de segurança hídrica numa região em que a água, por causa da escassez, é o bem mais precioso. Iniciada em 1994, a experiência é assessorada pelo Centro de Educação Popular e Formação Social de Teixeira (CEPFS). Além do troféu, o representante do CEPFS, José Dias, vai levar para a comunidade um diploma e R$ 3 mil.

O terceiro lugar foi para uma experiência urbana, realizada na capital paulista. O grupo ligado à Coleta Seletiva Solidária – Reciclázaro – foi premiado com um troféu e R$ 2 mil. De acordo com o coordenador e representante do grupo, padre José Carlos Spínola, a premiação não ficou restrita ao Reciclázaro, mas homenageia as mais de 100 entidades que atuam na reciclagem de lixo e na promoção da cidadania de moradores de rua e desempregados de São Paulo. Esse projeto consegue ter uma arrecadação líquida de R$ 10 mil por mês, o que garante entre R$ 200,00 a R$ 300,00 para mais de 30 ex-desempregados e moradores de rua. Apesar da atual prevalência de mulheres, ele começou com maioria masculina.


Realizada no auditório Dom Helder Câmara da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a cerimônia de entrega do I Prêmio Odair Firmino de Solidariedade foi aberta pelo secretário geral da CNBB, Dom Dimas Lara
Barbosa, pelo presidente da Cáritas Brasileira, Dom Demétrio Valentini; e pela diretora executiva da entidade, Maria Cristina dos Anjos.

O convidado especial, monge Marcelo Barros, fez uma palestra sobre solidariedade e questões climáticas. Estiveram presentes representantes de várias Regionais da Cáritas Brasileira. Apresentado pelos agentes Cáritas, Valquíria Lima, de Minas Gerais, e Ricarte Almeida, do Maranhão, o evento contou com espetáculo musical apresentado pela cantora e agente Cáritas, Lena Machado; pelo assessor do Secretariado Nacional, José Magalhães; e músicos.

Resistência

Símbolo de resistência à invasão do agronegócio e da luta pela preservação do meio ambiente e da cultura tradicional, o Projeto Veredas Vivas classificou-se em primeiro lugar por ser um grupo de famílias que, apesar do assédio e da pressão exercida pela grilagem, mantém-se unido com o propósito de permanecer na área, com produção familiar e sustentável. O prêmio elevou e fortaleceu a auto-estima da comunidade.

De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Ponte do Mateus está situado entre os municípios de São Desidério (75 km), Correntina (37 Km) e Santa Maria da Vitória, no sudoeste da Bahia. Região de muita água, Ponte do Mateus está próximo ao rio Guará, um dos formadores do rio Corrente que, por sua vez, forma o Rio São Francisco.
Basicamente conduzido por mulheres e assessorado pela Agência 10envolvimento, braço da Cáritas Brasileira em Barreiras, o Projeto Veredas Vivas beneficia indiretamente cerca de 150 pessoas que vivem do aproveitamento das riquezas do cerrado em pé. A representante da agência, Edite Lopes de Sousa, informa que, apesar da prevalência das mulheres jovens e maduras, o Veredas Vivas é formado também por grupos de jovens e homens adultos. Com o trabalho, o grupo valoriza ainda a cultura tradicional e incentiva o empoderamento (apoderar-se de algo ou tomar posse de alguma coisa) dos comunitários.

O grupo usa o capim dourado e outras riquezas do cerrado para produzir artesanato e biojoias, faz o aproveitamento alimentar das frutas do cerrado e aproveita os frutos do bioma para produzir fitoterápicos, remédios à base de essências extraídas das plantas nativas. É com essas armas que as famílias de Ponte do Mateus combatem a exclusão social, preserva a natureza, mantêm os conhecimentos e a cultura tradicionais e resistem à grilagem.“Isso tem trazido um bom resultado em relação à medicina tradicional. Os remédios que eles comprariam em farmácias, fabricam para consumo próprio e, por um preço simbólico, atendem à demanda de outras comunidades, como Barreiras, São Desidério e Correntina”, disse a assessora do projeto.

Edite, Maria Souza Santos e Cristina Cruz vieram a Brasília, nessa quinta-feira (25), exclusivamente para receber os troféus, o diploma e o cheque de R$ 10 mil, resultado da primeira colocação no I Prêmio Odair Firmino de Solidariedade. Emocionada, Edite agradeceu e disse que o prêmio chegou na hora certa. “Além de elevar a autoestima da comunidade e de servir de exemplo de resistência para outras comunidades tradicionais, o dinheiro vai possibilitar a construção do sonhado e planejado galpão para depositarmos e guardarmos nossa produção e também trabalharmos juntos”, contou Maria Souza Santos.

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