No litoral de AL, casal almoça uma lata de sardinha

“Neste mês, a minha renda foi zero”, diz o descascador de cocos Amaro Verçosa Ferreira, 44. De sua casa, no badalado litoral norte de Alagoas, ele vê extensas áreas de mangue e coqueirais desaparecerem -mas só enxerga um futuro de incertezas. A reportagem é de Fábio Guibu e Anna Virgínia Balloussier e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 14-11-2010.

Desempregado, ele se preocupa com as árvores quase sem frutos e o aumento da concorrência no trabalho. Com a mulher, Amara Maria do Nascimento dos Santos, 44, Ferreira vive em situação de indigência. Mora numa casa de taipa emprestada de um cunhado, em Porto de Pedras (100 km de Maceió), onde cerca de 90% dos moradores são pobres, segundo o Censo 2000 atualizado pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).

“Não lembro quando trabalhei pela última vez”, diz Ferreira. A mulher recebe R$ 68 mensais do Bolsa Família.

Na sexta-feira, o almoço deles se resumiu a uma lata de sardinhas em conserva. Na cozinha, há dez panelas penduradas na parede e um fogão enferrujado. Não há geladeira nem armários.

Na casa emprestada, de 30 m2, o piso é de terra batida e está esburacado. Não há banheiro, e a água é trazida em baldes de uma cacimba. No telhado, uma antena parabólica do cunhado de Ferreira, que não é usada. O casal não tem TV.

Os pescadores de Porto de Pedras também vivem em situação de miséria. É o caso de Flávio Bento de Mesquita, 28, e Carlos Jorge Wanderley Pinheiro, 43. Eles vivem em casas de taipa com as famílias e possuem renda média de R$ 200 por mês. Casados e com dois filhos cada um, têm Bolsa Família, mas dizem não levar uma vida digna. “Às vezes, falta comida”, diz Mesquita.

Todos os entrevistados dizem ter votado na presidente eleita Dilma Rousseff. O que esperam do novo governo pode ser resumido numa frase de Ferreira: “Uma casa e renda para tocar a vida”.

Na cidade mais rica do país, São Paulo, os R$ 68 do Bolsa Família ajudavam Adriana Oliveira, 33, a complementar a renda familiar – cerca de R$ 320.

Neste mês o dinheiro não entrou. Ela foi tirada do programa porque a filha, doente, faltou na escola. Ainda não se recadastrou. Diz não ter dinheiro para tirar fotos para os documentos.

Adriana mora com cinco dos sete filhos no Itaim Paulista (zona leste de SP). O marido e um filho estão em uma clínica de reabilitação, “por coisa de drogas”.

Adriana trabalha quatro vezes ao mês com faxina. No fim de semana, distribui panfletos de apartamentos. Ela não lembra em quem votou e ficou surpresa ao saber que Dilma prometeu erradicar a miséria. “Entendi que ela não gostava de pobre!”

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=38352

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