R$ 140 é um valor considerado “muito baixo” até mesmo pelo Ministério do Desenvolvimento Social (responsável pelo Bolsa Família) para se definir quem é pobre e pode receber o benefício.
Lúcia Modesto, secretária nacional de Renda de Cidadania, diz que o ideal seriam os R$ 510 do salário mínimo. A reportagem é de Fernando Canzian e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 14-11-2010.
Apesar de R$ 140 ser considerado muito pouco, só nos Estados do Norte e Nordeste 100% dos elegíveis ao Bolsa Família estão atendidos. Nas demais regiões, há 15% deles ainda fora do programa.
Modesto diz que há “o compromisso, a meta”, de se erradicar a pobreza e que o ministério vem se preparando para isso há dois anos.
Com a divulgação do Censo 2010 no início do ano que vem, o ministério pretende ter um diagnóstico mais preciso de quantos são e onde estão os pobres.
“Não é só com transferência de renda que vamos erradicar a miséria, mas com um conjunto de políticas”, diz.
Para o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, o novo governo deveria incrementar fortemente o Bolsa Família com mais dinheiro para perseguir a meta de erradicar a pobreza.”Pode parecer utópico, mas o caminho para isso é o Bolsa Família”, afirma.
Neri calcula que os R$ 21,3 bilhões anuais a mais que hoje seriam necessários para atingir a meta poderiam cair à metade até 2014.
Isso porque boa parte da redução da pobreza viria do aumento da atividade econômica, do emprego e da renda.
Ricardo Paes de Barros, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ligado ao Ministério do Planejamento, lembra que o Brasil já vem reduzindo a pobreza à metade a cada cinco ou seis anos.Mesmo considerando uma possível desaceleração nesse ritmo, Barros se diz otimista.
“Se sairmos de 15% de pobres na população total para 10% em quatro anos já é algo sensacional. Mas a meta de cair de 15% para zero neste período parece impossível. Nunca ninguém fez isso.”
“CIRCULO VIRTUOSO”
A economista Lena Lavinas, professora associada do Instituto de Economia da UFRJ, também defende “elevar a altura da barra” para a definição do que é ser pobre. Em sua opinião, deveria entrar nessa categoria quem vive com menos de 60% da renda média familiar per capita (R$ 465). Isso equivaleria a R$ 279 (o dobro do critério usado no Bolsa Família).
Lavinas acha que o Bolsa Família deveria ser um direito e que seus recursos (oriundos de impostos e contribuições indiretas vinculadas ao consumo) aumentassem na mesma proporção da evolução do mercado consumidor.
“Isso criaria um círculo virtuoso de menos pobres, mais consumo, maior arrecadação e mais dinheiro para erradicar a pobreza”, diz.
Segundo o instituto Data Popular, o consumo das classes E e D no Brasil cresce rapidamente e já supera o total da classe B em áreas como alimentação, higiene, limpeza, vestuário e acessórios, móveis e eletrodomésticos.
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