Educação e luta Kaiowá Guarani

“A gente precisa mostrar ao Brasil e ao mundo que Guarani Kaiowá temos  nossa sabedoria,  nossa tecnologia, nossa arte, nossa religião.  Infelizmente são ainda poucos os que tem bom senso e sensibilidade para enxergar e reconhecer isso. Muitos ainda nos vêem através da cana, da soja, do boi. Mas esse país é do povo brasileiro e não de alguns poderosos…”(Avá Kuarahy Rendyju)

O grande encontro de lideranças e professores Kaiowá Guarani não poderia começar de outra forma. Afinal de contas mais de quinhentos representantes desses povos deixaram suas aldeias e acampamentos com a certeza de avançar na conquista de seus direitos, de darem mais um passo em direção às suas terras tradicionais, seus tekohá.

O encontro está se realizando sob o forte impacto da memória de um ano do assassinato dos dois professores, Genivaldo e Rolindo Vera, do tekohá Ypo’i.  Representantes da comunidade deram seu depoimento sobre o drama que estão vivendo nesse momento, com a ameaça de serem novamente  despejados a qualquer hora. Um momento de silêncio e aplausos reverenciaram todos os lutadores Kaiowá Guarani que derramaram seu sangue pela vida de seu povo.

Nos depoimentos das lideranças ficou evidenciado a gravidade da situação, que mais do que nunca exige compromisso,  união e determinação. Foi  ressaltado a importância da escola e da educação escolar indígena na afirmação da identidade e luta do povo Guarani. Os professores devem ser também guerreiros , aprendizes e apoiadores dos nhanderu e nhandesi, os esteios e lideres espirituais de seu povo.

Por isso esse grande Encontro, onde a maioria são lideranças de suas comunidades, aldeias e acampamentos,  não é apenas mais um encontro, é  uma  Aty Guasu de professores e lideranças, em que vão se definir  propostas concretas da caminhada e luta do povo Guarani por seus direitos.  Serão traçadas as estratégias, especialmente com relação às suas terras e a  importância  da escola no fortalecimento da cultura, língua e teko- modo de ser e viver Guarani.

Índio não é bobo

O líder Avá Rovichá Guarani, com sua oratória inflamada e cortante, de dedo em riste, se dirigiu à mesa de autoridades “Não somos bobos. Índio não é bobo.  Nós sabemos quem matou Genivaldo e Rolindo. Não venham querer enrolar dizendo que eles estão no Paraguai. Os mandantes estão aí em Paranhos”.

E apontando para o banner em que está a foto de Rolindo  afirmou: “ Só sairemos do Ypo’i se levarmos o corpo dele.  Se não lá vamos ficar. Só sairemos  depois  que tivermos os osso dele. Caso contrário vamos ficar lá”.

Concluiu sua fala com um voto de esperança “Eu votei numa mulher, por que ela é mãe e a terra é nossa mãe. Votei na Dilma porque como mãe acredito que ela vai garantir os nossos direitos”.

Hoje os Kaiowá Guarani não lutam apenas com flechas, mas fazem da caneta, que pode ser a máquina fotográfica, filmadora, internet,  como armas na luta por seus direitos.

Egon Heck
Pavo Guarani,  Grande Povo
Aldeia de Cerrito, Eldorado, MS, 12 de novembro de 2010

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=38367

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