Minas tem mais de 5 mil bens de natureza imaterial, entre festas populares, lugares, ofícios, modos de fazer e formas de expressão, como o toque de sino das cidades históricas. Para discutir esse vasto potencial e a melhor maneira de valorizá-lo e preservá-lo, a Casa do Conde, no Bairro Floresta, Região Leste de Belo Horizonte, é palco, na terça-feira, do Balaio do Patrimônio Cultural. A abertura contou nesta segunda-feira com a apresentação ritmada e colorida do grupo de jongo-caxambu Filhos de Eva, de Carangola, na Zona da Mata.
No pátio do belo prédio em restauração e sede da superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), 30 integrantes, de várias gerações, mostraram a força da dança afrobrasileira. “É uma tradição antiga, que nasceu com os escravos no plantio de café e cana-de-açúcar. O primeiro registro data de 1888, ano da abolição da escravatura”, explicou a coordenadora do Filhos de Eva, Maria das Dores Ferreira, mais conhecida como Maria Nossa.
O jongo, presente em vários estados e registrado, em 2005, como patrimônio imaterial da Região Sudeste do país, é conhecido em Minas como caxambu – há três grupos típicos, sendo o Filhos de Eva um dos principais no território mineiro. “Num levantamento recente e superficial, identificamos esses milhares de bens culturais e já estamos com um projeto para estudar as manifestações das várias regiões. Vamos começar pela Serra do Cipó e Vale do Rio São Francisco”, explicou a coordenadora do patrimônio imaterial da superintendência do Iphan/MG, Corina Moreira. No estado, já foram registrados como patrimônio imaterial o modo de fazer o queijo e o ofício de sineiro e o toque de sino de nove cidades: Mariana, Ouro Preto, Catas Altas, Sabará, São João del-Rei, Tiradentes, Congonhas, Diamantina e Serro.
O gingado e som dos atabaques e do tambu, tambor feito de um tronco de árvores, nas mãos dos ritmistas, contagiou os representantes de cidades do interior. Como nesta segunda-feira era dia de São Cosme e Damião, houve distribuição de balas, enquanto o grupo mostrava a sua arte e saudava os santos: “Dia 27 de setembro, é dia de esperança. Viva Cosme e Damião, que protegem as crianças”. Sem perder o pique, Maria América de Oliveira Silva, de 76 anos, disse se orgulhar de dançar o jongo-caxambu desde os 9. E mostrou um canto “dos antigos”, aprendido quando ainda era bem pequena. “Sabiá cantou, sabiá cantou, tiniu. Caiu na folha, caiu na folha, sumiu. Quem estava perto, correu. Quem estava longe, sumiu. Auê, auê…”
Experiências e saberes centenários
Promovido pela primeira vez em Minas, e devendo se propagar por outros estados, o Balaio Cultural é uma ação da Coordenação Geral de Salvaguarda do Departamento de Patrimônio Imaterial do Iphan. “Essa é uma oportunidade para promover a discussão entre os gestores do patrimônio cultural imaterial de Minas”, disse a coordenadora do evento, Jeanne Crespo, que, ao lado de Corina, fez palestra sobre A política nacional do patrimônio imaterial e a atuação do Iphan em Minas.
A solenidade de abertura teve ainda a palavra do superintendente Leonardo Barreto de Oliveira, e de Mônica Silvestrin sobre Questões relativas ao Patrimônio Imaterial no Sistema Nacional de Cultura. No fim do dia, houve roda de capoeira, atividade registrada ano passado, no país, como patrimônio imaterial. Para terça-feira, constam da programação mesa-redonda, palestras, apresentação de escola de samba, atividades com representantes dos povos indígenas e apresentação de experiências e de grupos artísticos.
Programação
Terça-feira
9h –Mesa 1: Bens culturais registrados pelo Iphan, com representantes de capoeira, jongo, produtores de queijo e sineiros
11h – Mesa 2: A atuação do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), por Luis Molinari, e Construção do Instrumento do Registro do Patrimônio Imaterial de Belo Horizonte, por Michele Arroyo, da Fundação Municipal de Cultura
14h –Apresentação da Escola de Samba Cidade Jardim
14h30 – Mesa 3: Modo de fazer viola de 10 cordas do Alto-Médio São Francisco, por Edilberto José de Macedo Fonseca, do Iphan; Sertão dá flor: semeando saberes, cultivando saúde, por Damiana Souza Campos, do Instituto Rosa e Sertão; e O pontão de cultura do jongo/caxambu, por Elaine Monteiro, do Pontão do Jongo/Caxambu/UFF);
16h30 – Mesa 4: A cerâmica saramenha de Ouro Branco, por Elyana Assis Couri, da Prefeitura de Ouro Branco; A festa do Rosário do Serro, por Zara Simões e Paulo Sérgio Torres Procópio, do Conselho Municipal do Patrimônio do Serro; e O Boi-Pintadinho de Carangola, por Fabiana Oliveira Ferreira, da Prefeitura de Carangola.
18h30 – Apresentação dos grupos Artes das Gerais e Ballet Afro Contemporâneo (Baco)
http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2010/09/27/interna_gerais,182254/evento-vai-discutir-o-potencial-dos-bens-imateriais-mineiros.shtml