Alertas sobre exploração de pessoas estimulam criação da rede contra tráfico humano

Com a proposta de criar uma rede de enfrentamento ao tráfico de seres humanos no estado do Ceará e estimular a população cearense a participar do Movimento Nacional Contra o Tráfico de Pessoas (MCTP), é que o Instituto de Estudos de Direito e Cidadania (IEDC) realizou o “Curso para Formação de Agentes Multiplicadores no enfrentamento ao Tráfico de Pessoas”, nos últimos dias 23 e 24, em Fortaleza, capital do estado.

Um dos principais problemas alertados durante os dois dias do Curso foi a questão da “feminização do tráfico de pessoas”, já que cerca de 80% das vítimas são mulheres, seguidas por adolescentes e crianças. Muitos especialistas atribuem esse tipo de exploração à cultura dominadora machista e também à situação de pobreza e miséria que tornam as pessoas vulneráveis para serem exploradas.

Intensificando os debates sobre o problema, irmã Claudina Scapini, coordenadora da Pastoral do Migrante, representando a Rede Um Grito pela Vida, alertou para o tráfico interno que acontece no Ceará e informou que “atualmente existem 43 mulheres estrangeiras, a maioria africana, presas no estado, por envolvimento com o tráfico de drogas”. Segundo a religiosa, essas mulheres alegam terem sido traficadas sem terem conhecimento sobre o transporte de drogas.

A coordenadora do Instituto Winrock Brasil, Débora Aranha, que também participou dos debates em Fortaleza, falando sobre o “Tráfico de Mulheres, Crianças e Adolescentes para fins de Exploração Sexual”, alertou que “a exploração sexual de crianças e adolescentes só acontece porque a sociedade está conivente com tais práticas”.

Além disso, Débora lamentou o fato de “muitos policiais e delegados não verem no abuso sexual de adolescentes, um crime”. Por isso, é que o Instituto investe na conscientização de jovens para a prevenção da prática. “Vemos nos jovens grandes aliados para conscientizar e alertar outros jovens sobre o abuso, a exploração e o tráfico de pessoas”, ressaltou.

Durante os debates, Anália Ribeiro, coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de São Paulo, disse que para combater a rede do crime organizado, é necessário que as instituições que trabalham para prevenir e enfrentar o crime, também se organizem. “Dificilmente se chega até o grande chefão da rede. Geralmente, só se consegue identificar os aliciadores”, disse.

Por isso, Anália e Débora enfatizaram a importância de se pautar a criação do Movimento Contra o Tráfico de Pessoas, onde a sociedade civil organizada juntamente com organismos do governo poderão, de forma mais articulada, enfrentar este mau que é o comércio de vidas.

A capital cearense foi a primeira a receber a capacitação de agentes, mas, profissionais de outras capitais da região nordeste também serão capacitados. A iniciativa do IEDC contou com apoio do Banco do Nordeste (BNB), do Instituto Latino-americano de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos (ILADH) e Winrock International Brasil.

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