Municípios do Maranhão e Piauí entre os que mais desmatam o Cerrado

 Autor: Foto: Correio Braziliense

Balsas (MA) e Ribeiro Gonçalves (PI) , mostram que a opção de modelo rumo ao crescimento naufragou com o passar dos anos

Desenvolvimento: Ribeiro Gonçalves, no Piauí, com 6 mil habitantes, e Balsas, no Maranhão, com 100 mil, mesmo bem distintas, mostram que a opção de modelo rumo ao crescimento naufragou com o passar dos anos. A relação com o cerrado, a opção de desenvolvimento econômico adotada e os prognósticos desenhados para os próximos anos aproximam duas pequenas cidades no Nordeste brasileiro. Ribeiro Gonçalves, no sul do Piauí, recebeu as primeiras grandes plantações de soja e milho no fim da década de 1980. Quase 20 anos depois, continua liderando os índices de desmatamento do cerrado. Balsas está no sul do Maranhão e é outra cidade desde a penetração da soja, há 15 anos.

Na última safra do grão, foi colhido 1,1 milhão de toneladas, uma produção que só foi possível a um custo de 455 quilômetros quadrados de cerrado devastados entre 2002 e 2008. Tanto Ribeiro Gonçalves quanto Balsas já sentem os efeitos da estagnação econômica: o Produto Interno Bruto (PIB) per capita recuou entre 2003 e 2007.

Em Ribeiro Gonçalves, cidade com pouco mais de 6 mil habitantes, a renda dos moradores cai significativamente ao longo dos anos e se aproxima do mesmo nível médio em todo o estado do Piauí. Em quatro anos, o PIB da cidade perdeu R$ 12 milhões e os ganhos médios dos moradores passaram de R$ 8,4 mil para R$ 5,5 mil. A produção econômica no estado caminha em direção contrária: o PIB per capita saltou de R$ 2,9 mil para R$ 4,6 mil. “A cidade estava há muito tempo numa crescente, mas a grande baixa dos preços da soja e o aumento do custo dos insumos paralisaram a abertura de novas áreas”, afirma o secretário de Agricultura de Ribeiro Gonçalves, Artur Dias Pinheiro.

Depois de um desmatamento de 117 quilômetros quadrados em sete anos, o secretário diz que a “maior fiscalização” no sul do Piauí vem reduzindo o ímpeto da devastação. Não é o que mostram as imagens de satélite que monitoram a ocupação do cerrado. A soja produzida em Ribeiro Gonçalves segue in natura para a unidade esmagadora da Bunge, instalada em Uruçuí, a 120 quilômetros de Ribeiro Gonçalves.

Uruçuí é o oitavo município brasileiro que mais desmatou o cerrado, com 372 quilômetros quadrados devastados entre 2002 e 2008. O processamento da soja, e não apenas a produção do grão, fez aumentar a riqueza econômica na cidade.

O PIB em Uruçuí mais do que triplicou entre 2003 e 2007. “Aqui, na área de soja, só ficaram os grandes, quem tem estrutura”, ressalta o secretário de Agricultura de Ribeiro Gonçalves. A produção de grãos em Balsas, no Maranhão, uma cidade de 100 mil habitantes, está sendo salva pela instalação de uma granja de Pernambuco e pela presença cada vez maior de investidores estrangeiros, que passam a dominar a propriedade das terras no sul do estado. “Não entram mais pequenos proprietários”, afirma o secretário de Agricultura de Balsas, Francisco de Assis Souza.

Grandes produtores norteamericanos, argentinos, russos e coreanos compram espaçosas glebas de terra para plantar soja, milho, algodão e arroz. Esses investimentos não se traduziram numa ampliação significativa do PIB da cidade — ao contrário, houve redução do PIB per capita.

As monoculturas empreendidas pelos estrangeiros continuam ancoradas na política de desmatamento do cerrado. Balsas é o sexto município que mais desmatou o cerrado no país. Investidores norte-americanos e coreanos também chegaram à cidade que mais devastou o cerrado entre 2002 e 2008, Formosa do Rio Preto, na Bahia. Eles chegaram atraídos pelo preço da terra, pela quantidade suficiente de chuvas e pela perspectiva de desenvolvimento do transporte ferroviário na região.

Já são 350 mil hectares (3,5 mil quilômetros quadrados) de soja plantados nas imediações da cidade. E 1,4 mil quilômetros de cerrado desmatados em sete anos. “Ainda há espaço para mais soja”, diz o prefeito de Formosa do Rio Preto, Manoel Afonso de Araújo. A dependência de uma única atividade econômica, como é o caso da monocultura da soja ou da cana-de-açúcar, diminui a renda nas cidades, conforme conclusão de uma pesquisa do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). O ISPN coordena desde 1994 o PPP-Ecos, programa que já financiou 308 projetos de desenvolvimento sustentável no cerrado, um estímulo à geração de renda nas comunidades locais que convivem bem com o bioma. O programa é custeado pelo Fundo Mundial para o Meio Ambiente (GEF, em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU).

A cidade estava há muito tempo numa crescente, mas a grande baixa dos preços da soja e o aumento do custo dos insumos paralisaram a abertura de novas áreas”, disse Artur Dias Pinheiro, secretário de Agricultura deRibeiro Gonçalves.

Levantamento feito pelo Correio mostra que as 50 cidades que mais desmataram o cerrado entre 2002 e 2008 não obtiveram o crescimento esperado, como justificam os defensores da devastação:

Na lista divulgada pelo Correio Braziliense aparecem sete cidades do Piauí, entre as 50 que mais desmataram, sendo elas: Uruçuí, Baixa Grande do Ribeiro, Bom Jesus, Currais, Palmeira do Piauí, Ribeiro Gonçalves.

As cidades que mais desmataram o cerrado entre 2002 e 2008 estão em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Piauí, Maranhão, Bahia, Minas Gerais e Tocantins.

Em 66% desses municípios, o PIB cresceu menos do que o aumento registrado nos estados entre 2003 e 2007, conforme dados atualizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já o PIB per capita, que é o valor do PIB para cada morador do município, teve uma evolução inferior às médias dos estados em 68% das cidades que mais desmataram o cerrado no período.

Depois de a soja modificar os cenários em municípios antes inexpressivos no Maranhão, no Piauí e em Mato Grosso, a dependência exclusiva à monocultura — que substituiu grandes pedaços de mata nativa de Cerrado — gerou uma retração da economia.

A evolução do PIB per capita chegou a ser negativa em Balsas, Tasso Fragoso e Alto Parnaíba, no Maranhão; Ipiranga do Norte e Tapurah, em Mato Grosso; e Ribeiro Gonçalves, no Piauí. “É esse o modelo de desenvolvimento nessas regiões: crescer e estagnar”, afirma o pesquisador Laerte Guimarães Ferreira, coordenador do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG), que emite os alertas de desmatamento do cerrado (com a relação dos 50 maiores desmatadores) em parceria com o Ministério do Meio Ambiente. “O desenvolvimento nos municípios diretamente envolvidos com o desmatamento está aquém. Basta ver que a contribuição do PIB agropecuário para o PIB total é muito baixa.”

Por ser interpretado como uma vegetação de segunda categoria, o cerrado foi devastado sem cerimônias nas décadas de 1980 e de 1990. Fazia parte da política de governo ocupar o Centro-Oeste e o Nordeste brasileiros com o patrocínio do desmatamento do bioma. No fim da década de 90, depois de uma ocupação intensiva principalmente em Goiás e no Mato Grosso, as fronteiras agrícolas seguiram para o oeste da Bahia e o sul do Maranhão e do Piauí.

Por: Correio Braziliense

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