Insurreições: até 14 de julho, no Memorial da Resistência, em São Paulo

Em São Paulo, exposição no Memorial da Resistência reúne desenhos, pinturas, xilogravuras, objetos artesanais, cartas e manuscritos de livros produzidos pelos presos políticos. Fotos: Pedro Jackson
Em São Paulo, exposição no Memorial da Resistência reúne desenhos, pinturas, xilogravuras, objetos artesanais, cartas e manuscritos de livros produzidos pelos presos políticos. Fotos: Pedro Jackson

Mayra Castro, para Brasil de Fato

O Memorial da Resistência em São Paulo inaugurou, no dia 30 de março, a exposição Insurreições: expressões plásticas nos presídios políticos de São Paulo. O espaço reúne desenhos, pinturas, xilogravuras, objetos artesanais, cartas e manuscritos de livros produzidos pelos presos políticos de cinco presídios de São Paulo entre os anos de 1960 e 1970.

Museu dedicado à preservação da memória dos atos repressão e de resistência ocorridos durante a ditadura militar no Brasil, o Memorial está sediado no prédio do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops). Com uma proposta museológica diferente, ele ocupa parte do espaço onde aconteceram as prisões e é gerido pela Pinacoteca do Estado, que também administra a Estação Pinacoteca.

Além do acervo fixo, o memorial abriga um espaço dedicado às exposições temporárias, onde até o dia 14 julho as 76 obras expostas, que fazem parte do acervo do jornalista e escritor Alípio Freire e da advogada Rita Sipahi – ambos ex-presos políticos – estarão à disposição do público. Obras conservadas há quase 50 anos pelo casal que, ao longo dos anos, ajudaram a fortalecer a luta pela conservação da memória e pela busca da verdade dos anos de chumbo.

O jornalista e artista plástico Alípio Freirte, curador da exposição. Foto: Pedro Jackson
O jornalista e artista plástico Alípio Freirte, curador da exposição. Foto: Pedro Jackson

Segundo Alipio Freire, curador da exposição, a primeira vez que o acervo foi exposto em 1984, na Associação Brasileira de Imprensa em São Paulo, chamou atenção pela qualidade dos artistas e das obras.

Ele também explica que “nos presídios masculinos de São Paulo houve uma confluência muito grande de pessoas que já trabalhavam com artes plásticas, de uma maneira até profissional”, daí o motivo da grande produção artística. Os materiais eram levados pelos familiares e amigos. “A solidariedade aqui fora sempre foi muito grande com a gente”, afirma o escritor enquanto conta histórias das obras, algumas das quais, de sua própria autoria.

A solidariedade também foi de grande inspiração, já que alguns presos precisavam arcar com as despesas de advogado, família e alimentação, por isso parte dos quadros e objetos foram vendidos, o que dificultou o trabalho de agrupamento desse material posteriormente.

O pintor e desenhista Yoshiya Takaoka foi um dos responsáveis por levar as artes plásticas para os presídios. Enquanto participava da resistência ao golpe em Paraty, no Rio de Janeiro, ele e outros artistas foram presos. Famoso pelos desenhos de cavalo, começou a desenhar nas paredes da cela. Depois de solto, durante as visitas aos filhos Carlos e Luis, presos logo depois, fazia comentários sobre os trabalhos feitos pelos outros presos políticos incentivando o debate sobre as artes.

Além dele, Radha Abramo contribuiu para esse processo quando organizou um curso de desenho por meio de cartas para os presos políticos do Presídio do Hipódromo. Dessa forma a preocupação com o fazer das obras sempre esteve colocada, como explica Alipio Freire ao falar do quadro Retrato de Rita Sipahi:

“O retrato da mulher que eu conheci na cadeia e com a qual eu sou casado até hoje. Quando ela saiu da cadeia me mandou essa foto. Quis fazer um retrato para ela, um retrato poema para ela. É um cruzamento do discurso objetivo das coisas, do que eu gostaria de dizer objetivamente envolvendo toda uma preocupação com a discussão da linguagem das artes plásticas”.

Depois de um passeio pela exposição é possível perceber que as obras não falam apenas de repressão e prisão, mas de amor, amizade, solidariedade, desejo de justiça e de liberdade. Algo que conserva a memória política, mas também a memória da humanidade dos presos políticos muitas vezes representados como vilões pela história oficial. A exposição também ganha, nesse sentido, um outro aspecto como explica Alipio:

“A partir dela a Rita e eu vamos tentar doar esse acervo para alguma instituição pública. Nós entendemos que não nos pertence. Entendemos que ele é um patrimônio da história do povo brasileiro e o lugar dele é um espaço público onde todos possam ter acesso”.

<Serviço>

Memorial da Resistência de São Paulo
Largo General Osório, 66 – Luz
Exposição: de 30 de março a 14 de julho de 2013
Entrada gratuita de terça a domingo, das 10h às 18h
Visitas Educativas por meio dos telefones: (11) 3324-0943 e 0944

Enviada por José Carlos para Combate Racismo Ambiental.

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