Essa não é a primeira vez que a empresa amarga uma multa milionária por sua política de insegurança. Mesmo assim, seguindo a lógica de qualquer outra empresa multinacional, a Petrobrás parece considerar tais multas um risco que vale a pena ser corrido. Afinal, quantas irregularidades não são aplicadas impunemente?
Acompanhando de perto os desdobramentos do vazamento ocorrido no Tebar, em São Sebastião, no último fim de semana, o Sindipetro-LP exige da empresa uma investigação apurada não apenas das causas do acidente, mas também da lentidão que marcou o combate à emergência.
Para isso, os dirigentes defendem como prioridade a criação de uma comissão de investigação com a participação do Sindicato. A tarefa deste grupo seria colher informações minuciosas sobre as possíveis causas da demora que marcou as operações pós-vazamento.
O Sindicato cobra, por exemplo, informações sobre a atuação do navio Rebelo XV, que navega em plantão 24 horas no canal de São Sebastião para atuar em caso de derramamento de óleo no terminal. Outro levantamento cobrado pela entidade recai sobre a atuação do Centro de Resposta a Emergências, o CRE. Enfim, existem muitas perguntas sem respostas. A criação desta comissão cumpriria, justamente, a tarefa de dar resposta aos questionamentos elencados acima.
É preciso aumentar o quadro mínimo!
Uma antiga reivindicação dos trabalhadores, baseada inclusive em relatórios técnicos, ganha ainda mais força e urgência com o vazamento ocorrido no último fim de semana: o aumento do efetivo da unidade. A redução dos quadros mínimos dos terminais e refinarias da Petrobrás tem colocado em risco a segurança dos trabalhadores, da população e do meio ambiente.
No ano passado, ainda em 5 de novembro, o Sindicato havia relatado sua preocupação quanto ao efetivo da unidade em reunião na sede da Transpetro, no Rio de Janeiro. Neste sentido, reforçamos a necessidade do 5º homem nos píeres, medida plenamente possível que garantiria uma rotina de trabalho mais segura, além da inclusão dos técnicos de segurança no turno.
Programação
Um gargalo do Tebar exposto pelo vazamento é a programação de carga e descarga de produtos no terminal. A linha 22, onde houve o acidente, estava parada desde o dia 22 de março. A partir de então, a companhia – desde a matriz, no Rio de Janeiro, até as demais instâncias – passou a pressionar a unidade, e por consequência a força de trabalho, para que a colocasse em operação o mais rápido possível. Entretanto, com o efetivo de trabalhadores reduzido e a limitação de 40 horas extras mensais para cada trabalhador, a linha voltou a funcionar apenas no dia 5 de abril. E neste mesmo dia houve o vazamento.
Evidentemente, o sindicato defende a redução de horas extras dos trabalhadores, pois a necessidade do aumento na jornada de trabalho, já exaustiva, demonstra que há uma carga excessiva de tarefas. Entretanto, é um absurdo a empresa limitar o número de horas extras sem, em contrapartida, aumentar o número de petroleiros na unidade. Por isso, ou a empresa atende a nossa reivindicação pelo aumento do número de trabalhadores, ou ela toma uma medida paliativa, que seria o fim do limite das 40 horas mensais para hora extra.
Uma prova de que o número reduzido de trabalhadores, com limitação de horas extras, implica em insegurança é justamente a programação citada acima. Se houvesse mais trabalhadores à disposição, o prazo de entrega da linha poderia ter sido menor, desafogando a fila de navios que se formou no terminal. Não é possível trabalhar com segurança sob pressão e com uma dezena de navios “à porta” do terminal.
Para se ter uma ideia, cinco navios que haviam chegado na unidade cancelaram o abastecimento, seis navios estavam fundeados e dois navios estavam atracados, aguardando abastecimento de bunker (Marine Fuel 380). E isso no maior terminal aquaviário da America Latina!
Nesta terça-feira, foi anunciada uma multa de R$ 10 milhões, aplicada pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), e outra de R$ 50 mil, pela prefeitura de São Sebastião. Essa não é a primeira vez que a empresa amarga uma multa milionária por sua política de insegurança. Mesmo assim, seguindo a lógica de qualquer outra empresa multinacional, a Petrobrás parece considerar tais multas um risco que vale a pena ser corrido. Afinal, quantas irregularidades não são aplicadas impunemente?
Memória
Em novembro de 2000, portanto quase 13 anos atrás, o Tebar sofreu um vazamento que tem uma particularidade semelhante ao acidente ocorrido neste fim de semana: informações subestimadas sobre o volume de óleo derramado. Na época, a empresa havia divulgado um derramamento de 86 mil litros. Depois, com base em documentos internos do Tebar – obtidos pela Folha de S. Paulo – foi revelado que, na verdade, o vazamento era bem maior: 424.750 litros.
Neste caso, ainda não foi informado o volume exato de óleo derramado, mas uma informação preliminar repassada pela companhia dava conta de apenas 80 litros. Um número absurdamente pequeno perto da enorme operação montada para conter a mancha de óleo nas praias de São Sebastião e Caraguatatuba. Mais uma vez, apelamos para a empresa não reduzir a política de responsabilidade social e de respeito ao meio ambiente apenas aos discursos, mas sim à prática. Se não fosse trágico, seria mesmo irônico relembrar o discurso de “vazamento zero” de Graça Foster.
Por fim, sugerimos à presidente Graça Foster e aos idealizadores do Procop (Programa de Otimização de Custos Operacionais) que avaliem os reais benefícios de uma política que até agora tem reduzido gastos à custa de algo que para nós é inegociável: a segurança dos trabalhadores, das unidades e a preservação do meio ambiente.
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Ademir Parrela comenta o vazamento de óleo no Tebar
Ademir Parrela comenta o vazamento de óleo no Tebar from SindipetroLP on Vimeo.