Um morador de rua que conseguiu passar em um concurso público e um jovem dedicado que aprendeu a falar inglês fluente sozinho ouvindo rádio; Conheça as histórias de superação de Sédrik e Ubirajara
Sédrik e Ubirajara. Dois brasileiros obstinados. O início de suas histórias foi contado aqui no Globo Repórter. Eles deram um novo rumo às suas vidas graças ao estudo e a uma tremenda determinação.
“Quando você está desempregado, não é que você não seja gente, mas você não é tratado como gente. Quando você está desempregado, você não tem casa pra morar, a própria sociedade te exclui. Agora não, agora eles vão ter que me engolir”, afirmou o bancário Ubirajara Gomes da Silva.
Pois é, quem podia imaginar, um morador de rua aprovado num concurso nacional disputadíssimo.
“Eu fico brincando, eu digo que eu sempre estudo pra ver se eu viro alguém na vida”, disse Bira.
O passado de Bira não foi nenhuma brincadeira.
“A minha avó me espancava muito, meu pai nunca quis me criar, minha mãe também não”, lembrou Bira.
Foram 12 anos vivendo ao relento, sem teto nem endereço. Até decidir dar uma virada na vida. Ele conseguiu. É funcionário de uma agência no Recife.
Pra quem morava nas ruas, o Bira já é dono de uma façanha e tanto. Mas pra ele, passar num concurso nacional disputadíssimo e se tornar bancário não é o fim da linha não. O Bira quer mais e continua testando os limites da força de vontade e da obstinação.
“Tem muito o que alcançar dentro do banco ainda?”, perguntou a repórter Beatriz Castro.
“Com certeza. E depende só de mim”, respondeu Bira.
Quatro anos atrás nós acompanhamos o primeiro dia de trabalho de Bira. E ele já fazia planos.
“Pretendo comprar uma casinha, mas só isso, pagar algumas coisas que estou devendo, fazer uma faculdade”, contou Bira.
A casinha ele já tem. Fica bem em cima de onde mora a sogra. É. O Bira está casado. Engordou quase 30 quilos, planeja melhorar a moradia e não desistiu da vida universitária.
“E o que você acha deste esforço dele?”, questionou a repórter.
“Eu gosto porque me incentiva também”, disse a mulher do Bira Karine dos Santos Gomes.
“Se você parar de estudar, se você se acomodar você não vai pra lugar nenhum”, completou Bira.
Sédrik também não parou. O menino pobre, que queria correr o mundo, festeja algumas conquistas.
“Eu já estive em Washington, na capital, eu já estive em Chicago, já estive em Dallas, no Texas”, afirmou o agente de aeroporto Sédrik Alan da Silva.
E pensar que a mudança na vida do Sédrik começou com um velho rádio. Foi sintonizando nas ondas curtas para ouvir o noticiário da BBC de Londres que ele aprendeu a falar inglês sozinho. O rádio foi o professor. Um professor difícil de entender.
“Ele sempre chiou. Atrapalhava um pouco, mas, fazer o quê se era só o que se tinha?”, disse Sédrik.
Sédrik queria mais do que a cidade de altinho, agreste de Pernambuco, podia lhe oferecer. E sabia o quanto era importante aprender uma língua estrangeira. Foram dois anos e meio estudando sozinho. A mãe reclamava daquele ruído todo na madrugada.
“Ele ficava chateado porque queria estudar, ouvir o rádio e eu ficava querendo proibir, porque eu trabalhava o dia inteiro e à noite eu não conseguia dormir”, contou a mãe de Sédrik, Maria do Socorro da Silva.
E quando não estava de frente pro rádio, estudava horas na biblioteca da escola.
“Quando você tem um objetivo, tem uma meta, você vai em frente, investe e consegue”, afirmou a coordenadora da biblioteca Valquíria Bezerra.
O resultado não demorou. Aos dezoito anos, com inglês fluente, Sédrik foi escolhido pela Embaixada americana no Brasil para ser um jovem embaixador. Passou duas semanas nos Estados Unidos. Era só o começo. Hoje Sédrik trabalha numa companhia aérea internacional.
“Ele não tem problema de comunicação nenhuma com os passageiros. Ele fala inglês fluente”, ressaltou Priscila Rabello, coordenadora de aeroporto.
“Eu não tenho como dimensionar até onde o esforço pode levar, mas tenho certeza que ele pode trazer bons resultados e grandes coisas para vida de qualquer pessoa”, disse Sédrik.
Vale a pena lutar por nossos objetivos – mesmo que eles pareçam grandes demais, distantes demais. Do tamanho da nossa imaginação.
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http://g1.globo.com/globo-reporter/noticia/2012/10/dois-brasileiros-obstinados-que-enfrentaram-fortes-barreiras-para-se-realizar-profissionalmente.html