Amazonas forma primeiro mestre indígena em Antropologia pela Ufam

Momento da defesa de João Rivelino Rezende Barreto (Foto: Rosilene Corrêa)

Rosilene Corrêa – Agência FAPEAM

‘A formação e transformação de coletivos indígenas no noroeste amazônico: do mito à sociologia das comunidades’ foi tema da dissertação apresentada pelo indígena da etnia Tukano, João Rivelino Rezende Barreto a professores, alunos e convidados que participaram da defesa de seu trabalho. Barreto é o primeiro indígena a concluir uma pós-graduação pelo curso de Antropologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

O resultado acadêmico é voltado aos saberes tradicionais da comunidade São Domingos Sávio, localizada às margens do Rio Tiquié, Alto Rio Negro, no município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. E, segundo os avaliadores, vai contribuir para o conhecimento dos saberes da etnia Tukano voltados à questão científica.

O indígena apresentou duas teorias do conhecimento Tukano para a banca pública. A primeira a teoria Úukuse, descreve o contexto mitológico Tukano, o mito sobre a formação cosmológica da terra, da água e toda a formação da natureza. A segunda teoria Muropau Uusetise fala sobre o contexto sociológico da formação dos grupos Tukano.

“Essa segunda teoria está ligada à anterior, mas fala como se formaram os grupos Tukano, como aconteceu, onde surgiram e das diferenças de um para o outro”, explicou o indígena.

O objetivo, segundo ele, é apresentar os pensamentos e conhecimentos do povo Tukano para a sociedade e realizar, a partir desse pensamento, um diálogo com a comunidade científica. “O meu interesse pelo tema surgiu ainda na graduação, isso aconteceu em 2004, quando estava na faculdade de Filosofia. Procurei sair do contexto religioso e comecei a pensar minha própria cultura, as unidades sociais do noroeste amazônico, os grupos, as tribos que os antropólogos pensaram e que são diferentes. O trabalho traz algumas diferenças como o quadro genealógico e as teorias que apresentamos no trabalho”, frisou.

Barreto iniciou a pesquisa em 2009, quando ingressou no mestrado em Antropologia da Ufam. “Concorri com mais 72 pessoas pelo processo normal, sem cotas e hoje estou concluindo esse trabalho que mostra que podemos pensar as nossas teorias e valorizar a nossa”.

A pesquisa de Barreto foi viabilizada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Brasil Plural (IBP), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

O INCT Brasil Plural promoveu no período de 19 a 23 de março de 2012, palestras e apresentações com o renomado etnólogo da Universidade de Cambridge, Stephen Hugh-Jones, especializado nas terras baixas da América do Sul, com foco nos Tukano do Rio Negro, na Colômbia e no Brasil.

Sobre o IBP

O IBP, financiado pelo Governo do Amazonas via FAPEAM e pelo CNPq,  foi criado em 2009, no âmbito dos Institutos Nacionais de Ciências e Tecnologia (INCTs). Iniciou suas atividades a partir de uma rede de pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina e da Universidade Federal do Amazonas.

O Instituto abriga pesquisadores de diferentes áreas e especialidades da Antropologia, com a proposta de aprofundar o conhecimento sobre a diversidade sociocultural do Brasil.

Seu objetivo maior é retratar, desde uma perspectiva antropológica, diferentes realidades brasileiras em toda sua complexidade, cujos resultados devem subsidiar políticas públicas brasileiras e formação de profissionais para atuar junto às populações estudadas, inclusive no âmbito acadêmico.

http://www.fapeam.am.gov.br/noticia.php?not=6297

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