“Tendes vivido regaladamente sobre a terra; tendes vivido nos prazeres; tendes engordado o vosso coração, em dia de matança; tendes condenado e matado o justo, sem que ele faça resistência” Tiago 5,6
O município do Monte Santo/BA vive tempos de violência e barbárie! Uma quadrilha de fazendeiros tem agido de forma organizada e paramilitar, subvertendo a ordem pública e democrática, disseminando o medo e o pânico entre a população rural.
O campo montesantense é historicamente marcado pelo coronelismo, pela grilagem de terras e pela impunidade. Para manter seus impérios e desmandos, estes “coronéis” ainda hoje, organizados em quadrilha, matam, ameaçam, perseguem, esbulham e corrompem sem qualquer punição.
Pelas ruas da cidade, fala-se na existência de uma “lista da morte”. Populares citam os nomes dos listados e anunciam as próximas vítimas. As regras são claramente postas: TODO AQUELE QUE OUSAR SE INSURGIR CONTRA A INJUSTIÇA DO LATIFUNDIO E DA GRILAGEM DE TERRAS NA REGIÃO PAGARÁ COM A VIDA.
Nos últimos 03 (três) anos, 05 (cinco) trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados pelo mesmo motivo: a ousadia corajosa de lutar pela reforma agrária! Tiago, Luiz e Josimar, em 15/10/2008, por defenderem suas terras na comunidade do Mandú; Antônio do Plínio, em 06/01/2011, por defender o fundo de pasto da Serra do Bode. E na noite do dia 06/09/2011, foi a vez do companheiro LEONARDO DE JESUS LEITE, que há 11 (onze) anos lutava pela conquista da terra nas Fazendas Angico e Jibóia.
A morte do companheiro Léo, mais do que uma vingança privada, foi um recado! As circunstâncias do crime revelam a clara intenção dos coronéis de se impor pelo poder das armas: Léo foi arrancado de dentro de casa e assassinado com um tiro na cabeça no pátio, na presença de sua esposa, em via pública, em meio ao povoado, às claras, às 21h.
Não foi à toa que o crime ocorreu à véspera da festa da independência. Os “coronéis” precisavam deixar claro quem manda na região e a sua certeza da impunidade. Não respeitam e não temem nada, nem ninguém! Expuseram o vexame de uma pátria sem governo.
Todos sabiam da sua morte antes mesmo dela acontecer! O nome de Léo estava na “lista da morte”. A quadrilha anunciou o derramamento de sangue. Léo foi ameaçado por diversas vezes e chegou a procurar a Delegacia de Polícia Civil para registrar a ocorrência e pedir proteção no mesmo dia em que sua vida foi ceifada, mas nenhuma providência foi adotada.
Esta barbárie tem estreita ligação com a omissão condescendente do Estado. Há muito que se denuncia que a alta concentração fundiária e a pobreza no campo são a origem da violência. No entanto, os poderes públicos nada fazem!
Palco de conflitos agrários, a malha fundiária montesantese é composta por de cerca de 80% de terras públicas devolutas pertencentes ao estado da Bahia. No entanto, a maior parte destas terras está concentrada ilegalmente nas mãos de um pequeno grupo de “coronéis”, que se vale do próprio Poder Judiciário para legitimar a grilagem histórica e conta também com o vasto aparato policial para a defesa de seus impérios.
Do outro lado, as comunidades tradicionais de fundo de pasto, posseiros e uma grande massa populacional de sem-terras subsistem num estado de miséria, que se revela pelos seguintes índices: IDH de 0,29 a 0,35; esperança de vida ao nascer entre 52 a 56 anos; coeficiente de mortalidade infantil entre 71 a 90 por mil nascidos; 81 a 90% da população com renda insuficiente e 41% de taxa de analfabetismo.
O INCRA, por sua vez, de 2008 até aqui, não implantou nenhum projeto de assentamento de reforma agrária no município, assim como não vistoriou nenhuma das grandes propriedades improdutivas locais.
Também a Coordenação de Desenvolvimento Agrário da Bahia (CDA), neste mesmo período, não regularizou nenhuma área de fundo de pasto, e concluiu apenas dois procedimentos discriminatórios de terras devolutas, sendo que em um deles o domínio do grileiro foi reconhecido e formalizado em desfavor dos trabalhadores.
O Poder Judiciário, noutra senda, não registra nenhuma condenação aos autores dos crimes cometidos contra os/as trabalhadores/as rurais na comarca, mas a despeito disto busca incessantemente criminalizar os movimentos sociais de luta por terra, água e direitos. Até hoje, espera-se que se faça justiça aos homicídios de Romildo (assasinado em 2004), Tiago, Luiz, Josimar e Antônio do Plínio.
Neste palco, os poderes públicos são também protagonista da violência. A omissão em cumprir com o seu dever constitucional de promover a reforma agrária e a regularização fundiária assegura o poderio destes “coronéis”, da mesma sorte que a negligência do Judiciário, do Ministério Público e das Polícias Civil e Militar garantem a impunidade.
O clamor dos pobres subiu e chegou aos ouvidos de Deus clamando tão forte, pedindo justiça dos direitos seus para que PUNAM-SE OS CULPADOS, DESBARATEM A MALDITA QUADRILHA DE FAZENDEIROS DA MORTE, PREVINAM-SE A VIOLÊNCIA e REPAREM-SE AS PERDAS DOS COMPANHEIROS com a imediata desapropriação da Fazenda Jibóia e a instauração do Processo Discriminatório de Terras Públicas em todo o município.
Assinam:
- Comissão Pastoral da Terra – Salvador – Bahia
- Comissão Pastoral da Terra – Diocese de Bonfim – BA
- AATR – Associação dos Advogados de Trabalhadores Rurais do Eastado da Bahia
- Comissão Pastoral da Terra – Diocese de Juazeiro – BA
- Comissão Pastoral da Terra – Diocese de Ruy Barbosa – BA
- CETA – Movimento Estadual de Acampados e Assentados da Bahia
- STR – Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Itiúba – BA
- SINTRAF Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar – BA – Andorinha – BA
- MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores – BA
- CACTUS – Associação de Assistência Técnica e Assessoria aos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais – BA
- AREFAI – Associação Regional Escola Família Agrícola de Itiúba – BA
- Articulação Popular São Francisco Vivo – BA
- CAFFP – Central de Fundo e Fecho de Pasto – Senhor do Bonfim – BA
- Comissão Pastoral da Terra – Região Guajarina/Pará
- Comissão Pastoral da Terra – Espírito Santo/Rio de Janeiro
- Comissão Pastoral da Terra – Maranhão
- Comissão Pastoral da Terra – Amapá
- Comissão Municipal de Água – Caém – BA
- Centro de Formação Santa Maria – Itúba – BA
- Paróquia Sagrado Coração de Jesus – Monte Santo – BA
- Paróquia São Gonçalo do Amarante – Caém – BA
- ARPA – Associação Regional Pró Água – Cansanção – BA
- Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Monte Santo – BA
- ACOTERRA – Monte Santo – BA
- Paróquia Senhora Santana de Cansanção – BA
- CONAC – Comissão Pastoral da Terra – Goiânia
- Comissão Pastoral da Terra – Roraima
- CESE – Coordenadoria Ecumênica de Serviço – BA
- Umbuzeiro – Associação Regional das Organizações Sociais do Semiárido
- SINTRAF Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar – Campo Formoso – BA
- SINTRAF Sindicato dos Trabalhadores da Agricultura Familiar – Senhor do Bonfim – BA
- Central das Associações da Agricultura Familiar – Senhor do Bonfim – Bahia
- Paróquia Nossa Senhora de Fátima de Ponto Novo – BA
- GT Meio Ambiente da Associação dos Geógrafos Brasileiros
- GT Combate ao Racismo Ambiental (RBJA) e seus integrantes, que assinam através dele e com ele:
- Amigos da Terra Brasil – Porto Alegre – RS
- ANAÍ – Associação Nacional da Ação Indigenista
- Associação Aritaguá –– Ilhéus – BA
- Associação de Defesa Etno-Ambiental Kanindé – Porto Velho – RO
- Associação de Moradores de Porto das Caixas – Itaboraí – RJ
- Associação Socioambiental Verdemar– Cachoeira – BA
- CEDEFES (Centro de Documentação Eloy Ferreira da Silva)– Belo Horizonte – MG
- Central Única das Favelas (CUFA-CEARÁ) –Fortaleza – CE
- Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (CEDENPA) – Belém – PA
- Coordenação Nacional de Juventude Negra – Recife – PE
- CEPEDES (Centro de Estudos e Pesquisas para o Desenvolvimento do Extremo Sul da Bahia)– Eunápolis – BA
- CPP (Coordenação da Pastoral dos Pescadores) Nacional
- CPP BA (Coordenação da Pastoral dos Pescadores da Bahia)– Salvador – BA
- CPP CE – Fortaleza – CE
- CPP Nordeste – Recife (PE, AL, SE, PB, RN)
- CPP Norte (Paz e Bem) –Belém – PA
- CPP Juazeiro – BA
- CRIOLA –Rio de Janeiro – RJ
- EKOS – Instituto para a Justiça e a Equidade – São Luís – MA
- FAOR – Fórum da Amazônia Oriental – Belém – PA
- Fase Amazônia –Belém – PA
- Fase Nacional (Núcleo Brasil Sustentável) – Rio de Janeiro – RJ
- FDA – Frente em Defesa da Amazônia Santarém – PA
- FIOCRUZ –Rio de Janeiro – RJ
- Fórum Carajás – São Luís – MA
- Fórum de Defesa da Zona Costeira do Ceará –Fortaleza – CE
- FUNAGUAS – Terezina – PI
- GELEDÉS – Instituto da Mulher Negra – São Paulo – SP
- GPEA – GP em Educação Ambiental da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – Cuiabá –MT
- GP Historicidade do Estado e do Direito: interações sociedade e meio ambiente, da UFBA – Salvador – BA
- GT Observatório e GT Água e Meio Ambiente do Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) – Belém – PA
- IARA –Rio de Janeiro – RJ
- Ibase – Rio de Janeiro – RJ
- INESC – Brasília – DF
- Instituto Búzios – Salvador – BA
- Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Fluminense – IF Fluminense – Macaé – RJ
- Instituto Terramar – Fortaleza – CE
- Justiça Global– Rio de Janeiro – RJ
- Movimento Cultura de Rua (MCR) – Fortaleza – CE
- Movimento Inter-Religioso (MIR/Iser) – Rio de Janeiro – RJ
- Movimento Popular de Saúde de Santo Amaro da Purificação (MOPS) – Santo Amaro da Purificação – BA
- Movimento Wangari Maathai – Salvador – BA
- NINJA – Núcleo de Investigações em Justiça Ambiental (Dp Ciências Sociais da UFSJR) – São João del-Rei – MG
- Núcleo TRAMAS – Trabalho Meio Ambiente e Saúde para Sustentabilidade (Faculdade de Medicina da UFC) – Fortaleza – CE
- Observatório Ambiental Alberto Ribeiro Lamego – Macaé – RJ
- Omolaiyè (Sociedade de Estudos Étnicos, Políticos, Sociais e Culturais) – Aracajú – SE
- ONG.GDASI – Grupo de Defesa Ambiental e Social de Itacuruçá – Mangaratiba – RJ
- Opção Brasil – São Paulo – SP
- Oriashé Sociedade Brasileira de Cultura e Arte Negra – São Paulo – SP
- Projeto Recriar (Universidade Federal de Ouro Preto) – Ouro Preto – MG
- Rede Axé Dudu – Cuiabá – MT
- Rede Matogrossense de Educação Ambiental – Cuiabá – MT
- RENAP Ceará – Fortaleza – CE
- Sociedade de Melhoramentos do São Manoel – São Manoel – SP
- Terra de Direitos – Paulo Afonso – BA
- TOXISPHERA – Associação de Saúde Ambiental – PR
- Álvaro Fernando De Angelis (ativista) – Goiânia – GO
- Ana Almeida – Instituto de Saúde Coletiva da UFBA (trabalha com Riscos Ambientais urbanos e Participação popular) – Salvador – BA
- Carmela Morena Zigoni (Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da UNB) – Brasília – DF
- Cecília Melo – Rio de Janeiro – RJ
- Cíntia Beatriz Müller (Coordenadora do GT Quilombos, da ABA, e professora da UFBA – Salvador – BA
- Cláudio Silva (militante) – Rio de Janeiro – RJ
- Daniel Fonsêca (jornalista e militante, atua na Frente Popular Ecológica de Fortaleza) – Fortaleza – CE
- Daniel Silvestre (pesquisador) – Brasília – DF
- Danilo D’Addio Chammas (advogado e assessor da Campanha Justiça nos Trilhos) – São Luiz – MA
- Diogo Rocha (pesquisador) – Rio de Janeiro – RJ
- Franciella P. Rodrigues (Coletivo Jovem para o Meio Ambiente/REJUMA) – São Paulo – SP
- Florival de José de Souza Filho (Grupo Geertz de Pesquisa, da UFS) – Aracajú – SE
- Helena Martins (jornalista e militante) – Fortaleza – CE
- Igor Vitorino (trabalha com população negra e moradores da periferia) – Vitória – ES
- Janaína Tude Sevá (pesquisadora) – Rio de Janeiro – RJ
- Josie Rabelo (mestre em Desenvolvimento Urbano pela UFPE e professora) – Recife – PE
- Juliana Souza (pesquisadora) – Rio de Janeiro – RJ
- Luciana Garcia – Rio de Janeiro – RJ
- Luan Gomes dos Santos de Oliveira (mestrando e pesquisador da UFRN) – Natal – RN
- Mauricio Sebastian Berger (pesquisador do Proyecto Ciudadania, do Instituto de Investigación y Formación en Administración Pública da Universidade Nacional de Córdoba) – Córdoba, Argentina
- Norma Felicidade Lopes da Silva Valencio (Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas Sociais em Desastres da Universidade Federal de São Carlos) – São Carlos – SP
- Raquel Giffoni Pinto (militante da Rede Alerta contra o Deserto Verde/IPPUR) – Volta Redonda – RJ
- Ricardo Stanziola (professor e advogado ligado à RENAP) – São Paulo – SP
- Rui Kureda (militante) – São Paulo – SP
- Samuel Marques (militante, trabalha no INCRA com regularização fundiária de Territórios Quilombolas) – Salvador – BA
- Tania Pacheco (militante e pesquisadora) – Rio de Janeiro – RJ
- Teresa Cristina Vital de Sousa (pesquisadora) – Recife – PE
- Tereza Ribeiro (educadora ambiental) – Rio de Janeiro – RJ
- Paulo Torres – Advogado/Professor da UEFS
- Fábio Melo Franco – Fotógrafo Arte em Movimento
- Maurício Lima
- Edmerson dos Santos Reis – UNEB
- Leyli Abdala Pires Boemer – UFSC
- Márcia Aparecida L. Vieira/UNIMEP (Universidade Metodista de Piracicaba/SP)
- Fernanda de Lourdes Almeida Leal – UF de Campina Grande
- Ludmila O. H. Cavalcante – UEFS
- José Jonas Duarte da Costa – UFPB
- Maria Iolanda Maia Holanda – UFC
- Guiomar Germani – GeografAR/UFBA
- Maria do Socorro Xavier Batista – UFPB
- Alessandro Azevedo – UFRN
- Deiziane Lima Cavalcante/UFC – RESIDÊNCIA AGRÁRIA
- Fernanda de Lourdes Almeida Leal – UF de Campina Grande
- Dilene Gonzaga – Projeto MOVA BRASIL/INSTITUTO PAULO FREIRE
- Nelbi Alves da Cruz – UNIR
- Maria Isabel Antunes Rocha/EduCampo/UFMG
- Maristela Dal Moro – UFRJ
- Maria Inês Escobar Costa – UFC
- Conceição Paludo – UFPE
- Vitor Sarno – Analista Ambiental/Ibama
- Roberta Graf – doutora em Gestão e Política Ambiental pela UNICAMP, servidora do IBAMA/Acre
- Luana Brito – estudante de gestão ambiental, UNINORTE-ACRE
- Urbano Félix Pugliese do Bomfim – Professor Auxiliar da UNEB – Jacobina/BA
- Lilian Lindoso
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