Nei Lopes esteve no domingo ao lado do escritor angolano Pepetela, a participar num debate sobre “África — Brasil: transas literárias, transes existenciais” no espaço do “Café Literário” da Bienal.
“Temos que admitir que o Brasil é composto por uma sociedade altamente preconceituosa, racista e excludente. Chegou a hora de reescrever essa história, somos protagonistas dela também, assim como o continente africano é protagonista nos momentos importantes do mundo. Isso tem que ser dito, se não fosse a África, o mundo ocidental não teria crescido do jeito que cresceu”.
O autor lembra que antes era uma “ofensa” dizer que alguém tinha origem afro descendente.
“A aproximação da cultura africana era, para os meus pais, extremamente desfavorável. Não era alguma coisa que se desejasse para um filho o envolvimento com a cultura africana. Conotava atraso, negatividade, opressão e racismo”, analisou.
Nei Lopes passou a dedicar-se aos estudos da população negra de origem banta, que foi maioritária no Brasil durante o período do tráfico atlântico desde o século 16 até o final da escravatura.
O intelectual e compositor chegou a lançar um dicionário banto no Brasil que foi “execrado” pela crítica.
“Há palavras de origem banta que se instalaram no vocabulário de língua portuguesa”, apontou.
Nei Lopes diz-se crítico a uma certa perspetiva de que a “África não tinha história”.
Para o estudioso brasileiro, há a necessidade de abordar o estudo da história do continente africano não apenas sob o ponto de vista da escravidão “com todo o ranço e viés preconceituoso”, disse.
“Estamos agora num momento no Brasil com ações afirmativas contra o preconceito aos afro descendentes. Há uma legislação que estabelece a obrigatoriedade de se ensinar a história da África e afro-brasileira nas escolas públicas.
Nei Lopes também caracteriza a forte presença do preconceito e da “visão estereotipada” que existe na literatura quando se trata de África.
“O agravante é que a forma mais popular de literatura e mais massiva são as telenovelas que continuam a trabalhar no registo do estereótipo”, discute.
A Bienal Internacional do Livro no Rio de Janeiro decorre até 11 de setembro e a expetativa é que os 950 expositores sejam visitados por 600 mil pessoas.
Dos 120 autores convidados, pelo menos 20 são internacionais como Gonçalo M. Tavares e Pepetela.
Durante o certame serão lançados cerca de mil livros.
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