Para especialistas, a implementação dessa variedade geraria impactos ambientais preocupantes em microbacias hídricas e no meio ambiente
Por Vivian Fernandes, Brasil de Fato
A reunião da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), desta quinta-feira (5), que iria decidir sobre a liberação de novas variedades de plantas transgênicas no Brasil foi ocupada por cerca de 300 camponeses da Via Campesina.
Com o protesto, ocorrido em Brasília, a reunião foi interrompida. Antes da ação, já havia sido aprovado o milho resistente ao 2,4-D e haloxifape, classificados como altamente tóxico e extremamente tóxico, respectivamente. No entanto, não foi votado o eucalipto transgênico.
De acordo com Leonardo Melgarejo, representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) junto à CTNBio, a decisão sobre a variedade do eucalipto não ocorreu pois a sessão foi interrompida pelo protesto antes de apresentado esse ponto da pauta.
“A tramitação exige que os pareceres sejam lidos e depois ocorra a votação. No caso, o Paulo Kageyama [professor da USP] não leu seu parecer sobre o eucalipto. Caso saia alguma informação que o eucalipto transgênico foi aprovado, isso se trata de um equívoco”, explicou.
Melgarejo adiantou ainda que a liberação dessa variedade será decidida na próxima reunião do órgão, quem tem previsão de ocorrer na primeira quinzena de abril.
Para Atiliana Brunetto, integrante da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o histórico dessas decisões vai contra a legislação brasileira e à Convenção da Biodiversidade do qual o país é signatário.
“O princípio da precaução é sempre ignorado pela CTNBio. A grande maioria de seus integrantes se coloca a favor dos interesses empresariais das grandes multinacionais, em detrimento das consequências ambientais, sociais e de saúde pública”, afirma.
Ela ainda aponta que todo transgênico aprovado significa mais agrotóxicos na agricultura, já que os pacotes aprovados para comercialização sempre incluem um tipo de veneno agrícola.
O pedido de liberação do eucalipto transgênico, conhecido como H421, é feito pela empresa de biotecnologia FuturaGene, da Suzano Papel e Celulose. A sede da companhia na cidade de Itapetininga, interior de São Paulo, foi ocupada, na manhã desta quinta-feira, por cerca de mil mulheres do MST. O local da manifestação é onde ocorrem os testes com esse eucalipto geneticamente modificado.
Para especialistas, como o pesquisador da USP Paulo Kageyama, a implementação dessa variedade de eucalipto geraria impactos preocupantes em microbacias hídricas, pois essa planta passaria a demandar ainda mais água para seu cultivo, além de outros efeitos nocivos a outros tipos de produções agrícolas, ao meio ambiente e à saúde.
Tanto o protesto de São Paulo como o do Distrito Federal fazem parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres Camponesas, que ocorre durante a primeira quinzena do mês de março.