Em busca de conforto, neozelandeses adotam estilo ‘hobbit’ e andam descalços no verão

Da esq. à dir.: o barista Pascal Reuck, 20; o tatuador Liam Parks, 18; o engenheiro Will Black, 37; e um transeunte maori
Da esq. à dir.: o barista Pascal Reuck, 20; o tatuador Liam Parks, 18; o engenheiro Will Black, 37; e um transeunte maori. Foto: Thais Sabino

No país onde foi filmada a trilogia ‘O Senhor dos Anéis’, sair de casa sem sapatos é hábito motivado pelo bem-estar e cultivado desde a infância

Conhecida pelas distintas paisagens, a Nova Zelândia ganhou notoriedade com os filmes da série O Senhor dos Anéis, dirigidos pelo neozelandês Peter Jackson e filmados em locações espalhadas pelo país. Apesar de a trilogia ser ambientada em um universo fantástico, relatando fatos da Terra Média distantes do mundo real, existe um ponto em comum entre os filmes de Jackson e a realidade na terra dos “kiwis”, como é conhecida a população local.

Assim como os hobbits de J.R.R. Tolkien, os neozelandeses também têm o costume de andar descalços. E seus pés nus não são vistos apenas em parques e praias, mas também pelas ruas da cidade, em supermercados, lojas e restaurantes.

Com a aproximação do verão, os dias cada vez mais quentes impulsionam o hábito descontraído e livre dos neozelandeses.  A preocupação com as tendências das passarelas de moda passa longe dos guarda-roupas das pessoas comuns. Afinal, se é mais confortável caminhar sem sapatos, “por que não?”, perguntam-se os neozelandeses. Até mesmo o aclamado diretor neozelandês, laureado com prêmios internacionais por suas produção, já foi visto fazendo compras com a atriz Kate Winslet em Wairarapa sem qualquer calçado para proteger os pés. Percorrendo as ruas de Auckland, o motivo principal para quem caminha descalço sem qualquer preocupação é um só: o conforto.

“Eu não sei se tem algo relacionado à saúde, mas sei que deixar os pés abafados o dia inteiro não faz bem. Eu adoro andar descalço pela cidade, gosto de sentir o chão, e me sinto mais confortável”, disse o barista Pascal Loksd Reuck, de 20 anos. Morador da região oeste de Auckland, Pascal ficou surpreso com a pergunda de Opera Mundi e devolveu: “Não fazem isso no Brasil?”. Para ele, sair de casa sem sapatos é algo cotidiano e, com exceção de quando vai trabalhar em um local específico, Pascal não perde a oportunidade de “deixar os pés respirarem”. As ruas limpas e quase sem lixo colaboram para o costume: o barista vai com frequência a lojas e caminha sem preocupação pelas ruas do centro de Auckland.

Na zona norte de Auckland, neozelandês entrega o jornal de casa em casa com os pés descalços
Na zona norte de Auckland, neozelandês entrega o jornal de casa em casa com os pés descalços

Hábito de infância

Na saída das escolas primárias da Nova Zelândia, é comum ver crianças vestindo uniforme completo, mas sem calçados nos pés. E, para o tatuador Liam Parks, 18 anos, é esse período que influencia no hábito enraisado na vida adulta. “Nós crescemos rodeados de natureza, passamos muito tempo descalços nas praias e parques e acabamos trazendo esse costume com a gente”, contou. É o que reforçou o engenheiro Will Black, de 37 anos: “Quando eu era criança, passava muito tempo ao ar livre e sempre brincava descalço na escola. Cresci e isso continuou parte do meu cotidiano”.

Morador de Christchurch, cidade localizada na Ilha Sul do país, Will se considera um neozelandês tradicional. “Eu vou descalço a vários lugares, seja supermercado, parque ou a casa de um amigo. Também faço corrida sem calçados pelas ruas”, contou. Para ele, deixar os pés respirarem é uma forma de relaxar e sentir a energia que vem do chão. Além disso, não existe a preocupação com o sapato que vai usar, se vai estragá-los em alguma poça d’água, lama, na areia ou na grama.  “A gente poupa tempo de calçar e escolher o calçado, é prático, e me sinto mais conectado com o que está ao meu redor”, reforçou Liam.

O barista Toby Smith [na foto, à direita], 26 anos, levantou uma razão mais voltada à energia para o costume de andar descalço. Ele, que vive no centro de Auckland, encontra no contato com o solo uma espécie de recarga de boas vibrações. Toby vai a diferentes lugares sem calçados pela praticidade: lojas, restaurantes e supermercados. No entanto, a experiência que ele mais gosta é de caminhar pelo Albert Park sem usar nada nos pés. “Quando você sente a grama, fica mais conectado com a Terra”, disse ele. O barista especula que o costume neozelandês deve ser um “hábito” de quem mora em ilha, pela proximidade com o oceano e contato com a natureza.

O estilo “hobbit” é tão tradicional entre os kiwis que virou até propaganda da companhia aérea Air New Zealand. Em um vídeo de segurança inspirado no filme, os passageiros aparecem vestindo roupas baseadas nas tendências da Terra Média e nada nos pés. Nem todos os lugares, porém — inclusive nos aviões da empresa aérea neozelandesa —, permitem o acesso sem calçados. Segundo Liam, empresas grandes não costumam gostar do hábito e algumas até o proíbem. “No supermercado, mesmo, alguns funcionários ficam olhando com ar de reprovação”, acrescentou.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.