A pró-reitora de Assuntos Estudantis e Cidadania, Jacqueline Silva, reconhece que alguns processos são mais morosos, mas garante que nada deixa de ser apurado
Mariana Carvalho, Século Diário
O caso do professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) que declarou em sala de aula que “detestaria ser atendido por um médico ou advogado negro” ganhou repercussão nacional e causou revolta na comunidade acadêmica. Entretanto, a denúncia de racismo contra Manoel Luiz Malaguti, docente do curso de Economia, está longe de ser o primeiro caso de preconceito dentro Ufes.
Apesar do caso de Malaguti ter provocado grande repercussão, a universidade tem um histórico de discriminação.
Semanas antes do episódio, que resultou no afastamento do professor da sala de aula, Malaguti se envolveu em outro caso de discriminação. Pelas redes sociais, um estudante cadeirante denunciou Malaguti por estacionar seu carro em local irregular, obstruindo a rampa de acesso ao prédio para o qual o estudante se direcionava. “Passados 30 minutos, o senhor professor [Malaguti] dono do veículo aparece de forma irônica e desrespeitosa se achando dentro da razão, e nos ataca de forma verbal”, escreveu o estudante em um grupo da Ufes.
Num outro caso recente, alunas do curso de Comunicação Social promoveram o ato “Respeite a Moça”, após a publicação de estudantes do curso comparando pejorativamente uma colega a um personagem do cinema através das redes sociais. As alunas caminharam por toda a universidade com cartazes e palavras de ordem, protestando contra o machismo.
Estes casos, todos em um intervalo curtos, muitas vezes não repercutem com a mesma intensidade. Entretanto, na avaliação dos estudantes, estão longe de serem exceções dentro do espaço acadêmico. Essa é a visão de Helon Oliveira, que ocupou a cadeira de Diretor de Igualdade Racial na gestão de 2014 do Diretório Central dos Estudantes (DCE). “Essa questão é uma constante na universidade, localizar o racismo na fala do professor Malaguti é perigoso”, afirma o estudante.
Para ele, a opressão sempre esteve presente no espaço universitário, mas com o aumento do debate sobre a diversidade, os casos geram reações e ganham visibilidade.
Rayane Marinho, que esteve à frente da Diretoria de Gênero e Igualdade Sexual na mesma gestão do colega, também afirma que estes não são casos isolados. “A universidade reproduz o que a realidade apresenta. Essa é a expressão de uma sociedade preconceituosa e todos estão sujeitos a isso”, completa a estudante.
Os estudantes também apontam o papel da reitoria no combate aos preconceitos. Para eles, a reitoria da Ufes é omissa diante destes casos. “A administração não reconhece que essas práticas conservadores estejam acontecendo dentro da Ufes”, afirma Helon.
A pró-reitora de Assuntos Estudantis e Cidadania (Proaeci), Jacqueline Silva (foto), destaca o comprometimento da reitoria da Ufes com a diversidade. “A gestão atual é comprometida com a pluralização e repudia todas as formas de preconceito. Acreditamos que o ensino também se dá através da possibilidade de viver as diferenças”, destaca a professora.
A Proaeci foi criada em abril de 2014, com o papel de fomentar ações de promoção da diversidade. A pró-reitora destaca, entre as ações do órgão, o projeto “Todos Somos Ufes”, uma campanha realizada todo inicio de semestre para receber os calouros, para promover a diversidade através de oficinas, palestras e eventos, em parceira com os núcleos de pesquisa que trabalham essa questão no meio acadêmico.
Neste ano, as estudantes mães que fazem parte do programa de assistência estudantil tiveram seu direito de alimentação no restaurante universitário estendido aos filhos menores. Os travestis e transexuais da Ufes também já podem usar o nome social, de acordo com sua identidade de gênero. Segundo Jacqueline, a pró-reitoria também têm apoiado uma série de eventos e ações que promovam a diversidade e o combate à opressão das minorias.
Sobre as afirmações dos estudantes de que a administração da Ufes é omissa diante dos casos de preconceito, a pró-reitora afirma que, como serviço público, a universidade tem o papel de investigar todos os processos de acordo com os regulamentos da instituição e por isso, alguns processos acabam sendo mais demorados do que o desejo dos estudantes.
Para que a punição ocorra, acrescenta Jacqueline Silva, é preciso que as denúncias sejam feitas com fundamentos e provas nos órgão competentes. “Temos vários órgãos que recebem essas denúncias: coordenadorias de curso, departamentos, a ouvidoria e a própria Proaeci”, conclui a pró-reitora.