É uma expressão cultura afro-brasileira que mescla percussão e dança coletiva
Rogério Verzignasse – Correio Popular
Recursos do governo federal vão financiar ações voltadas à preservação da arte. A inauguração do centro ocorre no mesmo dia da abertura do festival que todos os anos celebra a consciência negra. Durante todo o mês, acontece na cidade uma programação ampla de debates, homenagens e espetáculos.
O campineiro que já teve a oportunidade de passar pela fazenda se divertiu muito com rodas de samba, exposições, rodas de capoeira. Mas a agenda especial de novembro atrai para os salões pesquisadores, historiadores, lideranças sociais. Eles detalham como a cultura afro passou a fazer parte da identidade nacional. E os valores negros vão muito além da música ou da gastronomia. Estão presentes nas manifestações religiosas, nos movimentos políticos e sociais, nas causas comunitárias.
Em Campinas, a Comunidade Jongo Dito Ribeiro difunde a manifestação cultural que, desde 2005, é reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Oito anos depois – em 2013 – a arte também se tornou patrimônio imaterial de Campinas. Na visão dos mantenedores, o respaldo do poder público confirma que as formas de expressão estão enraizados no cotidiano local.
Agentes culturais campineiros tiveram atuação estratégica no processo que culminou com o repasse de R$ 350 mil ao grupo. A verba chegou por meio de uma parceria com a Associação Núcleo Interdisciplinar de Narradores Orais e Agentes de Leitura (Nina Griô), que reúne em Campinas, desde a década de 90, educadores, atores, artistas visuais, arteiros digitais e contadores de histórias. A Nina Griô,no caso, representação jurídica do convênio, recebe o dinheiro e o repassa integramente aos projetos executados pela comunidade afro.
Iteração
A comunidade jongueira agora passa a ser vista como um espaço onde podem interagir as criações artísticas, as tecnologias sociais, as práticas pedagógicas. “Com o estímulo à tradição oral, a sociedade conhece a si mesmo, e trabalha para melhorar a realidade” , afirma Marcelo Ricardo Ferreira, membro do grupo.
E a verba já está sendo usada para identificação, organização e a estruturação de diversos outros núcleos jongueiros paulistas, como os sediados em cidades como Embu das Artes, Piquete, São Luís do Paraitinga, Guaratinguetá e São José dos Campos. O grupo campineiro também localizou em Indaiatuba, por exemplo, descendentes de antigos jongueiros de Barra do Piraí (RJ).
Acervo
O casarão sede da Fazenda Roseira guarda um acervo precioso, que remete à história da comunidade negra campineira. O prédio de pau-a-pique fica no coração de uma gleba de mata preservada, que resistiu à urbanização desenfreada da região. O verde permanece encravado entre os superpopulosos Jardim Roseira e Jardim Ipaussurama. O imóvel impressiona pelos seus janelões, assoalhos de madeira, azulejos decorativos.
Pelos 15 cômodos enormes, se espalham máscaras de rituais, cabaças, sinetas, fotografias, trajes típicos. O imóvel, no passado, pertenceu a importantes produtores rurais. À medida que a antiga fazenda foi loteada, aquele trecho foi preservado como área pública de lazer.
Em 2008, a comunidade negra organizada, com lideranças reconhecidas pelo poder público, ocupou o imóvel, que se degradava. Foi um processo nervoso, que envolveu os antigos proprietários, que exigiam a desocupação. A Prefeitura, hoje, é a proprietária legal do prédio. E a comunidade afro ainda sonha com a posse definitiva.
Eventos
A sexta edição do festival Sou África em Todos os Sentidos, que concentra as atividades do mês da cultura negra, debate neste ano a evolução histórica da cultura negra em Campinas. Os convidados vão mostrar como as matrizes culturais africanas se firmaram e se expandiram por aqui.
Estão previstos filmes, mostras artísticas, saraus, trocas de experiências entre os agentes culturais. A fazenda, espaço da resistência, fica aberta às mais plurais interações. As pessoas interessadas em conferir a programação completa do Mês da Cultura Negra podem acessar aqui.
O acesso à gleba é feito pela Avenida John Boyd Dunlop, bem na frente do campus 2 da PUC-Campinas. A sede fica na Rua Domingos Haddad, s/nº, ao lado de um condomínio residencial do Jardim Roseira. Os contatos com a Comunidade Jongo Dito Ribeiro podem ser feitos pelo telefone (19) 99134-3922 (Alessandra).
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.