Gesto dos seis concorrentes que dividiram prêmio revela: todos podemos explorar, em atos quotidianos, as brechas do sistema. Para tanto, é preciso ir além da crítica retórica
Por Graziela Marcheti, em Outras Palavras
Aconteceu no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e faz acreditar no poder das brechas do mundo. E, mais ainda, que podemos e devemos ocupar os lugares de forma reflexiva e política.
Depois de vários dias de encontros e trocas intensas, os seis concorrentes da Mostra Competitiva optaram por repartir em seis partes iguais o prêmio único de 250 mil reais, oferecido ao vencedor. Eles poderiam “apenas” criticar a organização do Festival por gerar uma condição de intensa competição e (por que não?) inveja entre os concorrentes – já que o valor é bastante alto e concentrado em apenas um ganhador. E, assim, o vencedor seria “crítico” e certamente faria bom uso da bolada. Mas, eles foram um pouquinho além. Os seis escolheram partilhar o dinheiro, antes do resultado do prêmio. Isso muda, de fato, a condição de competição, desigualdade e falta de cooperação que o formato do festival incentiva. Isso muda a experiência. E é a partir dela que formamos nossos mais arraigados entendimentos de mundo. (mais…)