Lutas.doc: 1 – Guerra sem fim? [a violência com os povos indígenas] e os outros quatro documentários

Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental

O documentário Lutas.Doc, dividido em cinco vídeos de menos de 30 minutos dirigidos por Luiz Bolognesi e Daniel Augusto, é uma co-produção da Gullane e da Buriti Filmes em parceria com a TV Brasil, lançada em 2010. O material é bem interessante para quem está se aproximando de uma análise crítica da nossa História. A lamentar o espaço gasto com depoimentos de políticos e ex-presidentes (felizmente minoritários), que poderia ter dado lugar a um maior aprofundamento crítico.

Neste primeiro vídeo, o assunto não poderia ser mais atual: a violência na relação dos invasores com os povos indígenas. Abaixo, trechos do material de lançamento, produzido pela EBC, e, em seguida, os demais vídeos, com a sinopse publicada na ocasião. (mais…)

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Galeano fala sobre Literatura, Política… e Mujica!

Galeano

Em entrevista na Bienal do Livro de Brasília, ele debate esquerda (no poder e nas letras…), futebol, idade, câncer e… Mujica!

Por Cynara Menezes, em Socialista Morena

Em 1998, entrevistei a escritora Rachel de Queiroz (1910-2003) e ela me confessou sentir “antipatia mortal” por O Quinze, o clássico da literatura brasileira que publicou aos 20 anos, em 1930, e que, desde então, seria sua “obra mais importante e mais popular” (tudo quanto é enciclopédia se refere assim ao livro). O mesmo acontece com As Veias Abertas da América Latina e o escritor uruguaio Eduardo Galeano.  Publicado em 1971, quando Galeano tinha 30 anos, a obra até hoje o persegue. É sempre nomeado como “o autor de As Veias Abertas…“, o que, pelo visto, o incomoda mesmo porque tem mais de 30 livros além dele.

Na entrevista coletiva que deu na sexta-feira 11 em Brasília, onde veio para ser o escritor homenageado da 2ª Bienal do Livro e da Leitura, Galeano ouviu provavelmente a milionésima pergunta sobre Veias Abertas. “Faz 40 anos que você escreveu As Veias Abertas da América Latina. Quais são as veias abertas hoje em dia?” E ele, em um português bastante razoável: “Seria para mim impossível responder a uma pergunta assim, especialmente porque, depois de tantos anos, não me sinto tão ligado a esse livro como quando o escrevi. O tempo passou, comecei a tentar outras coisas, a me aproximar mais à realidade humana em geral e em especial à economia política – porque As Veias Abertas tentou ser um livro de economia política, só que eu ainda não tinha a formação necessária. Não estou arrependido de tê-lo escrito, mas é uma etapa superada. Eu não seria capaz de ler de novo esse livro, cairia desmaiado. Para mim essa prosa de esquerda tradicional é chatíssima. O meu físico não aguentaria. Seria internado no pronto-socorro… ‘Tem alguma cama livre?’, perguntaria.” Risadas. (mais…)

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Populações indígenas são as mais afetadas por injustiças ambientais, por Joan Martinez-Alier

Criança da etnia Xikrin em aldeia na beira do rio Bacajá, um dos afluentes do rio Xingu que será impactado pela usina hidrelétrica de Belo Monte. Proliferação de usinas na Amazônia atingem diretamente povos indígenas. Foto: Felipe Milanez
Criança da etnia Xikrin em aldeia na beira do rio Bacajá, um dos afluentes do rio Xingu que será impactado pela usina hidrelétrica de Belo Monte. Proliferação de usinas na Amazônia atingem diretamente povos indígenas. Foto: Felipe Milanez

Para Joan Martinez-Alier, professor da Universidade Autônoma de Barcelona, as populações indígenas e afro-colombianas vivem, muitas vezes, nas fronteiras da extração de commodities.

Tradução de Felipe Milanez, em seu Blog

No recém lançado Atlas do EJOLT (Environmental Justice Organizations, Liabilities and Trade), um sucesso provocando grande interesse, podemos investigar se as populações indígenas estão ou não envolvidas nos milhares de conflitos ambientais que coletamos até o momento. Temos duas questões sobre esse tópico na Database Form. Uma questiona se populações etnicamente descriminadas são afetadas, a outra pergunta se são as populações indígenas ou tradicionais as afetadas. As duas questões estão ambas em uma lista aberta, e não são mutuamente exclusivas. A segunda questão inclui não apenas comunidades indígenas, mas também comunidades tradicionais de camponeses, pescadores, garimpeiros artesanais, ribeirinhos, seringueiros, castanheiros…, que pertencem à mais comum nacionalidade de um país ou região.

Os resultados dessas duas questões foram selecionados e publicados na Colômbia por Mario A Perez. Eles mostram que comunidades indígenas (de origem pré-hispânica) e afro-colombianos (para simplificar, resguardos e palenques) são desproporcionalmente afetados por injustiças ambientais decorrentes de conflitos abertos.

Em um artigo no principal jornal colombiano, El Espectador, Carlos Andrés Baquero utiliza esse banco de dados para mostrar a incidência de conflitos ambientais contra minorias indígenas e afro-colombianas. Dos 72 casos de conflitos que já foram catalogados algumas semanas atrás, essas minorias étnicas estão envolvidas em 42 deles, uma proporção muito maior do que a sua presença na população total. Outro ponto é que as comunidades indígenas ainda são atingidas duas vezes mais do que as comunidades afro-colombianas. (mais…)

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Carta à Comissão Nacional da Verdade, ao Coordenador Pedro Dallari e demais comissionados sobre o GT Indígena

CNV

As entidades abaixo que assinam este documento, vêm requerer um posicionamento frente ao conflito, no mínimo ético, existente no grupo de trabalho Graves violações de Direitos Humanos no campo ou contra indígenas, conforme entrevista e artigo publicados no site Carta Capital em 29/03/2014 (Anexos 1 e 2) e demais pontos abaixo.

Diferente do exposto pela coordenadora do GT, entendemos que existe sim este conflito com a permanência do colaborador Inimá Simões na CNV, por ser parente direto (filho) de pessoa envolvida em denúncia a ser investigada pela Comissão Nacional da Verdade.

1. Seu pai, Itamar Zwicher Simões, foi acusado no Relatório Figueiredo, entre outras coisas, de praticar maus tratos e escravização de indígenas. Após o término das investigações foi solicitado seu afastamento do SPI a bem do serviço público e teve denúncia formalizada pelo estado brasileiro através do Processo nº 14857/68, que se encontrava em 28/05/1968 no Departamento de Polícia Federal, portanto dentro do prazo estipulado pela lei que criou
a CNV e passível de investigação pela comissão.

2. As pesquisas voluntárias em desenvolvimento pela sociedade civil, apontam também a necessidade de investigação da existência de cadeia clandestina no Posto Indígena do antigo Serviço de Proteção ao Índio no estado de São Paulo em Icatu. Nesta época Itamar Zwicher Simões, exercia aí, função de CHEFE DE POSTO.

A interpretação de que o colaborador, por não receber recurso diretamente da CNV, mantenha com esta um vínculo meramante voluntário, não se sustenta no caso em questão, pois este atua sem remuneração por estar cedido pela Câmara dos Deputados, onde trabalha efetivamente e recebe seus proventos. (mais…)

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Repetindo pela importância: Vídeo mostra indígenas desfilando com gente no pau-de-arara e sugere que ditadura ensinou indígenas a torturar

 

Tania Pacheco – 

Este vídeo, que postamos pela primeira vez em 12 de novembro de 2012, foi descoberto por Marcelo Zelic no Museu do Indio. Feito pelo documentarista Jesco von Puttkamer (1919-94), foi escondido por seu autor –  certamente buscando preservá-lo nos tempos da ditadura – num rolo comum, com a legenda “Araras”. No curto vídeo, Jesco von Puttmaker mostra cenas da formatura da primeira Guarda Rural Indígena, em 1970, incluindo o ponto alto: o desfile de dois índios carregando um companheiro no pau de arara.

Deixo, abaixo, os títulos linkados das duas ótima matérias de Laura Capriglione, a respeito da GRIN e do vídeo em si.

Imperdível: “Como a ditadura ensinou técnicas de tortura à Guarda Rural Indígena”

Vídeo mostra indígenas desfilando com gente no pau-de-arara e sugere que ditadura ensinou indígenas a torturar (com texto)

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Marcelo Zelic: Graves violações contra Povos Indígenas e a Comissão Nacional da Verdade

Cena do filme "Arara", de Jesco von Puttmaker, que mostra cenas da formatura da 1ª turma da Guarda Rural Indígena, em 1970
Cena de filmagem feita por Jesco von Puttmaker, descoberta por Marcelo Zelic, que mostra cenas da formatura da 1ª turma da Guarda Rural Indígena (GRIN), instituída pela ditadura, em 1970. Ilustração postada por este blog.

Trazer à luz do dia as graves violações de direitos humanos contra os povos indígenas, no período em estudo na Comissão Nacional da Verdade (CNV), é fundamental para que nossa sociedade reconheça os crimes praticados contra a pessoa do índio, seus povos, territórios e direitos constitucionais.

Reconhecer esses crimes, significa incluir os povos atingidos pela violência do estado, por ação e omissão, no processo de justiça de transição em curso no país e ao reconhece-los, desdobra ao estado brasileiro promover a reparação a estes direitos individuais e coletivos violados, expor a verdade sobre o que viveram, fazer justiça sobre os fatos levantados, proporcionar a continuidade de apuração dos fatos que não foram esclarecidos e também promover mudanças de conduta dos entes e agentes do estado para com o cidadão indígena brasileiro, reafirmando seus direitos e educando a sociedade a respeitálos.

A justiça de transição no Brasil segue o mesmo processo lento e gradual que pautou o ritmo e o modelo de anistia aplicado no país no final da década de 1970 e traz em si os mesmos vícios de conduta do estado, quando teve de lidar com a questão das violações cometidas contra os ativistas das organizações de esquerda que combateram a ditadura.

Hoje, a história se repete e não só nas violências cotidianas contra estes povos em muitas regiões do país, mas também na forma de lidar com um conjunto de revelações que foram apontadas pela sociedade civil e comunidades indígenas à Comissão Nacional da Verdade. (mais…)

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A Via Sacra dos Índios, por José Ribamar Bessa Freire

via sacra bessa 1Em Taqui Pra Ti

A Semana do Índio celebrada nas escolas do Brasil coincidiu este ano com a Semana Santa, quando o mundo cristão rememora a paixão e morte de Cristo. Em Brasília, na Esplanada dos Ministérios, a II Bienal Brasil do Livro e da Leitura programou no sábado de aleluia, Dia do Índio, o seminário Narrativas Contemporâneas da História do Brasil.
Numa das mesas, no Auditório Jorge Amado, a índia Fernanda Kaingang, advogada com mestrado em Direito Público, debate as desigualdades sociais no Brasil com Muniz Sodré, Afonso Celso e este locutor que vos fala.
Qual é o índio celebrado cada ano, em abril, que emerge nas narrativas da história do Brasil? O índio de Pero Vaz de Caminha que permanece no imaginário dos brasileiros? Aquele escravizado pelos bandeirantes ou o catequizado pelos missionários? O índio da senadora Kátia Abreu e do agronegócio “obstáculo ao progresso”? Ou o das descrições etnográficas dos antropólogos, que nos ensina que outro mundo é possível? O “índio atrasado” ou o que acumulou sofisticados saberes? A vítima do colonialismo ou o combatente que resistiu?
Afinal, qual o pedaço de nós que comemoramos no Dia do Índio? Ou ele não é parte de nós? No século XVI, na polêmica com o advogado Sepúlveda, Bartolomeu De Las Casas afirmou que durante todo o período colonial milhares de Cristos foram crucificados na América, sem a esperança da ressurreição. Testemunha da dor, do sofrimento e da resistência dos índios, Las Casas descreve o trajeto seguido por eles carregando a cruz numa via sacra dolorosa, que vai do Pretório Ibérico até o Calvário, de 1492 aos dias atuais.

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