José Lisboa Moreira de Oliveira* – Adital
No último artigo abordei a questão dos golpes e das ditaduras no Brasil. Esforcei-me para mostrar que essa é uma prática comum há mais de quinhentos anos, desde que esse lugar, que hoje se chama Brasil, foi invadido pelos portugueses. Neste artigo quero refletir sobre a atitude das Igrejas diante desses golpes. Chamo a atenção para o plural, pois aqui quero falar de todas as Igrejas e não apenas da Igreja Católica Romana.
Até o final do Império, a Igreja Católica Apostólica Romana era a religião oficial do Brasil. Por essa razão ela detinha também a hegemonia e, com isso, impedia ostensivamente o ingresso e o avanço de outras Igrejas no país. Somente no final do Império e no início da República as Igrejas protestantes históricas começaram a ganhar visibilidade por meio dos imigrantes europeus que se estabeleceram no sul do Brasil, particularmente os alemães. Por esse motivo podemos afirmar que a Igreja Católica Romana foi a única Igreja a presenciar e a apoiar os golpes aplicados nesse período.
Sabemos que durante o período da colonização e do Império a Igreja Católica Romana foi totalmente conivente com o que aconteceu. Naquele período era normal a política da boa convivência entre a cruz e a espada. A Igreja Católica Romana simplesmente ratificava o que o Estado e a elite realizavam. Algumas vozes se levantaram contra os abusos, mas, além de serem vozes isoladas, foram totalmente reprimidas. É o caso, por exemplo, do jesuíta Antônio Vieira que, por denunciar os desmandos e horrores contra os indígenas e contra os judeus foi incompreendido, perseguido e, por fim, silenciado. Escapuliu por pouco da Inquisição. (mais…)