Não gosto muito de escrever textos assim, no calor do momento, mas acho que dessa vez vai com emoção mesmo, porque o caso passou dos limites. Principalmente porque seria melhor esclarecer vários pontos dessa história, que não é tão simples como parece. Por enquanto, o que se sabe é que a ideia partiu do pai do Neymar, que me parece ser também quem gerencia seus negócios: “O pai do Neymar nos telefonou e pediu que criássemos alguma coisa. Surgiu essa ideia de que a melhor maneira de acabar com o preconceito é usar isso”, disse Guga Ketzer, sócio e vice-presidente de criação da agência Loducca, que é responsável por essa campanha envolvendo Neymar e auxilia o jogador em relação à publicidade. Campanha que, aliás, Guga Ketzer tenta revestir de outro nome, mais palatável, chamando-a de “movimento”.
Talvez, inclusive, para pegar carona na ideia de movimento negro. Segundo ele, a campanha criada pela agência, junto com o staff de Neymar, não tem teor publicitário, pois não estão vendendo nada. Ora, mas é exatamente esse o princípio das agências de publicidade, que conheci bem trabalhando na área por mais de 13 anos: vender alguma coisa enquanto fingem que estão prestando um favor. É claro que estão vendendo a imagem de seu cliente como o garoto propaganda do antirracismo na Copa, já que tem sido amplamente divulgado que esse seria o mote, “Copa Contra o Racismo e Pela Paz”. Eu, com certeza, aplaudiria a atitude de Neymar e de seu pai se, em vez de procurarem uma agência de publicidade (será que pagaram pela campanha, receberam, ou foi na base de troca de visibilidade?), procurassem instituições ou pessoas que entendem de luta antirracista. Ou usassem o prestígio do jogador para colocar a agência a serviço dessas instituições. Porque o que se viu foi um case de grande alcance, e com um resultado extremamente danoso para quem leva a luta à sério e não apenas na época em que dá visibilidade.
O ativista Douglas Belchior explica: “O racismo é algo muito sério. Vivemos no Brasil uma escalada assombrosa da violência racista. Esse tipo de postura e reação despolitizadas e alienantes de esportistas, artistas, formadores de opinião e governantes tem um objetivo certo: escamotear seu real significado do racismo que gera desde bananas em campo de futebol até o genocídio negro que continua em todo o mundo.” (mais…)