A saga do homem do campo

A valorização do homem do campo é um dos temas da exposição itinerante Sentimentos da terra, que ficará aberta ao público até sexta-feira (21/03) na Fundação Oswaldo Cruz. (foto: Bruno Figueiredo)
A valorização do homem do campo é um dos temas da exposição itinerante Sentimentos da terra, que ficará aberta ao público até sexta-feira (21/03) na Fundação Oswaldo Cruz. (foto: Bruno Figueiredo)

Caminhão-museu que percorre o Brasil com exposição itinerante sobre a história da luta pela terra no nosso país chega ao Rio de Janeiro

Ciência Hoje – Há um Brasil que muitos não veem: é o país dos conflitos agrários; das mortes violentas no campo; do sangue derramado em nome do direito à terra. Soa como o datado papo esquerdista dos anos 1980, é verdade. O problema é que a questão agrária – um dos mais profundos dramas históricos de nosso país – continua mal resolvida.

A velha discussão ganha novo fôlego. Um museu itinerante – montado na carroceria de um caminhão – percorre o Brasil há um ano e leva consigo a história dos conflitos de terra em nosso país. É a exposição Sentimentos da terra.

Abordagens as mais variadas, que vão das artes à geografia, fornecem ao visitante uma visão crítica da complexa realidade fundiária brasileira – do século 16 aos dias de hoje.

O espaço tem um monitor interativo, seis computadores com acesso à internet e uma biblioteca especializada – além de duas salas de cinema, onde são exibidos 11 vídeo-documentários, cuja narração fica por conta dos artistas Chico Buarque, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Caio Blat, Dira Paes, José Wilker, Letícia Sabatella, Marcos Palmeira, Regina Casé, Vera Holtz e Wagner Moura.

Duas salas de exibição mostram 11 documentários sobre a história dos conflitos de terra no Brasil. (foto: Bruno Figueiredo)
Duas salas de exibição mostram 11 documentários sobre a história dos conflitos de terra no Brasil. (foto: Bruno Figueiredo)

Vale lembrar: a questão agrária, no Brasil, foi tomada por um estigma. Pois a luta pela terra – a despeito de fazer parte de nossa história há tantos séculos – é comumente reduzida e simplificada à militância de movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e a Via Campesina. “Um dos objetivos da exposição é ressignificar a discussão sobre a reforma agrária e desvinculá-la desses preconceitos”, diz a historiadora Pauliane Braga, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ela é uma das coordenadoras do projeto, e ressalta que a exposição Sentimentos da terra não é militância; é pura pesquisa histórica. “Não temos nenhum caráter ideológico ou partidário.”

Na estrada

Nesta semana, o caminhão-museu está no Rio de Janeiro (RJ). Entre ontem (18/03) e sexta-feira (21/03), a exposição – que é gratuita – fica aberta à visitação na Fundação Oswaldo Cruz, ao lado do Museu da Vida.

A próxima parada é incerta. “Mas, ainda no primeiro semestre, pretendemos levar a exposição para o Norte e para o Nordeste do Brasil”, diz Braga. A cidade de Brasília (DF) também é parte do itinerário.

Biblioteca, monitor interativo e computadores com acesso à internet foram instalados no caminhão-museu Sentimentos da terra. (foto: Bruno Figueiredo)
Biblioteca, monitor interativo e computadores com acesso à internet foram instalados no caminhão-museu Sentimentos da terra. (foto: Bruno Figueiredo)

Desde que começou sua jornada, em 2013, a exposição itinerante Sentimentos da terra já percorreu boa parte do sudeste brasileiro: Belo Horizonte (MG), Jequitibá (MG), Pouso Alegre (MG), Diamantina (MG), Poços de Caldas (MG), Goiânia (GO), São Paulo (SP), Limeira (SP) e Araçoiaba da Serra (SP).

A iniciativa é resultado de uma parceria entre o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Projeto República, da UFMG.

História de luta

Os infindáveis conflitos de terra do Brasil contemporâneo têm sua gênese no modelo de ocupação territorial adotado no século 16 pela Coroa portuguesa. Foi o marco inicial da concentração fundiária.

Hoje, o termo ‘conflitos territoriais’ adquiriu um significado muito mais amplo. Ele se refere não apenas aos tradicionais embates, por vezes deveras violentos, entre campesinos e latifundiários, ou entre militantes sem-terra e forças repressoras do Estado. O conceito engloba desde impasses demarcatórios de terras indígenas até deslocamentos populacionais em função de megaprojetos governamentais, como, por exemplo, construções de grandes usinas hidrelétricas.

Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – órgão que monitora anualmente a evolução dos conflitos territoriais no Brasil – mostram uma realidade violenta ainda longe do que se poderia considerar aceitável em um país cuja economia está entre as dez mais pujantes da cena internacional. Em números absolutos, o número de conflitos tem-se mantido em patamares altos. E o número de assassinatos em nome da terra permanece pouco alterado ao longo da década.

Por trás desses dados, há um cenário crítico: a concentração de terras no Brasil ainda é uma das maiores do mundo. E, segundo muitos estudiosos, nossa realidade fundiária faz vista grossa à própria Constituição Federal – que, no artigo 186, define o princípio da função social da terra. De acordo com a carta magna, uma propriedade rural deve, entre outras coisas, zelar pela preservação do meio ambiente e dos recursos naturais; e promover justas relações de trabalho.

Confira abaixo vídeo sobre a exposição itinerante Sentimentos da terra

Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ruben Siqueira.

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