Aumento nas exportações do agronegócio não é motivo para comemorar

Foto: Emater - RS
Foto: Emater – RS

Para coordenação estadual do MPA, se esse recurso fosse investida na agricultura camponesa, o retorno social seria muito maior

Any Cometti, Século Diário

Nas últimas semanas, o governo do Estado comemorou os números das exportações de produtos do agronegócio, produzidos em solo capixaba em janeiro deste ano. Segundo estatísticas divulgadas, foram 231,1 mil toneladas comercializadas para o exterior. Se comparado a janeiro de 2013, o valor de US$ 151,94 milhões registrado equivale a um aumento de 50,7%. O volume exportado cresceu 84,2%.

Entretanto, a coordenação estadual do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) lembra que um grande retorno financeiro significa que os investimentos governamentais para alcançar tal marca foram tão grandes quanto ou até maiores, como explica Raul Krauser, coordenador do movimento no Estado. Ele admite o crescimento, mas adverte que se a verba governamental, que foi destinada ao setor fosse aplicada à agricultura familiar, não só os retornos financeiros seriam maiores, como também o retorno social. 

Esse processo de produção, que não utiliza agrotóxicos e sementes transgênicas para aumentar a produção, é responsável por 7 de cada 10 empregos gerados no campo. Segundo o Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que levantou dados dos anos de 2006 e 2007 e foi divulgado em 2009, a agricultura camponesa emprega no Brasil 12,3 milhões de pessoas no campo, o equivalente a 74,4% de todos os empregos gerados na área rural, em oposição ao agronegócio, que emprega apenas 25,3% dos trabalhadores do campo, cerca de 4,2 milhões de pessoas.

Além disso, 84,4% dos estabelecimentos da agricultura familiar ocupam apenas 24,3% do território campesino brasileiro, enquanto 15,6% dos estabelecimentos que representam o agronegócio utilizam 75,7% das áreas ocupadas no campo. Se todas essas terras fossem destinadas à agricultura camponesa e familiar, mais pessoas seriam empregadas e assentadas no campo.

Outra questão exposta por Raul é a de que o aumento das exportações não significa uma saciedade do mercado interno. Ele explica que o aumento da quantidade de alimentos enviados para fora do país se opõe à situação de algumas regiões brasileiras, que sofrem com estiagens e cheias prolongadas e precisam de alimentos para manter a população nesses períodos. “O agronegócio é um processo de transferência direta de renda para os países do eixo central”, explica o militante. Raul ainda acrescenta que, por lidar com tecnologias estrangeiras, agrotóxicos e sementes transgênicas, o agronegócio não beneficia a economia local dos municípios rurais, ao contrário da agricultura familiar. Em um ano eleitoral, que é o de 2014, Raul questiona se esse é o modelo de desenvolvimento que a população capixaba deseja.

Por fim, o militante lembra que o debate sobre o real aumento do agronegócio não deve se limitar ao campo, onde este sistema está instalado, mas sim ser levado também à população das cidades, que também são atingidas pelas contaminações das grandes lavouras. O agrotóxico, afinal, não contamina somente os alimentos ao qual é aplicado, mas também atinge o solo e o lençol freático, envenenando, além do alimento, também a água que se consome nos grandes centros urbanos. O Rio Doce, como destaca, é um exemplo disso, já que nasce e percorre uma área de Minas Gerais focada no monocultivo extensivo de grãos.

Raul também lembra o fato das grandes enchentes que aconteceram em dezembro do ano passado, que poderiam ter proporções muito menores se a ocupação do solo no campo fosse feita de outra forma. Por exemplo, com áreas de preservação ambiental corretas e variedade de cultivos, e não apenas com o uso de monoculturas, que acabam por empobrecer o solo e enfraquecer sua capacidade de absorção de água. Como o eucalipto, que além de apenas gerar um posto de trabalho a cada 30 mil hectares, também empobrece o solo devido ao seu monocultivo e ao grande uso de agrotóxicos. Aliás, a celulose, produto do eucalipto extraído  no Estado pela Aracruz Celulose (Fíbria), foi a grande responsável pelo elevado acréscimo tanto na geração de verba, quanto no volume comercializado pelo agronegócio capixaba neste ano.  Segundo informações do governo do Estado, houve uma uma alta de 83% na arrecadação da exportação de eucalipto em janeiro deste ano, se comparado ao mesmo período do ano passado.

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