Movimentos sociais denunciam privilégio à Aracruz Celulose em audiência pública

Foto: http://bit.ly/158pcV3
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Representantes das comunidades impactadas tinham tempo de falas controlado; já defensores da empresa podiam se manifestar à vontade

Any Cometti, Século Diário

Militantes dos movimentos sociais do campo relataram que a audiência pública sobre a ampliação do plantio de eucalipto da Aracruz Celulose (Fibria) em Mucurici, na noite de quarta-feira (23), foi mais um “teatro” preparado pela empresa, no qual aqueles que mantinham posições contrárias à empresa tinham o tempo de fala rigorosamente contado, enquanto os defensores da empresa podiam se manifestar livremente.

Segundo os militantes, havia discrepância entre a pouca participação das comunidades e a enorme presença policial no ginásio, onde também estiveram grandes fazendeiros da região, pesquisadores do município mineiro de Viçosa e representantes do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), todos demonstrando posições favoráveis ao avanço dos plantios de eucalipto na região.

Também estiveram presentes o Ministério Público Estadual (MPES) e um conselheiro técnico, que manifestaram preocupação em relação à concentração de terra, à pobreza e ao êxodo rural no extremo norte.Os militantes também afirmaram que trabalhadores de empresas ligadas à Aracruz foram levados à audiência direto de seus trabalhos e ainda usando uniformes. Eles também apontaram que, mais uma vez, houve a tentativa de vender a imagem do eucalipto como uma planta que recupera as áreas degradadas e não resseca a água do solo. Dessa vez, a opinião foi apontada pelos pesquisadores de Viçosa, que chegaram a atribuir a culpa de quase 100% das áreas degradadas no Estado à pecuária.

Os movimentos sociais discutiram questões como a destinação das terras para a expansão da Aracruz, os impactos sociais, culturais e ambientais dessa ampliação, e a pobreza que poderá ser gerada no local – a exemplo do que aconteceu em Conceição da Barra e São Mateus, no norte capixaba.

A audiência pública discutiu o relatório de impacto ambiental apresentado pela Aracruz para a ampliação do plantio de eucalipto nos municípios de Pinheiros, Montanha, Ponto Belo e Mucurici, no projeto chamado “Bloco II”, apresentado Idaf para obtenção do licenciamento ambiental. O plano total compreende quatro blocos, com um total de 17.017,75 hectares pertencentes ao Grupo Simão, que serão explorados durante 14 anos pela Aracruz.

Se essa área fosse destinada à reforma agrária, seria possível assentar mais de 800 famílias que, além de produzir alimentos saudáveis, sem uso de agrotóxicos, poderiam gerar até quatro empregos, chegando a pelo menos 3.200 empregos diretos. Com os eucaliptais, é gerado apenas um posto de trabalho a cada 30 mil hectares, enquanto a agricultura camponesa gera pelo menos um emprego por hectare.

Os estudos ambientais apontaram que parte das terras está dentro dos limites de áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade e do Corredor Ecológico Córrego do Veado, em uma região de Mata Atlântica. Foi, inclusive, constatado por pesquisadores da Associação de Amigos do Museu de Biologia Mello Leitão (Sambio), que a biodiversidade da Reserva Biológica (Rebio) Córrego do Veado, em Pinheiros, sofre ameaça devido à seca permanente da região, impacto decorrente da monocultura do eucalipto e ainda da pecuária extensiva.

Na mesma situação estão, ainda, a Rebio Sooretama, que engloba áreas dos municípios de Linhares, Jaguaré, Sooretama e Vila Valério; e Córrego Grande, em Conceição da Barra. Os pesquisadores classificaram a sub-bacia do Córrego Santo Antônio, que alimenta a Rebio Córrego do Veado, como em situação ‘trágica”.

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