Preste atenção nesta notícia:
Sete pessoas foram vítimas de uma chacina em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, na última quinta (24). Os assassinos, provavelmente milicianos vestidos de preto, portavam pistolas e fuzis e não foram identificados.
Leu? Pois bem, em alguns dias ou semanas você já terá a esquecido e nem vai ouvir falar sobre o caso porque ele acabou soterrado entre tantas outras mortes sem sentido nas grandes cidades e no interior do país.
Vez ou outra um caso é adotado pela mídia ou pelos movimentos sociais e se mantém vivo, servindo de símbolo contra a violência policial ou visando repudiar organizações criminosas. Essa adoção é justa, claro, mas não deve ser encarada como um fim para si mesma e sim um instrumento para alguma coisa. A busca por uma resposta no caso do desaparecimento, tortura e morte de Amarildo serve também como instrumento para fazer Justiça sobre os casos que vieram antes dele, além de garantir que não ocorram outros depois.
Porque há um rosário de gente assassinada ao lutar por seus direitos que permanece anônima. Como anônimo viveu e morreu este trabalhador da foto abaixo que, cansado de lutar contra a servidão que lhe foi imposta, fugiu da fazenda e acabou atingido e enterrado em uma vala comum. A mesma vala comum para onde vão as lideranças sociais ou pessoas comuns que estavam na hora errada e no lugar errado, mas que lá permanecem porque não houve ninguém a denunciar o seu paradeiro ou, mesmo havendo, não conseguiu-se obter a atenção da mídia e do poder público. Este sujeito, apelidado de “Negão Maranhense”, não tinha documentação civil básica, não existia para o Estado. Nasceu e morreu como um fantasma – fantasma que não deixou de dar sua contribuição, pelo suor e pela pedra, ao desenvolvimento econômico da pecuária brasileira. (mais…)