Os questionamentos sobre o que poderia ser visto como racismo na lista de escritores brasileiros na Feira de Frankfurt, levantados pela imprensa alemã deixaram de lado um grande defensor das causas negra e da periferia no Brasil, o escritor Ferréz, um dos autores levados ao maior evento editorial do mundo pelo governo brasileiro.
A imprensa alemã destacou ao longo das últimas semanas que o romancista Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus”, era o único negro da lista – ao que Lins respondeu, em entrevista à reportagem , que “se há racismo não é na seleção de autores, e sim na sociedade, que permite a poucos negros serem escritores, jornalistas, engenheiros ou médicos”.
Hoje, após contar em debate no pavilhão brasileiro que foi confundido na Alemanha com árabe ou judeu, por causa da barba longa e do rabo de cavalo, Ferréz disse à reportagem:
`Sou mais negro que ele [Paulo Lins], falo mais do negro que ele. Ser negro não é só raça ou melanina, é atitude política perante o mundo. Nesse sentido, o Marçal [Aquino] é negro, o Lourenco [Mutarelli] é negro”, disse.
Filho de negro com branca, Ferréz disse não ter se incomodado por ter sido deixado de fora do debate. “Paulo Lins defendeu muito bem a causa.”
Durante o debate, contou que percebeu reações de identificação de minorias étnicas durante a passagem por Frankfurt, quando visitou escolas. “Um menino negro de 17 anos, com a camiseta do [rapper] Tupac, falou pra mim: ‘Respect’. Não precisa nem de tradução, né?”
Ferréz, que acabou de ter contos traduzidos na Alemanha, se surpreendeu ao saber que a letra de seu rap “Judas”, de 2001, vem sendo estudada em escolas alemãs.
“Nem faço mais rap. Acho que ensinam isso para as crianças daqui desistirem da leitura, já que elas não entendem, igual fazem com ‘Memórias Póstumas de Brás Cubas’ no Brasil”, brincou, para um auditório lotado – com a abertura da feira para o público geral, neste final de semana, pela primeira vez o espaço de debates do pavilhão brasileiro se encheu de estrangeiros.