Paulo Lins discursa no encerramento da Feira do Livro de Frankfurt

Escritor Paulo Lins. Foto: Raquel Freitas/G1
Escritor Paulo Lins. Foto: Raquel Freitas/G1

Feira chega ao último dia, mas cultura brasileira permanece na Alemanha. Paralelamente aos debates, exposições artíticas se espalham pela cidade.

Por Raquel Freitas, do G1, em Frankfurt

Depois de mais de cem horas dedicadas à literatura, a Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, chegou ao último dia neste domingo (13). E o escritor Paulo Lins, autor de “Cidade de Deus” e “Desde que o samba é samba”, representa o Brasil, convidado de honra desta edição, no discurso de encerramento. Apesar do fim da presença brasileira no gigantesco centro de convenções que abrigou o evento desde a última semana, a cultura verde e amarela permanece espalhada por ruas e museus da cidade alemã em uma programação paralela.

Ao G1, Lins adiantou sua opinião sobre estas polêmicas. Em relação às biografias não autorizadas, ele se posicionou contrariamente à ideia defendida pelo grupo “Procure Saber”. O grupo, formado por compositores e músicos, defende a remuneração ao biografado ou à família da personalidade objeto do livro. “Acho que tem que liberar tudo, não tem que cercear nada. Está por fora esse papo de controle. Não existe mais isso, isso é coisa antiga. Isso é resquício da ditadura”, declarou.

Outra polêmica que começou antes mesmo da feira desenrolou após a recusa do escritor Paulo Coelho em participar da delegação brasileira. Ele, na ocasião, disse que a lista dos 70 autores que representam o país no evento é preconceituosa, já que existiam apenas um negro, Paulo Lins, e um descendente de índio, Daniel Munduruku.

Sobre estas declarações, Lins esclareceu que a lista dos escritores feita pelo governo do país “reflete racismo porque existem poucos negros inseridos no mercado [editorial]”. Segundo ele, a seleção dos autores mostra o preconceito em geral que há no Brasil, mas não considera a escolha, de fato, preconceituosa. “Porque aqui não é uma feira de representação do Brasil. É uma feira do mercado do Brasil. A maioria dos escritores que vieram para cá têm livros traduzidos para cá. Então era uma seleção de escritores que poderiam ser vendidos na feira. Não é uma apresentação política, é uma representação comercial”, justificou.

Programação paralela

Paralelamente a estas polêmicas do mundo das letras, uma outra programação — da música à arte urbana, passando por inúmeras exposições — ganhou espaço em Frankfurt. Iniciada em agosto, com apresentações de Criolo e Lenine, atrações permanecem até janeiro na cidade.

O cinza que cobriu Frankfurt durante os dias de realização da feira, por exemplo, disputa espaço com as cores de grafites feitos por artistas do Brasil. A fachada da Igreja de Mattheus, localizada a poucos metros do local onde ocorre o evento, ganhou traços do grafiteiro Speto. Criada em 1905, totalmente bombardeada em 1944 durante a Segunda Guerra e reaberta em 1955, o templo agora foi renovada pela arte urbana brasileira.

Além de Speto, outros dez brasileiros espalharam grafites por fachadas de Frankfurt. A exposição Street-Art Brazil pode ser vista até 27 de outubro.

Tunga, Lygia Clark e Hélio Oiticica também são apresentados aos alemães. As obras destes artitas estão reunidadas em uma exposição intitulada “Brasiliana” e organizada pelo Museu Schirn. O trabalho de Oiticica tem espaço ainda no Museu de Arte Moderna de Frankfurt, em uma retrospectiva que engloba todas fases de sua carreira. As duas mostras ficam em cartaz até o próximo ano.

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