Para instituto, atividade de mineradora do Xingu desconsidera população indígena

A mineradora Belo Sun não fez estudo de impactos ambientais sobre as terras indígenas da região Creative Commons
A mineradora Belo Sun não fez estudo de impactos ambientais sobre as terras indígenas da região Creative Commons

Entidade afirma que também há risco de contaminação do solo pelos resíduos da extração de minério de ouro

Por Redação RBA 

O processo de licenciamento da área do Xingu, no Pará, não está sendo feito de maneira adequada pela mineradora canadense Belo Sun, diz o Instituto Socioambiental (ISA). A empresa não fez estudo de impacto sobre as populações indígenas do entorno – há duas terras habitadas por índios a cerca de dez quilômetros da região que será explorada. Além disso, há o risco de contaminação do solo pelos resíduos da extração do minério de ouro.

A região do Xingu já comporta a hidrelétrica Belo Monte, responsável por diversos impactos negativos no local. O ISA fez uma análise técnica dos impactos cumulativos e riscos ambientais da ação da mineradora e de Belo Monte. O estudo foi encaminhado à Secretaria de Meio Ambiente do Pará e ao Ministério Público.

Segundo o advogado Leonardo Amorim, do ISA, em entrevista à Rádio Brasil Atual, os projetos estão no corredor de sociobiodiversidade da região do Xingu, que reúne as áreas protegidas da bacia em que vivem milhares de indígenas e ribeirinhos. A Belo Sun, com o consentimento do governo do Pará, só realizará o estudo de impacto sobre as populações indígenas após três anos de atividade extrativa.

Amorim afirma que, nos próximos dez anos, o ambiente será completamente alterado pela ação da usina de Belo Monte. “Não é possível fazer um estudo de impacto ambiental bem fundamentado sem saber como vai estar o ambiente daqui a pouco tempo. O rio vai ser desviado e isso vai alterar todas as suas características físicas e biológicas, os lençóis freáticos e o regime hídrico da região.”

Isso inviabiliza a produção de um estudo de impacto sobre a mineradora Belo Sun, localizada na mesma área do rio Xingu. “O estudo precisa dizer se o projeto vai ser viável ou não e o que deve ser feito para diminuir os impactos da mineração”, reforça.

Contaminação

A atuação da mineradora envolverá a exploração de uma jazida de minério de ouro, o que ocasionará na abertura de uma mina a céu aberto. Para que isso seja feito, o ISA afirma que o material será retirado com explosões que deixarão uma série de resíduos químicos na terra do local. “À medida que a mina vai sendo aberta, a terra é tirada e depositada em uma montanha chamada pilha de estéril”, diz o advogado.

A pilha de estéril é composta pela terra que já foi processada – em que não há mais ouro – e que será jogada fora. Essa montanha ficará no local da mina para sempre. Segundo Amorim, o risco da formação da pilha para a região é que “seus materiais químicos correm o risco de vazar para o lençol freático ou, a depender do regime de chuva, para o próprio rio Xingu”.

A área do Xingu fica na Amazônia, e é bastante chuvosa durante todo o ano. Dessa forma, as tradicionais técnicas de impermeabilização da pilha podem não ser eficazes. O ISA ressalta que o material que será revirado apresenta um volume de terra equivalente a duas vezes o volume do morro do Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.

Outro passivo ambiental que poderá ser causado pelo projeto é o rompimento da barragem de rejeitos. Essa estrutura retém os resíduos sólidos e a água do processo de beneficiamento de minério. Para Amorim, o dimensionamento não está sendo feito corretamente no licenciamento ambiental. O tamanho da barragem deve corresponder à quantidade específica de ouro encontrado na região.

“O estudo de impacto da Belo Sun calculou uma quantidade de minério e, desde que ele foi apresentado no início do ano passado, até hoje, eles já dobraram a quantidade de minério de ouro que eles encontrariam na região. O problema é que eles deveriam dobrar o tamanho da barragem de rejeitos e isso não foi feito”, ressalta o advogado.

Ouça aqui a reportagem completa de Marilu Cabañas.

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