Confiantes na fama de celeiro do Noroeste, famílias que deixaram terras áridas em busca de vida melhor na região são vítimas do avanço da desertificação
Mateus Parreiras, em EM
Dom Bosco – Foi com muito sofrimento que o lavrador Wellington Inácio Siqueira, de 30 anos, aprendeu como sobreviver à aridez da estiagem do Norte de Minas, entre as cidades de São Francisco e Pintópolis, onde o gado magro engana a fome comendo cactos de palma picada e a água viaja em baldes na cabeça do sertanejo ou no lombo de jegues. Logo cedo ele se tornou chefe de família, aos 15 anos – o que é comum naquelas bandas. Foi quando nasceu Camila, sua primogênita. Wellington procurou emprego fixo nas fazendas e engenhos, mas a pouca idade e as dificuldades que a seca impunha aos fazendeiros o fizeram tomar o rumo dos flagelados do semiárido. Com três filhos e a mulher, deixou a terra natal e seguiu estrada afora, sujeitando-se a trabalhos temporários, de sol a sol, em péssimas condições de alojamento e alimentação. “Ganhava mal e trabalhava muito, mas só assim trazia o pão e o feijão para casa”, lembra. A família passou seis anos vivendo à beira de rodovias, até que uma notícia lhes trouxe esperanças de sair da miséria. Foram selecionados para o Assentamento Novo Progresso, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), no município de Dom Bosco, no Noroeste do estado. (mais…)