Washington Novaes* – O Estado de S.Paulo
Durante a Semana da Água, há poucos dias, a ONU lembrou que 2,4 bilhões de pessoas no mundo vivem sem saneamento. E cerca de 80% da “água residual” de assentamentos humanos ou fontes industriais é despejada sem tratamento e “contamina oceanos, lagos e rios”. Com o abastecimento e o saneamento inadequados, ocorre uma “perda econômica de US$ 260 bilhões em gastos com saúde e menor produtividade no trabalho”. Nesses mesmos dias, os jornais brasileiros informavam que uma das bacias mais importantes do Brasil – a do Rio Doce, em Minas Gerais e no Espírito Santo – sofre os impactos da degradação ambiental; sua vazão tende a tornar-se insuficiente para atender às atividades econômicas na região (Valor, 3/9), incluídas as de mineradoras e até hidrelétricas. No médio Rio Doce, a pecuária também está afetada, com pastagens que já não podem receber mais de meia cabeça de gado por hectare (já receberam uma média de quatro cabeças por hectare).
Certamente uma das razões da perda de vazão do rio estará no desmatamento de áreas do Cerrado e na perda da água acumulada no subsolo desse bioma. O desmatamento já chegou, em todo o Cerrado, a perto de 50% da área total. A compactação do solo resultante, assim como problemas na área do clima, levaram técnicos do Ministério do Meio Ambiente a estimar, há quase uma década, que o volume de água no subsolo – que antes gerava o fluxo de 14% das águas brasileiras que correm para as três grandes bacias (Amazônica, do São Francisco e do Paraná) e era suficiente para sete anos – caíra para três anos. E o desmatamento prossegue, inclusive com a política de ampliação da área de plantio da cana-de-açúcar. (mais…)