“A Prefeitura pretende realizar a referida obra devastando uma porção do já tão castigado Parque do Cocó”
Arnaldo Fernandes* – O Povo Online
Sísifo é um personagem da mitologia grega que, segundo consta de sua história, foi condenado a uma das mais cruéis penas de que se tem notícia por desagradar o Olimpo. A pena consistia em rolar uma grande pedra até o topo de uma montanha, sendo que, sempre estivesse quase chegando no cume, uma força irresistível fazia com que a pedra rolasse montanha abaixo até o ponto de partida, o que o obrigava a reiniciar a penosa tarefa.
Pois bem, o absurdo representado no castigo imposto a Sísifo é, simbolicamente, equivalente à histórica demanda pela criação legal do Parque do Cocó enquanto Unidade de Conservação de Proteção Integral. Essa luta que parece não ter fim se arrasta há cerca de 30 anos, sendo que a situação de falta de definição legal acerca da criação do Parque (que até hoje existe somente de fato) ocasiona fortalecimento da especulação imobiliária e outras formas de pressão sobre aquela que é a maior e mais importante área verde de Fortaleza.
A propósito, atualmente existe uma grande polêmica acerca da proposta de construção de um conjunto de viadutos no cruzamento das avenidas Engenheiro Santana Júnior e Antonio Sales. No caso, a Prefeitura (apoiada pelo Governo do Estado) pretende realizar a referida obra devastando uma porção do já tão castigado Parque do Cocó.
Além de representar mais uma ameaça de supressão de área do Parque (Zona de Proteção Ambiental – ZPA, no Plano Diretor Participativo do município), o absurdo da proposta de obra acima referida também consiste no fato de que o prefeito se recusa a abrir um debate público de alternativas ao ‘projeto oficial’.
Tamanha é a contradição do Prefeito de Fortaleza neste episódio que, em reunião realizada na Câmara Municipal no dia 1º/8/2013, ele afirmou que ‘não tem problema de reconhecer erros, desde que seja provado que errou’ e que ‘tem convicção de que está defendendo a melhor proposta’. Ora, por que, então, não suspende a obra por prazo razoável para que o povo de Fortaleza (que segundo as Constituições Federal, Estadual e a Lei Orgânica do Município é o detentor de todo o poder: princípio da soberania popular) possa discutir as propostas e decidir qual considera mais adequada?
Diante de tal situação, a população de Fortaleza cada vez mais tem unificado em todo de uma palavra de ordem fundamental: legalização do Parque do Cocó já.
*Advogado e membro do SOS Cocó.
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Enviada para GT Combate ao Racismo Ambiental por Rodrigo de Medeiros Silva.