Thais Leitão* – Enviada Especial da Agência Brasil/EBC
Rio Preto da Eva (AM) – Os 570 índios que vivem no território Beija-Flor, no município de Rio Preto da Eva, a 80 quilômetros da capital amazonense, recebem, em média, duas vezes por mês a visita da equipe de saúde ligada ao Distrito Sanitário Especial Indígena de Manaus, estrutura do Ministério da Saúde. Nas aldeias, os profissionais não médicos como enfermeiros, técnicos em enfermagem e agentes de saúde, pesam e medem as crianças e verificam as condições gerais dos moradores como sintomas de alguma doença e se têm vermes. Já o médico, que passa cinco dias por mês na comunidade, faz consultas e, quando necessário, pedidos de exames.
Alguns casos, no entanto, precisam ser tratados no Polo Base, localizado em uma área central do território indígena, que funciona como a primeira referência para as equipes multidisciplinares que atuam nas aldeias. A estrutura, segundo quem trabalha no local, não é adequada. Em um imóvel de apenas dois cômodos moram duas enfermeiras – que se revezam em plantões de 20 dias – e uma técnica de enfermagem. Elas dividem o único quarto do imóvel.
O outro cômodo é uma espécie de sala multiuso, onde são feitos atendimentos. Nele também ficam armazenados os medicamentos em uma estante de madeira com isolamento improvisado feito com cortina de TNT – um tipo de pano -, próxima à área que funciona como cozinha.
Segundo a enfermeira Eliane Araújo, há cerca de um mês, a índia da etnia Sateré-Mawé, Francinete de Oliveira Cidade, 18 anos, deu à luz na cama da enfermeira. Sentindo fortes dores, ela chegou ao polo ainda de madrugada. Sem ter onde colocar a jovem, a enfermeira pediu que ela se deitasse em sua cama enquanto ligava para o hospital do município para definir os procedimentos. Antes que terminasse a ligação, a criança nasceu.
“Eu já estava sentindo muitas dores há algum tempo e corri para cá. Ela me mandou deitar ali na cama, mas não deu tempo de quase nada. O bebê nasceu muito rápido”, disse Francinete.
“Aqui, a gente não tem estrutura para atender, mas atende o que chegar. Só que não temos uma sala para fazer atendimento de enfermagem, não temos maca ou um local para deixar o paciente em observação após administrar uma medicação forte, por exemplo”, disse a enfermeira Elaine Araújo. “O ideal seria que tivéssemos, além disso, ao menos, um laboratório para fazer exames de sangue, urina e fezes”, acrescentou à Agência Brasil.
Em sua avaliação, o tempo de permanência do médico na região – cinco dias por mês – não é curto, porque, sem estrutura, não teria muito o que fazer. “Nesse polo, a presença de um médico não teria muito sentido porque ele não teria nem lugar para ficar. Ter médico e não ter equipamento, não adiantaria”, destacou, ressaltando que um novo polo, mais moderno e mais bem equipado, deve ser construído na região em 2015.
Já o coordenador-geral das aldeias do território Beija-Flor, o índio Francisco Pinto da Silva, da etnia Sateré-Mawé os cinco dias de permanência do médico não são suficientes para atender toda a demanda das aldeias, mas reconhece que a unidade não tem estrutura adequada para uma estadia maior do profissional.
“Esse tempo de permanência do médico na aldeia não é suficiente, porque quando ele sai ainda fica muita gente [sem atendimento], quem chega depois para encaminhamento [para exame] ou para receita, acaba não sendo atendido. O ideal seria que tivéssemos o médico por uns dez ou 15 dias”, disse Francisco.
De acordo com a equipe de saúde que atua no local, os casos mais comuns entre os índios das aldeias do território Beija-Flor são picada de cobra, em que o paciente é encaminhado diretamente ao hospital da região, e malária. Quando há suspeita da doença, é possível fazer o teste rápido no polo, que possui o kit necessário. Se o resultado for positivo, os profissionais pegam a medicação na unidade hospitalar de Rio Preto da Eva e levam para o paciente, que não precisa deixar a aldeia.
Fora do território, a doença também é comum. A empregada doméstica Francisca Pinto da Silva, 50 anos, moradora de Rio Preto da Eva, já teve crises de malária cinco vezes. Em todas elas, disse que foi atendida nas unidades de saúde do município e recebeu a medicação. “Eles me atenderam bem todas as vezes e fiquei boa, graças a Deus”, disse.
Os distritos sanitários especiais indígenas estão localizados em uma área que vai desde a região metropolitana da capital amazonense até o centro-leste do estado. No distrito, segundo dados do Ministério da Saúde, 24.064 indígenas são atendidos. A etnia de maior população é a Mura.
*Edição: Marcos Chagas