Equipamentos deteriorados, falta de médico, e de saneamento afetam saúde de quilombolas

ABr010813MCA_9922Thais Leitão* – Enviada Especial da Agência Brasil/EBC

Itapecuru-Mirim (MA) – A dona de casa Maria da Anunciação Ferreira, 64 anos, mora em uma comunidade quilombola na zona rual de Itapecuru-Mirim, no Maranhão. A casa onde vive com a família tem paredes de taipa e telhado de palha de babaçu. O banheiro, também de palha, fica fora da casa. Sem nenhum tipo de saneamento básico, a água vem de uma mangueira do poço de um vizinho.

“Ele mandou cavar o poço, aí tem um motorzinho que puxa a água. Ainda hoje ele não encheu e a caixa está até seca”, disse, apontando para a caixa d´água instalada atrás da casa, no espaço de chão de terra batida, usado para os banhos da família.

As condições em que vive a ex-lavradora não são raras no município, localizado a 120 quilômetros da capital São Luís. Já na entrada da cidade é possível ver diversas casas semelhantes, também feitas com taipa e palha de buriti, sem abastecimento de água ou rede coletora de esgoto. De acordo com servidor da prefeitura, está em andamento um projeto para levar esgotamento sanitário a todas as áreas do município. Segundo a Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema), a obra está sendo feita com recursos do Projeto de Aceleração do Crescimento (PAC) 2 e deve ser concluída em 2014. Atualmente, o esgoto bruto é lançado por meio de fossas sépticas diretamente no solo.

O aspecto insalubre das moradias, principalmente na área rural do município, não é a única ameaça à saúde da população. Na Unidade Básica de Saúde (UBS) que atende a mesma comunidade, conhecida como Santa Rita dos Pretos, faltam medicamentos e os equipamentos estão deteriorados. A maca ginecológica está enferrujada e o armário onde se guardam lençóis e toalhas está empenado e também tem marcas de ferrugem. Um cartaz é usado para vedar parcialmente as gavetas, na tentativa de evitar a entrada de poeira pelas frestas.

“Aqui falta é muita coisa, como uma estrutura maior. O médico só vem uma vez por mês, mas quando ele está aqui para fazer os atendimentos ele usa essa salinha pequena, a enfermeira usa a outra e a gente tem que fazer a medicação em pé, no paciente, no banheiro”, contou a técnica em enfermagem, Joviliana do Livramento Pires.

A lavradora Maria dos Santos Aragão, 60 anos, chegou ao posto com a pressão um pouco alterada, conforme constatou a técnica mas, sem o medicamento disponível, voltou para casa para “fazer um chá”.

“Minha cabeça está doendo e por isso vim aqui para ver se era pressão. Mas não tem o remédio, vou ter que ir para casa fazer um chazinho de cidreira mesmo para ver se diminui”, disse Maria.

A reportagem não conseguiu contato com a Secretaria de Saúde de Itapecuru-Mirim enquanto esteve na cidade. Apesar de ter marcado entrevista com o prefeito da cidade, Magno Amorim, ele não compareceu ao local marcado, no caso, uma churrascaria do município. A reportagem também tentou ouvir a versão do prefeito e da secretária de Saúde, Flávia Bezerra, por telefone – fixo e celular – não foi atendida e não obteve retorno.

De acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Itapecuru-Mirim ocupa a 4.167ª posição entre os 5.565 municípios brasileiros no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, divulgado no mês passado. O indicador (0,599), classificado como baixo, leva em conta renda, longevidade e educação.

*Edição: Marcos Chagas

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