Quando mestre de literatura no colegial, nos anos 1960 e 70, Alfredo Bosi oferecia Camões aos alunos. E recebia em troca Gigantes Adamastores empoleirados nas cadeiras, recitando estrofes completas do poeta português. Era sua voz contra a “pedagogia da preguiça”, que dava o mínimo do mínimo à juventude, quando ela estava pronta para o máximo.
Professor há quatro décadas na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, ele continua num traçado pessoal pela qualidade do ensino. Daí sua preocupação com o resultado do último Índice de Desenvolvimento Humano das cidades brasileiras, que aponta a educação como a bigorna a puxar o índice para baixo.
Não é questão de distribuir kits e comprar mais computadores. Nem de sair às ruas pedindo Mais Professores, nos moldes do Mais Médicos. Para ele, falta valorizar econômica, social e culturalmente a profissão que seus alunos da faculdade não querem mais seguir. “O punctum ainda é o desestímulo sofrido pelo professor pelo excesso de trabalho, quase sempre em mais de uma escola, e pela angustiante falta de tempo para preparar as aulas e acompanhar de perto o aproveitamento dos alunos.” Sem retorno, eles preferem trabalhar em empresas, laboratórios ou em pesquisa avançada. Não aceitam ser proletários do giz e da lousa. Ou do pincel atômico e do power point, que seja. (mais…)