O jornalista Fernando Soares, de 39 anos, que foi espancado num bar na Lapa no domingo, diz ter sido mais uma vítima de preconceito sexual
Vera Araújo, O Globo
O que aconteceu com você na Lapa?
A gente foi a um barzinho, na esquina das ruas do Riachuelo e do Resende, no último domingo, para comemorar o aniversário de um amigo. Lá, tinha sinuca e um quarto fechado onde as pessoas podiam participar do karaokê. Eu saí para ir ao banheiro e, quando voltei, três rapazes bem fortes e musculosos estavam sentados perto da porta. Eles diziam que não toleravam veadagem, e um deles me chamou de veadinho. Olhei para ele e falei assim: “Olha, que preconceito é esse?”. Eles já levantaram me socando. A partir daí, eu já não vi mais nada. Caí, bati com a cabeça e desmaiei. Fui levado pelos amigos para um hospital.
Você já frequentava esse local?
Não. Foi a primeira vez que estive nesse bar.
Você acha que eles fazem parte de algum grupo homofóbico?
Não tenho a menor ideia. Eu tive contato com eles por menos de cinco minutos. Foi tudo muito rápido. Foi tudo surpreendente para mim. Não esperava que isso pudesse acontecer algum dia.
Você foi se divertir com os amigos e acontece isso. Como você vê a situação?
Acho tudo muito ruim. As pessoas não podem ser intolerantes umas com as outras. Elas não podem desrespeitar quem quer que seja. Eu queria só pedir que eles respeitassem meus amigos.
Você é gay?
Não, mas respeito todos e não tolero a homofobia. Sou militante social, defendi os índios da Aldeia Maracanã. Respeito negros, homossexuais, enfim, todos.
Alguns dos amigos que estavam com você no bar eram homossexuais?
Sim. Acho um absurdo as pessoas se acharem donas do lugar. Não pode ter espaço só para heterossexuais, ou só para gays. Isso não existe.
Qual a lição que você tira do lamentável episódio?
Muita coisa precisa ser feita. A sociedade precisa se mobilizar para melhorar o Brasil. Assim como aconteceu comigo, pode acontecer com outras pessoas, principalmente se for homossexual, negro, índio ou nordestino. Estamos atrasados, apesar de estarmos em pleno século XXI.
Você vai à polícia fazer o registro?
Meus amigos já foram lá. A polícia esteve aqui, mas pretendo ir até o fim das investigações do caso. Esse grupo precisa ser identificado para não agir de novo.
O que é preciso para que casos como o ocorrido com você não aconteçam mais?
Acho que os nossos legisladores precisam criar leis mais duras contra a homofobia e qualquer tipo de preconceito.
Como está sua saúde?
Tive uma concussão cerebral. Fraturei a mandíbula e vou fazer a terceira tomografia, pois ainda sinto muita dor de cabeça. Estou um pouco atordoado com isso tudo, mas o que mais dói é a intolerância das pessoas.
Quando vai receber alta do hospital (municipal Miguel Couto)?
Os médicos estão avaliando. Antes de vir para cá, fui à UPA de Botafogo, mas não tinha aparelhagem e me mandaram para casa. Passei mal na casa de amigos e eles me trouxeram. Aí descobriram que eu não estava legal. A situação da saúde também é complicada. Acho que passo o fim de semana em casa.
Você vai continuar abraçando as causas sociais?
Agora, mais do que nunca.
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Enviada por Mônica Lima.