
Por Gleice Oliveira
No dia em que se comemorava a abolição da escravidão legal no País, a BBC Brasil trouxe a matéria “Após ação afirmativa, negros enfrentam preconceito na universidade e no trabalho”. Nela, o jornalista Caio Quero trata do livro “Afrocidadanização – Ações Afirmativas e Trajetórias de Vida no Rio de Janeiro”, de Reinaldo da Silva Guimarães.
A obra destaca os primeiros beneficiados por um programa de ação afirmativa no país, promovido pela PUC-RJ, em 1994. Os depoimentos dos entrevistados ajudam a entender o peculiar racismo brasileiro, cheio de ataques rasteiros.
É o caso da jornalista Luciana Barreto. Hoje, ela é âncora da emissora pública TV Brasil, mas enfrenta questionamentos do tipo:
Ah, você está no vídeo porque é negra, porque eles precisam de alguém negro.
Outro depoimento é da advogada Miracema Alves dos Santos:
Às vezes eu converso com meus colegas brancos sobre situações que eu passo e eles dizem: “ah, mas pode não ter sido preconceito”. É, realmente pode não ter sido, mas quando você é negro, você sente a diferença, porque é com você.
Ou seja, há sempre uma forma para o preconceito se manifestar. E ele fica mais pesado em posições consideradas de prestígio. Como o autor do livro diz:
Nos espaços de poder e visibilidade é onde você encontra menos negros, mesmo os que já estão qualificados.
Todas as pesquisas confirmam isso. Negros em postos de comando continuam ser raros. Como dizia Florestan, o racismo brasileiro afirma não incomodar os negros, desde que eles saibam ficar no seu lugar.