Ascensão da mulher negra passa pela conquista de autonomia

Seminário de São Paulo foi o quarto da série de debates promovidos pela SEPPIR em comemoração aos 10 anos do órgão e etapa preparatória da III CONAPIR
Seminário de São Paulo foi o quarto da série de debates promovidos pela SEPPIR em comemoração aos 10 anos do órgão e etapa preparatória da III CONAPIR

Abordagem foi feita no Seminário Temático de São Paulo, dentro da série de debates promovidos pela SEPPIR como parte da programação em comemoração aos 10 anos do órgão e etapa preparatória da III CONAPIR

SEPPIR – A combinação de ações afirmativas nas empresas, educação profissionalizante e incentivo ao empreendedorismo é virtuosa para a ascensão de mulheres negras até que sejam superados gargalos históricos colocados para o segmento. A conclusão é da doutora em Educação pela USP, Sueli Carneiro, palestrante do Seminário “Desenvolvimento e Mulher Negra”, realizado na Associação dos Advogados de São Paulo (AASP), na última terça-feira (07/05).

O debate foi o quarto da série realizada pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR), com foco na III Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, a III CONAPIR, que acontece de 5 a 7 de novembro, em Brasília, com o tema Democracia e Desenvolvimento por um Brasil Afirmativo. Os próximos serão em Belém do Pará (17/05), sobre Territórios Tradicionais Negros: Desenvolvimento e Enfrentamento ao Racismo; e Porto Alegre (24/05), com o tema Oportunidades para a Juventude Negra.

A importância do tema, de acordo com a Ministra da SEPPIR, Luiza Bairros, está relacionada à análise que coloca a população negra como grupo mais favorecido no processo de ascensão econômica do país nos últimos anos. “O mais interessante é que a mulher negra, que experimentou mais desvantagens, teve uma capacidade maior de se apropriar das oportunidades criadas na sociedade, o que se configura como um paradoxo desse processo de desenvolvimento que vivemos”, destacou.

Segundo a ministra, a solução desse paradoxo seria, para o governo e para a sociedade civil, uma chave para entender outras contradições que colocam a população negra em condições de desigualdade no modelo de desenvolvimento vigente. “Isso traz para nós uma possibilidade de reflexão muito importante, porque, quando se observa os grandes números, as desigualdades raciais ainda permanecem, estão fortes. E a mulher negra, olhada no seu conjunto, continua sendo parte do segmento que experimenta mais desvantagens na população brasileira”, disse.

Medidas estruturantes
A saída para a deputada Federal Janete Pietá (PT-SP), está na adoção de medidas estruturantes em substituição às ’políticas assistencialistas’. “Queremos muito mais do que tirar 40 milhões de pessoas da miséria”, declarou a parlamentar, que foi debatedora junto com a deputada Estadual Lecy Brandão (PCdoB-SP), que falou sobre violência contra a mulher, respeito às tradições de matriz africana, e a baixa representatividade da mulher negra, destacando-se como segunda parlamentar negra da Assembleia de seu estado.

Pietá ratificou a fala de Sueli Carneiro em relação à importância da democratização da comunicação para a superação das desigualdades, afirmando concordar com a palestrante sobre a necessidade de mudanças na correlação de forças com os meios de comunicação.

O assunto também foi abordado pela blogueira e coordenadora-geral do Centro de Referência de Cultura da Mulher Negra de Minas Gerais, Mônica Aguiar, que retomou outra discussão trazida por Sueli Carneiro sobre protagonismo da mulher negra. “Somos ainda uma parcela invisibilizada, mas somos fundamentais para a conquista de direitos em pautas como o combate ao racismo, trabalho e renda, oportunidade e igualdade de direitos, pautas que mexem com conceitos obsoletos do país”, disse.

Conferência
Membro do Conselho Nacional de Promoção da Igualdade Racial – CNPIR, Julião Vieira destacou que a SEPPIR e o CNPIR acertaram no temário da III CONAPIR porque, em seu entendimento, para eliminar o racismo as ações já implementadas são insuficientes. “A democracia é extremamente importante. Primeiro, porque nossa representação é pouca no espaço democrático e de decisão político. E a questão do desenvolvimento está na ordem do dia. Portanto, temos que decidir que tipo de desenvolvimento queremos em relação ao mercado de trabalho, às riqueza nacionais, e nós, do movimento negro, pouco debatemos sobre isso”, disse.

O secretário de Igualdade Racial de São Paulo, Netinho de Paula, também participou da mesa de abertura, que contou ainda com a presença da secretária de Justiça e Defesa da Cidadania, Eloísa de Sousa Arruda, a ghdesembargadora Angélica Maria Mello de Almeida, representando o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, e do presidente da AASP, Sério Rosenthal.

À tarde, a palestra ficou por conta da socióloga Guacira César de Oliveira, do Colegiado de Gestão do Centro Feminista de Estudos e Assessoria – CFEMEA.  As debatedoras foram a subsecretária de Igualdade Racial do Município de São Paulo, Matilde Ribeiro, e a secretária Executiva da Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, Lourdes Bandeira.

“As desigualdades raciais, o racismo tem várias formas de se manifestar. Ele não se renova, se modifica”, afirmou Lourdes Bandeira, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, segundo a qual essa revelação do racismo se dá, por exemplo, no recrutamento para o mercado de trabalho; nos critérios de seleção que eliminam pela condição racial; nas práticas de xenofobia; nas formas de acesso e de promoção. “Tudo isso, produz diferenças microssociais”, afirmou.

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