Comunicado Final: Encontro da Rede Amazônica do Oriente Equatoriano

Cimi

1.- A Igreja católica, que vive no Oriente Equatoriano, acompanhada pelo Departamento de Justiça e Solidariedade do CELAM, junto a missionários de outros países irmãos e representantes de organizações fraternas, preocupada pelo progressivo deterioro da Amazônia e das suas culturas tradicionais, tem-se reunido em Puyo, do 22 ao 24 de abril, para defender a vida e aos povos amazônicos ameaçados.

2.- Os Vicariatos (=Prelazias) de Sucumbíos, Aguarico, Napo, Puyo, MéndezeZamora, presididos pelos seus bispos, acompanhados pela Pastoral Social Cáritas Equador, iniciaram faz dois anos um processo de reflexão para conhecer melhor a nossa realidade, partilhar as nossas preocupações, buscando respostas e caminhos eficazes para promover um modo de vida compatível com a defesa dos povos e comunidades amazônicas em toda sua diversidade. Temos aprendido muito desta experiência valiosa que queremos fortalecer e desenvolves nos próximos anos, partilhando ações significativas que apontem caminhos de futuro.

3.- Desde o concílio Vaticano II, que nos pede proteger a criação como mandato do Senhor, a preocupação pela natureza está se manifestando cada vez com maior força e clareza nas nossas comunidades cristãs.

– O Papa Bento XVI, no discurso de 2007 aos jovens em São Paulo, denunciou a “devastação ambiental da Amazônia e as ameaças à dignidade humana dos seus povos” (Aparecida n. 85).

– O documento da V Conferência dos bispos latino-americanos, reunidos em Aparecida, assinala que: “nas decisões sobre as riquezas da biodiversidade e da natureza, as populações tradicionais tem sido praticamente excluídas” (Aparecida n. 84).

– Os Bispos do Equador, num documento do ano passado, afirmam que “o compromisso de cuidar o nosso planeta nos convida a buscar todos os meios possíveis para mitigar os impactos sociais e ambientais,… particularmente das explorações petroleiras e minerais” (“Crescer na fé, cuidar o nosso planeta”).

– O Sínodo dos Bispos de 2012, nos lembra que o cuidado da criação “manifesta a solidariedade inter-generacional com aqueles que vêm depois de nós (Sínodo 2012, n. 56).

– Finalmente, destacamos um recente chamado à ação do Papa Francisco, com estas palavras: “Quero pedir, por favor, a todos os que ocupam postos de responsabilidade no âmbito econômico, político ou social, a todos os homens e mulheres de boa vontade: Sejamos zeladores da criação, do desígnio de Deus inscrito na natureza, guardiães do outro, do meio ambiente; não deixemos que os sinais de destruição e de morte acompanhem o nosso caminhar… Quando não nos preocupamos pela criação e pelos irmãos… Quando não nos preocupamos pela criação e pelos irmãos, então a destruição ganha terreno e o coração vira árido” (Homilia na Missa do início do pontificado, 19 de março do 2013).

4.- Tanto a Constituição equatoriana, como as políticas públicas e as normas que vem-se desenvolvendo sob o seu amparo, constituem, em princípio, um marco favorável para promover a defesa da natureza e do bom viver da cidadania e dos povos. Constatamos, porém, que o ecossistema amazônico equatoriano, já muito debilitado, corre um grave risco de deterioro irreversível como consequência dos novos projetos de produção petroleira e mineira. Isto tem importantes consequências, não apenas para o ecossistema, mas também para a vida dos povos amazônicos e suas culturas. Fatos como as recentes e trágicas mortes nas comunidades Waorani e Taromenane, somadas a outras que tem vindo a acontecer de camponeses e trabalhadores na mesma zona, nos indicam que os direitos, formalmente reconhecidos, não são suficientemente protegidos. Não estamos sendo capazes de defender a vida dos povos não-contatados e daqueles que os rodeiam. Denunciamos a falta de investigação sobre muitos destes fatos de violência, a ausência de um controle efetivo de armas, e o fracasso das medidas cautelares adotadas para defender estes povos e buscar caminhos de diálogo e convivência pacífica.

5.- Como Igreja, queremos seguir anunciando ao Deus Criador e Salvador, garantia da vida de todos os povos, que bendiz aos construtores da paz neste complexo contexto amazônico. Aspiramos a que esta ação coordenada que começa florescer no Equador, acompanhada por agentes de pastoral de outros países irmãos, possa logo articular-se numa rede eclesial Pan-amazônica que, pouco a pouco, procure sua própria linguagem, e seja capaz de definir, desde a inspiração evangélica, propostas alternativas aos atuais modelos de desenvolvimento em Latino-América.

6.- “Custodiar a criação, cada homem e cada mulher, com um olhar de ternura e de amor, é abrir uma fenda de luz no meio de tantas nuvens escuras, é levar o calor da esperança” (Papa Francisco). Acolhemos este convite do Papa para sermos zeladores da natureza e das suas criaturas, e fazemos uma chamada urgente para buscar caminhos de convivência pacífica entre todos os povos e habitantes da Amazônia. Pedimos que se detenha este sangue na floresta, causado por pressões de todo tipo e por poderosos interesses para os quais os povos desprotegidos são meros obstáculos para o mal chamado desenvolvimento.

7.- Animamos às comunidades indígenas a valorarem suas identidades e as defendam, unificando esforços para contrabalançar as divisões e confrontos que nos debilitam. Urgimos às nossas autoridades a buscarem caminhos de paz e convivência que só podem ser construídos sobre a procura da verdade e o compromisso de proteger os direitos dos povos mais débeis. Necessitamos recuperar a reverência por toda a criação. Precisamos reaprender que somos parte dela e que ela é parte essencial de nós. Queremos viver de outra maneira, de um modo mais respeitoso com nosso entorno, e poder renovar assim a nossa fé naquele grande projeto de Deus, que fez tudo e viu que tudo era bom. Assim temos recebido este mundo e assim o queremos custodiar.

146 irmãs e irmãos, participantes do Encontro da Rede Eclesial Amazônica, vindos de 12 países, reunidos em Puyo, do 22 ao 24 de abril de 2013.

Monsenhor (Dom) Jesús Sádaba
+ Bispo Vicario Apostólico de Agurarico
Representando os Bispos Vicarios Apostólicos do Oriente Equatoriano

Monsenhor (Dom) Julio Parrilla Díaz
+ Bispo de Riobamba
+ Administrador Apostólico de Loja
Presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social
Representando a Pastoral Social Cáritas Equador

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