Criança branca pintada de índio, fazendo sons de Western gringo, em escola de classe média alta é hype. Criança índia desterrada, esmolando no semáforo, é kitsch. Índio só é fofo se vem embalado para consumo
Dia do Índio se tornar escravo em fazenda de cana no Mato Grosso do Sul; de ser convencido que precisa dar sua cota de sacrifício pelo PAC e não questionar quando chega a nota de despejo em nome de hidrelétricas com estudo de impacto ambiental meia-boca; de armar um barraco de lona na beira da estrada porque foi expulso de sua terra por um grileiro; de ver seus filhos desnutridos passarem fome porque a área em que seu povo produziria alimentos foi entregue a um fazendeiro amigo do rei e da rainha; de ser queimado em banco de ponto de ônibus porque foi confundido com um “mendigo”; de ser chamado de indolente porque não se ajoelha ao capitalism; de ter negado o corpo de filhos assassinados em conflitos pela terra porque o Estado não faz seu trabalho; de se tornar exposição no zoológico da maior cidade do país como se fosse bichinho; de ser retratado como praga em outdoor no Sul da Bahia por atravancar o progresso; de tomar porrada na Bolívia, no Paraguai, na Colômbia, no Peru, no Equador, no Chile, na Argentina, na Venezuela só porque é índio; de ser motivo de medo de atriz de TV, que acha que um direito de propriedade fraudulento está acima do direito à dignidade; de entender que a invasão de nossas fronteiras é iminente e, por isso, precisa deixar suas terras para dar lugar a fazendas; de sofrer preconceito por seus olhos amendoados, sua pele morena, sua cultura, suas crenças e tradições; de se lembrar de quem manda e quem obedece e parar com esses protestos e ocupações de terra idiotas que pipocam aqui e ali.
Ou será que nós, os homens de bem, vamos precisar de outros 513 anos para amansar esse povo?